XXXIII -Dave

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Gente, esse é o penúltimo capítulo do livro 3!

Espero que curtam (:

O vermelho da sala do rei deveria ser apenas do veludo. Mas o vermelho estava manchado de vermelho. Tabata não precisava de armas para matar. Não precisava derramar sangue. Mas ela se divertia. No salão principal havia dezoito corpos sujando o chão, Dave contou-os. Ele não se lembrava de nenhum daqueles rostos. Todas eram mulheres com o uniforme feminino do Castelo de Vidro. Os ferimentos eram cortes de faca por todo o abdômem e pescoço. Elas formavam uma espécie macabra de trilha para a esquerda, seguindo pelo corredor do Castelo de Vidro. A próxima sala era a cheia de espelhos. Havia mais mortos ali, e coisas escritas com sangue nos espelhos. "Dave Fellows", "Rainha" e "Coroa" estavam marcados, refletindo um milhão de vezes entre os espelhos e forçando Dave a ler aquilo conforme andava. Ele apertou a pedra de Mata-Touro quando passou para o pequeno corredor que vinha a seguir. À direita estava o pequeno jardim onde a rainha Thaís fora enterrada. A porta de vidro estava manchada de sangue e marcas de mão. Era tanto sangue que Dave estava ficando enjoado. À esquerda, a porta da sala dos tronos estava encostada, com uma fresta pequena aberta. Ele não sabia como conseguia pensar racionalmente sob a circunstância em que sua marca se encontrava. Provavelmente tinha algo a ver com os corpos de pessoas aterrorizadas no chão. Ele empurrou a porta de madeira com a espada.

As lâmparinas penduradas nas paredes estavam iluminando tudo com muita dificuldade. Os tronos estavam todos em seus lugares, vazios. Mas a cena que Dave encontrou era pior do que um pesadelo. O primeiro corpo que jazia sem dignidade alguma era Lawrence. O velho estava estirado no chão, com a mão apontando para os tronos gêmeos de ouro do rei e da rainha. Sua prancheta estava sendo segurada pela outra mão, com as folhas espalhadas pelo chão e seu sangue manchando boa pare delas. Sentado no trono do rei estava o próprio, com uma bela adaga de prata com o cabo encrustrado de ametistas roxas cravado em seu peito. Sua cabeça estava caída para o lado, quase completamente separada de seu pescoço. O manto que ele usava era seu favorito. Um presente de Francis feito a mão. Tecido vermelho, detalhes em dourado e plumas brancas, tudo respingado de escarlate. A coroa não repousava em sua cabeça, então seus fios brancos caíam em seu rosto sem vida. Thaila estava amarrada pelos pulsos e pela cintura aos tronos. Suas mãos estavam lambuzadas com líquido que sujava o castelo todo. Havia um pano enfiado em sua boca, e ela chorava. Seu vestido roxo estava rasgado e sujo, e seus cabelos eram acariciados pelas mãos de sua gêmea.

Tabata tinha a audácia de sentar-se no trono da rainha e usar a coroa que Lawrence forjara para Thaila. Ela era tão parecida com a da irmã que era assustador. O rosto era belo e o corpo tinha exatamente as mesmas curvas. Os olhos negros observavam Dave com toda a calma do mundo. O vestido estava tão limpo que era difícil acreditar que o punhal negro em sua mão sangrentra era o responsável por todas aquelas mortes. Era de seda preta e prata, sem alças e irritantemente provocante. Ela ajeitou sua postura e Dave apontou a espada para ela.

-Como ousa vestir a coroa da rainha? –ele grunhiu.

-É um prazer te rever também Dave Fellows. Minha irmã não lhe treinou para falar com sua rainha?

-Você não é a rainha. Não é bem-vinda no Castelo de Vidro.

Dave avançava a passos largos, sem medo do que poderia acontecer. Ele ia libertar Thaila, abraça-la e matar Tabata em seguida. A princesa da morte sorriu.

-Está certo, Fellows. Não sou a rainha –ela colocou o punhal negro sobre o pescoço de Thaila. –Preciso que ela se vá antes. Mas não se preocupe, vou providenciar pessoalmente para que vocês se vejam em breve.

Então aconteceu. Ela puxou os cabelos roxos de Thaila para trás e arranhou seu pescoço com a adaga negra. Thaila chorou lágrimas de sangue e Tabata riu com muita satisfação. Levantou seu punhal e lambeu o sangue de sua irmã diretamente da lâmina, ainda sem tirar os olhos de Dave. Ele pensou que enlouqueceria. Ter duas pessoas mortas no mesmo dia não faria bem para seu estado mental. Já tinha falhado com o rei, que jazia ao lado da filha corrupta. Isso era ruim para ele e para Érestha. E falhar com Thaila era falhar também com seu pai. Qual seria a razão de continuar vivo quando ele falhara três vezes no mesmo dia e perdera a menina mais especial de sua vida? O tempo que levou para cehgar até os tronos, cortar as amarras de Thaila e colocar Mata-Touro sobre o pescoço de Tabata não deve ter sido nem um segundo. Ele esperava que sua marca derretesse-se em breu como acontecera com a fênix, mas a cobra ainda brilhava e ardia como antes. Tabata sorriu e tocou seu rosto.

Érestha -Castelo de Pedra [LIVRO 3]Onde histórias criam vida. Descubra agora