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R A Q U E L (segundo bônus+adolescência) Mais algumas peças para vocês juntarem desse quebra-cabeça.

  As folhas secas do outono voavam acima da minha cabeça, o céu tomava uma coloração avermelhada e alaranjada. A paisagem era no mínimo interessante. Assim como a cidade de Toronto inteira- tirando o fato das pessoas ainda me olharem torto-. O que acontece é que eu ainda não passei pela minha transformação completa, meus fios loiros ainda não alcançaram nem a altura dos ombros e meu corpo ainda pode ser comparado a uma tábua de passar roupa. Ainda pareço um menino magricelo.

— Raquel?- ouvi meu nome ser chamado em meio ao parque central. Abri meu maior sorriso por estar sendo chamada pelo meu verdadeiro nome. Virei-me encontrando a garota do velório da minha mãe, eu nunca tinha a visto desde então.

— Olá?- quis falar mais saiu como uma pergunta. Meus olhos se pousaram no rosto da garota. Um rosto angelical e perfeito. Seus olhos verdes contrastavam com sua pele pálida e cabelos negros. Senti um certo rubor nas minhas bochechas.

— Tudo bom?- perguntou com as mãos atrás das costas.

— Sim.- respondi firme tentando me lembrar do seu nome, mas não consegui. A garota ainda era um mistério completo.- Desculpa a pergunta, mas qual é o seu nome?

Ela sorriu, mostrando seus dentes alinhados e perfeitos.

— Meu nome é Lily.- respondeu entusiasmada.

Não pude deixar de sorrir, seu nome era lindo assim como ela. Respirei fundo e passei a mão pelos meus fios loiros e cortados. Coloquei a mão nos bolsos e continuei olhando a garota.

— Onde você está morando agora?- questionou gesticulando com as mãos.- Sabe, já faz anos que aquilo aconteceu...

— Estou morando com a minha avó, aqui mesmo em Toronto.- respondi com sinceridade. Para a maioria das pessoas eu não soltava essa informação.

— Que bom!- exclamou- Quero dizer, que bom que você está morando em Toronto, eu também moro aqui e posso te visitar sempre que quiser.

— Pode não, deve.- sorri.- Nós somos parentes, Lily?

Lily negou.

— Não, minha mãe era amiga da sua mãe, sabe? Colegas de trabalho.

Sorri involuntariamente depois da resposta da garota.

— E onde você estuda, Lily?

— Toronto School, é bem perto daqui. Basta virar ali na rua do Jacky's, seguir em frente pela praça central e você vai encontrar o meu colégio.

— Acho que já passei por lá, é um colégio bem grande.- falei me lembrando do local.

— Sim.- sorriu novamente. Eu já disse que amo o sorriso dela?

Uma mulher apareceu gritando o nome da garota, que tomou um belo de um susto ao vê-la. E depois olhou em minha direção, e olhou para Lily, e olhou para nós duas e fez um sinal negativo com a cabeça. Logo percebi que se tratava da mãe de Lily, percebi também que ela havia conhecido minha mãe e as barbaridades que ela contava de mim.

— O que está fazendo conversando com esse rapaz, Lily?- gritou a mulher furiosa. Eu ainda não controlava minhas emoções e ser chamada de rapaz me entristeceu muito. Foi como uma grande faca perfurando a minha boa imagem.

— Rapaz? O nome dela é Raquel!- exclamou a menina confusa.

Olhei para todos os lados, fugir ou não fugir? Por onde fugir?

— Raquel?- riu- Esse é o filho mais novo da Grace, o Ryan.

Os olhos verdes de Lily se arregalaram, a boca se abriu mas nenhum som foi ouvido.

— R-Ryan?- gaguejou em minha direção. 

— Meu nome não é esse.- sussurrei com dificuldade, as lágrimas já estavam sendo projetadas para cair.

— É sim!- a mulher gritou novamente, era possível ver a fúria em seus olhos.- E não quero ver nunca mais você conversando com a minha Lily.

— Cala a boca, mãe.- murmurou a menina, nos surpreendendo. Os olhos furiosos da mãe dela ficaram ainda mais tensos e os meus mais apaixonados.- Ela pode ter se chamado Ryan um dia, mas hoje ela é Raquel e tu tens que respeitar isso.

— Onde eu errei na sua criação? Como você é ingênua, não vê que esse menino é uma cria do demônio?- Agarrou no braço de Lily com força, arrastando-a para longe de mim. Eu me senti um monstro naquele momento.

Respirei fundo e tirei forças de onde não tinha, corri até a mulher e a empurrei com força. Ela caiu desajeitada no chão, com os olhos arregalados. "Cria do demônio? Se você quiser eu posso ser assim com você." Gritei "Mas você deve saber que a única cria do demônio aqui é justamente a senhora, que não aceita os outros como eles são realmente. Sua filha não é ingênua, muito pelo contrário, ela tem um coração bom, diferente da própria mãe."

Enxuguei as lágrimas que já caiam descontroladamente, e Lily rapidamente correu até mim e me deu um abraço firme. Demorei um tempo para aceitar aquele abraço, já que eu nunca tive demonstrações de afeto como aquela. Passei meus braços ao redor da menina e sorri para mesma. Isso durou alguns segundos, até a mãe da menina reaparecer e a puxar novamente para longe, sem nenhuma palavra de ódio dessa vez.

Já longe, Lily mecheu a boca e eu consegui decifrar as palavras que de lá saíram: "Eu te aceito". Voltei para casa aquele dia com um sorriso enorme no rosto, e um coração mais fraco do que o normal.

Bad Reputation | Shawn Mendes Onde histórias criam vida. Descubra agora