Prólogo

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Era uma menina muito bonita.

Tinha menos de dois anos de idade.

Cabelos curtos e muito ruivos, cortados elegantemente num adorável penteado, complementado com uma tiara branca de estampa florida. O rosto redondo, carnudo, cuja covinha aparecia enquanto sorria. Os olhos grandes, claros, de um verde vivo, encarando o observador com uma curiosidade ímpar. Usava um vestidinho decorado, com uma bela rosa bordada do lado direito do peito.

E ria com vontade.

Mas sua risada não podia ser ouvida.

Nunca mais poderia.

Um dedo trêmulo deslizou por cima do rosto da criança, encontrando apenas a dureza envidraçada do retrato.

Uma canção foi sussurrada, em voz baixa e soluçante. A cantiga que ela tanto adorava ouvir antes de dormir.

Você é meu brilho

Meu raio de sol

Me faz tão feliz quando estou só

Não sabe o quanto que eu te amo

Não vá embora, meu raio de sol

Costumava ser seguida de um gritinho maravilhado, e a batida das palmas de pequenas mãozinhas – um incentivo amável para repetir a canção.

Porém, desta vez, não houve nenhum pedido.

Não haveriam mais canções. Não haveriam mais histórias para dormir. Não haveria mais a hora do chá com as bonecas, nem a pontual brincadeira de cavalinho.

Não haveria mais uma oportunidade de vê-la entrar para Hogwarts, ou de receber uma carta desesperada por ter sido selecionada para uma das Casas.

Não existiria mais a chance de poder conhecer e ralhar com o namorado e futuro genro, nem tentativas de não rir do escarcéu do marido, toda vez que se tocasse neste assunto.

Não haveria a possibilidade de vê-la ao seu lado, em seu leito de morte, segurando sua mão, durante o fim de sua vida.

Não haveria mais um futuro.

Todos os planos e sonhos de uma vida haviam sido destruídos numa única noite. Juntamente de centenas de outros mais.

E agora, Hermione Weasley era uma mulher destroçada.

Nenhuma lágrima escorria pelo rosto da jovem, pois todas já haviam sido devidamente derramadas, num momento em que seu coração ainda podia sentir alguma emoção.

Abraçou a fotografia, olhando para a janela, num ponto distante do horizonte.

– Te vingarei, minha pequena – proferiu, numa voz fria – eles selaram seu destino. E vão pagar pelo que fizeram.

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