Chateau Miranda

34 3 5
                                    

A viagem até a França havia drenado o pouco que restava de energia e lucidez de Ronald Weasley. Sua mente oscilava entre períodos de consciência e alienação, por vezes quase o derrubando contra o chão.

Em uma destas vezes, quando finalmente reabriu os olhos, ele já não sabia mais onde poderia estar – e nem lembrava como havia chegado até ali.

Encontrava-se acorrentado a uma pilastra escura, dentro de algum tipo incomum de cômodo em ruínas.

Reconhecia vagamente a arquitetura do recinto – tijolos alaranjados, forma ovalada, de janelas características e domos de estilo gótico. Paredes gastas, cujos papéis decorados, num forte tom de azul, há muito haviam começado a descascar.

Um castelo abandonado.

– Bem-vindo, garoto…

Estreitou o olhar para Andrew Blackhole, trincando o maxilar de raiva.

- Para onde você me trouxe…? - ofegou, colocando a mão sobre o corte na cintura, que ainda não tinha o menor sinal de cicatrização.

- Ah, onde estão meus modos – o Comensal riu-se, erguendo as mãos imperiosamente para os arredores – este é um dos mais antigos castelos da Bélgica... o Chateau Miranda. Era um belo lugar no século dezenove… pertenceu á uma rica família de bruxos puro-sangues belgas… até ser tomado por trouxas sanguinários… - deu de ombros – embora fossem minimamente… avançados em seu modo de pensar, tentando destruir a parcela mais pútrida de sua raça em nome de um bem maior… tal como estamos procurando fazer agora – o rapaz o viu se aproximar de uma pichação em uma das pilastras, na forma de uma inconfundível suástica – porém, no fim das contas… esse magnífico lugar foi condenado ao esquecimento, abandonado pelos malditos sangues-ruins… até nosso mestre lhe atribuir um uso razoavelmente mais digno.

O auror virou-se, grunhindo baixo.

- Este é o esconderijo de vocês…?

- O que? Não, não… - o homem balançou a cabeça; era evidente que divertia-se com a confusão latente de seu prisioneiro – temos dezenas… centenas de esconderijos diferentes, ao longo de toda a Europa. Achou mesmo que centralizaríamos todos os nossos partidários num único lugar? - coçou o queixo, sorrindo desagradavelmente – porém… está certo em parte. Aqui é o quartel-general provisório de todas as operações. Um ninho de repouso… escolhido a dedo pela Serpente.

Andrew viu o ruivo encará-lo de maneira encolerizada.

- Então é aqui que esse desgraçado se esconde?

Para seu choque e indignação, Blackhole ergueu a cabeça, gargalhando cinicamente.

-Se esconder? Não entendeu ainda, rapaz? - gesticulou para o cômodo – não nos escondemos… deixamos claro o que queremos. Apenas nos resguardamos para as próximas etapas desta missão em prol da salvação do mundo. A Serpente estará… onde quiser estar – sorriu maldosamente – e ela quer conhecê-lo, meu jovem traidor. Quer ver de perto quem ousou atravessar metade da Europa sozinho em nosso encalço.

O ruivo vociferou, ainda ajoelhado contra o chão.

- Acha mesmo que este plano vai dar certo? Sabe que o Ministério da Magia encontrará vocês de alguma forma… e nunca conseguirão encontrar Hermione antes disso!

- Tem razão – para o choque de Ronald, o bruxo concordou veementemente – nunca iremos encontrá-los… ao menos, não se considerarmos as habilidades inatas de sua esposa em se camuflar e desaparecer – aproximou-se, fitando-o com desprezo – deixaremos que la venha té nós. Assim, poderemos dar cabo desta pequena ameaça de uma vez por todas… e sem qualquer alarde – ajoelhou-se, puxando violentamente sua cabeça para cima – agora que temos você como isca… Weasley virá correndo para os braços da Morte… numa tola tentativa de lhe salvar.

Admirou-se por um segundo ao observar Ronald se debater, rosnando baixa e roucamente, tal e qual uma criatura ferida.

- Vocês não tem a menor ideia do que estão causando, não é? - exclamou, furioso – do sofrimento que provocaram… das vidas que ceifaram…! - arfou – onde está sua consciência…? Isso não te incomoda nem um pouco, Blackhole? Saber que centenas de crianças morreram por sua causa….?

Andrew franziu o cenho, soltando a cabeça de Ronald.

- Todos nós sacrificamos alguma coisa para realizar algo, Weasley – sussurrou – a Serpente abriu mão da própria linhagem para que esta causa vingasse… e todos nós nos dispusemos a fazer o mesmo. Compreende? Fizemos isso para que nossa verdadeira família… o mundo bruxo, puro, mágico e universal… pudesse outra vez ver a luz do dia. A recompensa virá depois… na forma de novas crianças, que nascerão neste extraordinário futuro, finalmente limpas da imundície dos sangues-ruins.

Era visível. Andrew Blackhole era um partidário paranoico, que acreditava cegamente em toda a ideologia doentia da Serpente.

- A vitória conquistada pelo sangue de inocentes nunca poderá ser uma vitória, Blackhole.

Andrew sacudiu a cabeça desvairadamente.

- Você ainda tem muito o que aprender, garoto. É mesmo uma pena que não terá tempo para perceber o como estão sendo tolos em resistir. Só entenderão isso… quando seu mundo fantasioso finalmente estiver em chamas.

Ambos viram a cabeça, sobressaltados, quando o som de passos aproximou-se do cômodo.

- O que…

- Ah… - Blackhole vincou a testa, reprimindo um gracejo quase vilanesco – parece que você terá a honra de conhecer o pilar sobre o qual o novo mundo se erguerá, Sr. Weasley.

O Comensal da Morte recuou, dando espaço para que um novo vulto encapuzado se aproximasse de seu prisioneiro.

Mesmo sob a penumbra do cômodo destruído do castelo, Weasley podia identificar um tipo de máscara de ferro sobre o rosto do estranho, na forma de um grande focinho com presas. Olhos brilhantes e claros relampejavam pelas órbitas de sua fachada, analisando Ronald com um misto de curiosidade e sarcasmo arrepiante.

- Então… - uma voz retumbante ecoou pela máscara, extraordinariamente familiar – você realmente está aqui.

Fitando a pessoa oculta pela capa, Ronald resfolegou.

- Você… é a Serpente?

Embora não estivesse visível, era óbvio que o recém-chegado sorria.

- Eu sou… quem for necessário ser.

Erguendo uma mão pálida sobre o rosto, ele agarrou a própria máscara, retirando-a cuidadosamente, e abaixando-a para longe da própria face.

Outra facada teria atingido-o com menor intensidade do que reconhecer a pessoa por baixo da capa.

- VOCÊ!









Fênix NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora