O Uivo das Raposas

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Embora seus conhecimentos de rastreamento não fossem tão aguçados, foi relativamente fácil para Rony encontrar a grande clareira no meio do bosque, adentrando no ainda ativo domo enfeitiçado de proteção da área.

Olhou ao redor, intrigado. Havia uma série de barracas e tendas montadas ao longo de todo o local. Porém, não havia nenhum sinal de vida ali.

Caminhando ao longo do acampamento abandonado, percebeu alguns resquícios mínimos de pegadas sobre o solo, evidentemente ocultadas por um feitiço contra rastreio.

Analisou o padrão daquela pista, tentando deduzir para onde iam.

- São muitas marcas para uma pessoa só... - sussurrou consigo mesmo, pousando os dedos sobre a terra – ainda quentes... não faz muito tempo...

Havia imaginado, primariamente, que deviam ser de Hermione e seu parceiro de viagem. No entanto, os rastros seguiam-se numa linha de quase dois metros de comprimento – um espaço muito grande para ser trilhado por apenas duas pessoas.

Havia mais deles.

A suposição fez a nuca de Rony se arrepiar. O que Hermione estava tramando, afinal de contas? Por que não estava mais viajando sozinha? E por que não havia sinal de quaisquer outros humanos ali?

Ergueu a varinha, atentando-se a qualquer som ao seu redor, prosseguindo sua caminhada de reconhecimento pela clareira.

Sentiu a redoma mágica e invisível ao seu redor rutilar, e voltou o olhar, sobressaltado, tentando ver quem havia invadido o perímetro do feitiço de proteção.

Vincou a testa, aborrecido, ao reconhecer a figura arisca de uma raposa se aproximando.

- Passa! Xô! - grunhiu, batendo o pé ameaçadoramente na direção do animal.

A raposa eriçou-se, sibilando, dando meia-volta e correndo na direção contrária, sumindo de vista ao contornar uma das tendas.

Sacudindo a cabeça, irritado por se assustar á toa, decidiu adentrar em uma das tendas maiores, á procura de qualquer outra pista que pudesse ajudá-lo a localizar Hermione e seu recém-aumentado grupo.

- Lumos – proferiu, acendendo a ponta de sua varinha, iluminando o interior da tenda.

Á primeira vista, não encontrou nada que pudesse lhe interessar. Apenas alguns caixotes – evidentemente vazios – um armário de poções revirado e algumas pilastras de madeira.

No entanto, nos fundos da barraca, visualizou algum tipo de mensagem, pintada toscamente no tecido na lona, que emanava um forte cheiro de sal e ferrugem.

Outra mensagem.

Escrita com sangue, tal como a primeira.


Seu domínio findará. Nada pode me destruir.

Sou Fênix, e renascerei quantas vezes precisar.


Rony estremeceu.

Havia ouvido falar do que havia ocorrido com Ridark Rocksteel. Mas ver aquilo com os próprios olhos era dez vezes pior.

Era ainda mais terrível do que havia imaginado. Via o toque de Hermione naquela pintura macabra, e aquilo o atingiu como um soco na boca do estômago.

Hermione estava mais envolvida naquela vingança do que jamais poderia ter suposto.

Aquela não era a sua esposa. Não era a garota pelo qual havia se apaixonado.

Era outra coisa.

- Ah, meu amor... - levou a mão á boca, desolado – o que isso está fazendo com você...?

Não conseguia imaginá-la sendo tão fria e cruel. Simplesmente tentar conceber uma ideia daquelas ia contra sua própria natureza.

Iria encontrá-la, antes que os demais. Faria ela compreender que tudo aquilo era uma loucura. A tomaria em seus braços outra vez, e lhe diria que tudo ficaria bem.

Tinha que impedir que o ódio a fizesse cometer algo ainda mais abominável, do qual iria se arrepender. Por mais que soubesse que Hermione não agia por si mesma, agora compreendia a preocupação dos aurores, e via a real necessidade de fazê-la desistir daquela loucura.

Ainda fitava a mensagem quando sentiu que lhe tapavam a boca e as narinas.

- Hummmf....!

Um braço prendeu-se em seu pescoço, aplicando-lhe uma gravata firme e indissolúvel.

- Nada mal, Weasley... - uma voz arrepiante sussurrou atrás de Rony – não sei o que faz aqui... mas sua pequena visita realmente virá a calhar...

Tentando desvencilhar-se, sufocando sobre a mão que o prendia, mal conseguiu gritar de dor, ao sentir a lâmina de uma faca penetrar-se em suas costas.

Sua visão anuviou-se aos poucos.

A tenda tornou-se um aglomerado de manchas coloridas, que esmaeceram repentinamente, finalmente mergulhando Rony na inconsciência.

Depois de muita insistência, assim que se sentiu em condições de andar, Rayane havia feito o impensável: convencera Hermione e Renato a dar continuidade á viagem, mesmo que em velocidade particularmente reduzida.

Havia garantido que poderia caminhar por um bom tempo, desde que Nora a apoiasse continuamente – proposta que a jovem prontamente havia acatado.

Cavallone não havia ficado satisfeito com a decisão da bruxa.

- Essas duas vão acabar se matando – resmungou – e nós acabaremos tendo problemas, dolcezza. Tem certeza disso?

A jovem apenas deu de ombros, olhando ao redor das paredes do Eurotúnel.

- Ela me garantiu que consegue dar conta da caminhada – disse, sem olhar para Renato – e prometeu que não vai nos atrasar, mesmo que tenha que ficar para trás para que isso aconteça.

- Quanta nobreza da parte dela.

Hermione ergueu a sobrancelha, diminuindo o passo.

Algo lhe dizia que Renato havia passado longe de ser sarcástico.

- Se eu não o conhecesse nesse curto período de tempo, Cavallone – contraiu os lábios numa linha rígida – diria que está começando a se afeiçoar á garota.

Renato bufou - embora seu olhar tivesse hesitado por um momento.

- Io? Accarezzarmi? - ofegou – Blink é apenas um inconveniente que colhemos em nosso caminho, fenice. Nada mais do que isso.

- Não... - sussurrou – eu conheço esse olhar, Cavallone. Você está amolecendo – franziu o cenho na direção do rapaz, fitando-o firmemente – apenas não faço ideia... do motivo.

O comentário fez Renato estacar-se por um momento, ao que Hermione tomou a dianteira, prosseguindo a caravana. Sacudindo a cabeça, voltou a caminhar pelo corredor do túnel, enquanto Rayane o ladeava.

- Está apaixonado por ela – disse em determinado momento, cabisbaixa.

Cavallone quase tropeçou em Nora, que estava alguns centímetros á sua frente, lançando um olhar fuzilando na direção da garota.

- Posso saber o que faz você achar uma coisa dessas, Blink?

- Por favor... - comentou, ainda de nuca dobrada – dá para ver como você a olha. E eu conheço muito bem esse tipo de olhar – para sua surpresa, a expressão de Rayane era de profunda pena – o que vai fazer a respeito?

Por um momento, achou que Renato iria lhe responder.

No entanto, ele virou-se bruscamente, deixando-a para trás em sua caminhada.

Rapidamente se livrando de um soluço, quase por pouco deixou escapar.

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