- Não... não... não.... não!
Os gritos da mulher se calaram repentinamente.
Ela não sentiu a mão do marido pousar em seu ombro. Não ouviu os guinchos horrorizados que se seguiram. Havia mergulhado num estado de torpor.
Ainda com lágrimas escorrendo por seu rosto, Hermione baixou os braços dentro do berço, puxando para si o corpo sem vida da filha.
Viu Rony se debruçar sobre o diminuto corpinho, soluçante, chorando em voz alta. Sem interrompê-lo, segurou os dedinhos inertes, sentindo-os frios como gelo.
Ainda esperava que Rose lhe piscasse. Que arrulhasse para eles, balbuciando de modo risonho, provando que tudo aquilo não passava de mais uma de suas brincadeirinhas.
Porém, quando a cabecinha de olhos vidrados tombou para o lado, a jovem mãe percebeu a realidade cruel. A mesma realidade que o coral de gritos e lamentos lá fora parecia confirmar de modo terrível.
Sua filha estava morta.
Com a mão trêmula, a jovem acariciou as pálpebras de Rose, fechando-as, dando à bebê a aparência de quem estava apenas dormindo.
- Meu anjinho... meu anjinho... - sussurrou, abraçando a cabecinha languida da criança.
Os braços de Rony a cercaram, abraçando a ela e ao corpo da filha. O rapaz tremia contra seus ombros.
- Por que... POR QUÊ? - gritou, caindo de joelhos no chão, soltando a garota.
Beijando os cabelos de Rose, Hermione a aninhou novamente no berço, recobrindo o corpinho com o edredom, assim como fazia toda noite.
Houve o som de alguém desaparatando dentro do quarto. Sem virar o rosto, Hermione virou o olhar na direção dos recém-chegados.
Sentiu seu coração parar.
Harry e Gina tinham os rostos inchados, ainda úmidos de tanto chorar.
A jovem reconheceu o volume inerte no colo de Gina, e não teve coragem de chegar mais perto para ver o corpo menor, que jazia nos braços de Harry.
Gina adiantou-se, fremindo, apertando o corpo da criança contra si.
- Em todas as casas... em todas... - soluçou – há crianças mortas....
Os joelhos dela cederam, lançando a mulher contra o chão. Foi o bastante para que Hermione conseguisse vislumbrar o rostinho pálido de Teddy, cuja visão dos cabelos esbranquiçados, destituídos de qualquer cor, fez o peito da garota se apertar.
- Rose... não... - Harry fechou os olhos, angustiado, recomeçando a verter lágrimas pelo rosto.
Por alguns minutos, não houve nenhuma verbalização nos presentes. O único som que se ouvia eram os gemidos e gritos do lado de fora da casa.
Por fim, Rony puxou o braço da esposa.
- Querida... solte-a....
Hermione apertou a mãozinha da filha, sentindo-se sufocar.
- Durma bem, meu anjo – sussurrou, com o choro travado na garganta.
Virou-se na direção da cunhada, que ainda embalava o corpo de Teddy em seus braços.
- O que houve...?
Fosse por sua mente estar dopada demais para raciocinar, ou por não ser capaz de sintetizar qualquer emoção no momento, o fato era que Hermione não percebeu imediatamente a complexidade daquela situação.
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Fênix Negra
FanfictionComo forma de retaliação pela derrota de seis anos antes, uma maldição ancestral - conhecida por outro nome e outra época - é trazida de volta por bruxos das Trevas, ceifando a vida de todas as crianças primogênitas do mundo bruxo europeu. Sendo um...