A noite tinha passado em claro, nem eu nem Jacob conseguimos adormecer depois do que aconteceu. Tinha sido um verdadeiro choque para ambos, descobrimos tudo tão de repente, quase como se nos obrigassem a engolir todas as informações sem que ao menos tivéssemos tempo de assimilar.
Após o incidente e a minha mãe ter sido levada para a cadeia, ligamos ao nosso pai, contamos tudo e explicamos que o caminho para ele estava livre e que ele nos podia vir buscar. O meu pai não pensou duas vezes em comprar um bilhete de avião e vir ao nosso encontro.
Ele chegou quase ao final do dia seguinte, pois a distancia entre o México e o Havai não era pequena.
O meu irmão e eu estávamos sentados no sofá, em silencio, de malas feitas enquanto esperávamos o meu pai chegar. Não tínhamos para onde ir, mas não queria passar nem mais um segundo dentro daquela casa, olhar para todos os cantos e lembrar-me de todos os momentos de horror que vivemos entre aquelas paredes.
Ouvimos passos no alpendre e a porta abriu-se, revelando o nosso progenitor. O homem de meia idade, cabelo grisalho, olhos castanhos, estatura baixa e um pouco acima do peso apareceu no nosso campo de visão. Carregava um olhar preocupado e um pequeno sorriso cheio de saudade.
'' Pai!'' - Jacob e eu disse-mos em coro.
Corremos para os braços do mesmo que nos acolheu no seu colo. Ele beijava freneticamente as nossas cabeças, enquanto nos apertava conta si.
'' Está tudo bem agora crianças '' - Murmurou '' Estamos todos juntos agora ''
Não conseguia descrever o tamanho das saudades que sentia do meu pai, ele sempre foi o meu herói e o meu favorito, aquele que nos mimava a todo o custo. O facto da minha mãe nos ter arrancado dele deveria ter sido um grande desgosto para o meu pai, especialmente porque foi forçado por ela a fazê-lo.
'' Não vamos voltar para o México '' - Afirmou o meu pai '' Não temos nada lá para nós ''
'' Onde vamos ficar? '' - Perguntou Jacob.
'' Vamos para a fazenda da avó, não fica muito longe daqui ''
A avó! Já não a via desde o divorcio dos meus pais. Os meus pais nasceram e cresceram no Havaí, quando se casaram, eles decidiram se mudar para o México devido a uma importante proposta de emprego que o meu pai havia recebido. Entretanto nascemos nós, mas por sistema, todos os verões regressávamos ao Havaí para estar com a família do meu pai, uma vez que a minha mãe não era próxima da família dela.
Após o divorcio dos meus pais, a minha mãe regressou ao Havaí levando Jacob à força com ela e eu escolhi ficar com o meu pai no México, mas, até mesmo quando regressei ao Havaí, a minha mãe não me deixava visitar a família do meu pai e eu também não tinha como me deslocar até à casa deles, uma vez que ainda era uma distancia grande para ter de ir a pé, iria levar horas de caminhada, até chegar à fazenda da avó.
Fomos buscar as malas que se encontravam junto ao sofá e arrastamo-las até ao táxi. O meu pai demorou um pouco mais, trancando todas as portas e janelas da casa, para a manter em segurança, trancou a porta principal e guardou as chaves com no seu bolso, regressando ao táxi.
Enquanto o carro deslizava pela rua em frente à praia pouco movimentada, reparava que a noite voltara a cair, Felpudo deitou-se quietinho no meu colo, acariciei o pelo dele, enquanto recostava a minha cabeça junto à janela e observava o exterior. As boas recordações daquele lugar invadiram a minha cabeça. Quando reencontrei a Johanna, quando conheci o Harry pela primeira vez, quando o meu grupo de amigos me ensinou a surfar.
Por falar no Harry, eu precisava saber como ele estava, mesmo depois de tudo, eu não podia simplesmente ir-me embora sem antes me despedir dele.
'' Podemos só parar uns minutos em frente ao hospital? Tem uma pessoa lá que eu precisava de me despedir ''
O meu pai concordou com a cabeça e Jacob sorriu para mim amigavelmente. Ficava feliz por saber que ele agora compreendia-me e que não me iria julgar. Saí do carro e dirigi-me ao interior do hospital, procurando a ala do internamento masculino.
Assim que lá cheguei, deslizei os meus olhos pelos corredores e um homem familiar apareceu, sentado numa cadeira em frente a um dos quartos, com os braços apoiados nas pernas e de cabeça tombada para a frente.
'' Mr. Andrews? '' - Chamei.
'' Atlanta! '' - Pareceu surpreso em ver-me.
Levantou-se e caminhou até mim, ficando de frente para o quarto, onde possivelmente estava o Harry. Aproximei-me e espreitei para dentro do mesmo. Senti o meu estomago contrair-se assim que vi o moreno, deitado numa maca, inconsciente, com um tubo de oxigénio no nariz para facultar a sua respiração, com os seus braços destapados e com uma agulha espetado num deles, onde recebia soro.
'' Como ele está? '' - Perguntei, sem desviar o olhar dele.
'' Está estável felizmente, mas os médicos acharam que seria melhor induzir-lhe o coma '' - Explicou '' A bala atingiu parte do seu intestino, os ferimentos eram graves e ele iria sentir dores agonizantes, então para prevenir tudo isso, vai permanecer em coma, até conseguirem remover totalmente a bala e restaurar a parte danificada ''
Senti uma imensa vontade de chorar, ele não merecia passar por tudo aquilo, mas ficava extremamente aliviada por saber que ele estava estável e fora de perigo. Mr. Andrews percebeu que queria ficar sozinha com ele e recuou para trás dando-me sinal para entrar no quarto.
Engoli em seco e entrei no mesmo lentamente. Custava-me imenso ver o Harry assim, entubado e em coma, nem parecia o mesmo. O rapaz que antes era tão cheio de vida e energia, estava agora inanimado, numa cama hospital.
'' Oh Harry '' - Murmurei baixinho enquanto me aproximava.
Toquei levemente num dos seus braços, acariciando o mesmo, enquanto as minhas lágrimas escorriam pelas minhas bochechas. Não tinha energia para soluçar ou fazer qualquer som, apenas chorava em silencio.
Acariciei o seu rosto e beijei a sua testa, num beijo longo e suave. Não o conseguia odiar, nem sentir raiva dele. Queria que as coisas tivessem sido diferentes, queria o ter conhecido de uma forma diferente, queria que tudo entre nós tivesse sido leve e calmo, mas foi completamente o oposto.
Não sabia quando ele iria acordar do seu coma, mas sabia que eu não estaria aqui quando ele acordasse. Estava decidida em deixar tudo isto para trás, eu própria precisava de recuperar, foi uma experiencia muito traumática para mim, o que aconteceu entre nós, o que descobri da minha mãe, tudo o que ela nos fez.
Sabia que se eu ficasse as memorias não iriam desaparecer, iria lembrar-me constantemente de todos os acontecimentos e não iria conseguir curar-me, também não iria ser a melhor pessoa para estar perto dele quando acordasse. Eu estava totalmente quebrada em pedaços.
'' Eu desejo que possas recuperar e ser feliz '' - Segurei a sua mão, depositando alguns beijos na mesma '' Não posso continuar aqui, mas prometo que não vou te esquecer ''
Apertei a sua mão uma última vez e depois soltei-a aos poucos, virando completamente costas ao moreno e caminhando para fora do quarto. Mr. Andrews estava sentado numa outra cadeira, um pouco mais distante da porta do quarto e caminhei até ele.
'' Tenho de ir embora, vou mudar-me com o meu pai e tentar recuperar de tudo o que aconteceu '' - Contei.
Ele acenou com a cabeça em concordância.
'' Por favor Mr. Andrews, cuide dele por mim '' - Pedi.
Ele sorriu amavelmente para mim, deixando-me um pouco mais tranquila. Respirei fundo e caminhei de volta para o taxi, decidida a deixar tudo isto para trás, a deixar para trás a nossa história que nunca chegou a acontecer.
Adeus, Harry.
Notas da autora:
O meu coração simplesmente não aguenta mais sofrer assim!
Se o capítulo foi do teu agrado, não te esqueças de clicar no coraçãozinho lá em cima! Muito obrigada ❤
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Call Me Daddy [Terminada]
FanfictionEu era louca, louca por estar apaixonada pelo namorado da minha mãe. [Romance Policial]