Capítulo 30: O tempo mudou tudo

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Depois de uma noite mal dormida, onde ainda conseguia sentir o gosto a álcool na minha boca e sentir a minha cabeça latejar ao ritmo das batidas da música de ontem à noite, recebi uma mensagem do trabalho, onde precisava de entregar em mãos uma pen drive extremamente importante a um dos chefes de equipa.

Como não estava virado nem com cabeça para formalidades, vesti uma roupa desportiva e decidi que iria fazer um pouco de exercício, para também me ajudar a recuperar da noite anterior. 

Ainda olhei várias vezes para o meu jipe, ponderando ou não conduzi-lo até lá, mas decidi que iria forçar-me a ir a pé. Precisava de ganhar massa muscular uma vez que estive demasiado tempo parado, precisava de melhorar o meu aspeto físico, que de momento, não estava no meu melhor. 

Mas se queria continuar a ser cobiçado, precisava melhorar cada vez mais. Comecei então a correr em marcha lenta pela rua em direção ao local onde havia combinado encontrar-me. Metade do caminho conseguia faze-lo de cabeça, pois conhecia bem os locais, mas a outra metade do caminho já iria precisar de indicações.

Assim que cheguei ao fim da primeira parte do caminho, encostei-me a uma parede, tentando recuperar o folego, não estava mesmo em forma. Bebi grande parte da água da minha garrafa e caminhei lentamente pela rua, enquanto procurava as indicações no meu telemóvel. 

Enquanto pesquisa, dei por mim em frente a um café, não me era estranho, sabia que já o tinha pesquisado alguma vez. Deslizei os olhos pelo estabelecimento até me cruzar com o nome do mesmo e foi aí que me dei conta, que era o café onde a Atlanta trabalhava. 

Rapidamente desviei-me das portas e janelas do mesmo e escondi-me dentro do meu capuz. Sabia que tinha cerca de quinze minutos para aparecer no local marcado, mas não resisti à vontade de espreitar para dentro do café, na esperança de encontra-la. 

Á medida que me aproximava, sentia-me cada vez mais tenso, não estivesse eu a cometer um grande erro, acabar por ficar obsessivo por saber que ela estava tão perto e sentir necessidade de ser visto por ela.  

Os meus olhos deslizaram por todo o café e não havia sinais dela em lado nenhum, será que ela ainda estaria a trabalhar aqui? Já tinha sido à alguns meses que descobri a informação do seu local de trabalho.

 Não queria entrar no café, então mantive-me do lado de fora mais alguns minutos. Até que para minha surpresa, a porta de entrada exclusiva a funcionários abriu-se e a uma figura feminina bem conhecida por mim, saiu pela mesma. 

Era ela. Reparei que tinha o cabelo enrolado num coque no topo da sua cabeça, parecia mais magra do que costumava ser. O seu tom de pele estava moreno devido ao sol de verão, envergava um vestido azul claro, com um avental. Carregava consigo um sorriso enorme no rosto, enquanto falava educadamente para os seus clientes. Ela brilhava.

Tinha receio que durante aquele tempo todo que estive sem a ver distorcessem a sua imagem na minha cabeça, mas não, eu lembrava-me vivamente dela, da aparência dela, da voz dela, do cheiro dela, do toque dela e também do calor dela. Ela estava ainda mais bonita que antes. Reparei que as suas unhas estavam pintadas de branco, lembro-me que antes ela não tinha costume de pintar as unhas.

Em poucos segundos o café esvaziou por completo, eu sentia vontade de entrar, de a ver mais de perto, de saber se o seu perfume ainda era o de morango ou se usava um diferente. Precisava de saber se a sua voz ainda tinha o mesmo timbre, precisava de saber se os seus olhos ainda me reconheciam. 

Eu sabia que ia ficar obsessivo desta maneira se a voltasse a encontrar, que iria sentir necessidade de me aproximar dela, tinha tantas perguntas, mas não podia deixar que tudo isso me impedisse de focar nos meus novos objetivos e de procurar um novo propósito. 

Coloquei na minha cabeça que este episodio seria algo isolado e que não a voltaria a procurar depois de hoje. 

Aproximei-me um pouco mais da janela e poder observa-la pela última vez, antes de seguir caminho, ela encontrava-se a recolher os pratos e chávenas em cima das mesas. Ela tinha emagrecido e isso preocupava-me.

Nisto saiu um rapaz pela porta dos funcionários, tinha a sensação que já o tinha visto antes, parecia ser um antigo amigo que ela tinha na altura.

Eles sorriam e riam um com o outro enquanto arrumavam o café. Tinha de admitir, sentia um nó na garganta por vê-la sorrir assim, mas ela realmente parecia feliz e animada, acho que nunca a tinha visto assim antes. 

Comigo ela parecia sempre demasiado preocupada, sempre nervosa e tensa, também devido ás circunstancias pelas quais ela andava a viver na altura, era rara a vez que a via sorrir e rir assim, tão leve e despreocupada.  

Apanhando-me de surpresa, aquele rapaz circulou os braços em torno da cintura dela e puxou-a por trás, fazendo as costas dela colidirem contra o seu peito. Ela não o rejeitou ou se afastou, muito pelo contrario, ela permaneceu ali, com um pequeno sorriso. 

Apertei os meus punhos enquanto via toda aquela imagem. Sentia uma raiva se apoderar de mim, mas sabia que não havia nada que eu pudesse fazer. Não estava no meu direito, mas a tamanha vontade de os interromper era enorme.

O rapaz aproximou o rosto, disse qualquer coisa ao seu ouvido que a fez sorrir ainda mais e de seguida beijou o seu pescoço. 

Assistir aquilo de certa forma magoava-me. Estava a sentir-me um idiota e egoísta por pensar daquela maneira, mas eu sentia-me com raiva e magoado. Ela estava feliz, recuperada e com outra pessoa nos braços, enquanto me tinha abandonado e eu estava sozinho. 

Acho que a minha cabeça sempre esperou que ela não fosse voltar a ser feliz assim com outra pessoa, no fundo senti que ela me tinha esquecido, me tinha arrancado da sua vida, como o fez, naquele dia no hospital. 

Prometi a mim mesmo que nunca a iria culpar por isso, mas depois de assistir ao cenário à minha frente, não tinha como evitar.

Eu queria culpa-la. 


Notas da autora:

Parece que reencontrar Atlanta não foi saudável para ele, irá ele continuar a observa-la à distancia ou tentará seguir em frente com a sua nova vida?

Se o capítulo foi do teu agrado, não te esqueças de clicar no coraçãozinho lá em cima! Muito obrigada 

Call Me Daddy [Terminada]Onde histórias criam vida. Descubra agora