XXXI -Bia

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-Isso é uma piada? –ela perguntou.

-Queria que fosse –Tyler respondeu. –Bem-vindos a Chelmno.

A placa parecia ter sido escrita com tanto entusiasmo que Bia podia apenas perguntar-se o que havia de errado com os seguidores de Tabata. Estava presa no chão por um fêmur e escrita com sangue. "Olá! Bem-Vindos a Chelmno! Aproveitem os gritos e objetos de tortura". No canto, havia um sorriso desenhado a dedo.

-Estamos procurando uma pedra grande com amarras –Riley falou, montando Krepto. –Eu e Ajala voamos. Qualquer coisa, mandem Alfos me avisar. Qualquer coisa mesmo. Vamos encontrar minha irmã.

E voou. Alfos estava agarrado em Dave, equilibrando-se como conseguia. Os outros dividiram-se em dois grupos para cobrir uma área maior. Aquele lugar era, surpreendentemente, muito melhor do que Bia esperava. A visão que ela tinha, apeasar de conhecer fotos e relatos, era de um lugar cercado com arame farpado, guardas armados, pessoas sofrendo a cada metro quadrado. A realidade era um campo aberto com pequenas aglomerações de árvores aqui e ali, uma curva perigosa do Rio Leite e silêncio. O chão era tão nojento quanto ela esperava: lama seca, ossos humanos e pedaços de objetos de tortura perdidos. O cabo de um chicote, algemas, lascas de madeira e um balcão de estiramento inteiro esquecidos pelo lugar. Bia pensou que fosse ser fácil avistar uma pedra grande como a descrita por Dave, mas o terreno era muito irregular, repleto de morros e mata mal-cuidada. Ela pensou em gritar por Alícia, mas todos decidiram rapidamente que aquela era uma péssima ideia.

Estar tão perto de seu objetivo animou a todos. Riley deixou de ser pálido e doente para tornar-se o guerreiro mais destemido de Érestha. Carragava sua espada com determinação enquanto montava um dragão negro com uma mancha branca em forma de crânio na cabeça. Parecia assustador, e isso era ótimo. Dave nem se importava de ter Alfos apertando suas garras em seu ombro. Ele cavalgava quase tão bem quanto Bia, atento a seus arredores e preparado para usar sua espada a qualquer segundo. Missie nunca estivera contente em estar ali, mas, apesar disso e da cicatriz em sua testa, ela tinha vontade em seu olhar. As ondas de seus cabelos negros não deixaram de ser perfeitas por nenhum momento naquela viagem, e agora estavam ainda mais brilhantes, batento em suas costas conforme o cavalo corria. Segurava a adaga sem muito entusiasmo mas com determinação. E Bia sentia-se satisfeita. Confiava que suas flechas atravessariam qualquer um que colocasse-se em seu caminho e protegeriam Dave. O fato de Riley não ver a fênix de luz era levemente perturbador, mas Dave estava bem ali e ela não deixaria nada de ruim acontecer a ele. Se encontrassem Pedro Satomak, ignorariam o conselho da princesa de cabelos roxos e avançariam contra ele. Era ingênuo pensar que fariam o contrário.

Os três cavalgavam junto com a enfermeira de Riley. Tyler e os outros de seu grupo tinham sumido de vista. Ahrem estava bem acima deles, e Krepto estava bem mais a frente, voando mais rápido do que Bia jamais o vira fazendo. Arhem cuspiu um pouco de fogo contra um grupo de urubus que atrapalhava seu caminho e Ajala fez uma curva fechada e sumiu de vista também. Alfos começou a ficar agitado poucos minutos depois. Os cavalos estava cançados e irritados com os gritos do dragão. O animal chacoalhava-se como louco nas costas de Dave, abrindo as asas, arranhando-o e estalando sua língua. Apesar disso, ele não levantava voo. Dave tentava comunicar-se com ele e pedir que parasse ou simplesmente voasse, mas o dragão não queria colaborar. Ao chegar numa área onde não crescia grama nenhuma e onde ainda mais urubus aglomeravam-se no céu os cavalos enlouqueceram. Empinaram-se, chacoalharam-se e relincharam em desespero. Todos desmontaram, até Dave com o dragão inquieto nas costas. Afastaram-se enquanto a enfermeira, legado de Tâmara, tentava acalmar os animais. Bia esticou a mão para tentar acariciar o focinho de sua montaria quando o vento de asas de dragão atrás de si chamaram sua atenção.

Érestha -Castelo de Pedra [LIVRO 3]Onde histórias criam vida. Descubra agora