Lealdade

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- Ah, Weasley... sente-se, por favor.

Ronald manteve-se de pé, impassível. Os punhos, fechados sobre a mesa da sala de reuniões, não aparentavam nenhuma evidência de relaxarem tão cedo.

Harry suspirou, angustiado, vendo as feições duras do amigo varrerem cada rosto dos que estavam presentes ali.

- Não estou a fim – vociferou – e então?

Alguns dos aurores se entreolharam de modo tenso. Oliviene, ao lado da cadeira do ministro, baixou a cabeça desanimadamente.

Ninguém parecia disposto a anunciar a decisão do Ministério sobre as atitudes de Hermione.

- Veja bem, Rony... - a secretária disse, hesitante – o Ministério da Magia tem regras e leis específicas para casos de cunho social e psicológico... em resumo, entendemos que as ações de Hermione foram consequência de um período anormalmente debilitador de luto... mas ainda assim... - ela inspirou profundamente – não podemos ignorar a dimensão do que ela causou – balançou a cabeça – um homicido, ainda que seja dum Comensal da Marote.... ainda é um homicídio, Weasley. Aquele homem... aguardava julgamento.

A mesa estremeceu com a pancada que Rony desferiu sobre ela. Os aurores se retraíram.

- Eu não me importo com a vida inútil de um bruxo miserável, Stark – Weasley sibilou – estamos falando de minha mulher – impiedoso, acrescentou – de sua amiga.

Oliviene encolheu-se, envergonhada.

- Todos nós sabemos como Hermione é – intercedeu Neville – céus, ela não é... cruel. Não é uma inimiga. Ela está... ferida – acrescentou, em tom baixo – uma pessoa ferida faz coisas terríveis... sem perceber que de fato são. Não podemos julgar as ações dela sem analisar todos os aspectos!

- Então está sugerindo que deixemos Weasley continuar assassinando desenfreadamente, enquanto aguardamos a certeza do quanto ela será perigosa? - replicou um dos aurores – será que você enlouqueceu?

Antes que Ronald apanhasse a varinha em retaliação, outra bruxa prosseguiu, erguendo a mão em pedido de silêncio.

- Todos entendem o que ela está passando. Mas se Hermione continuar nesse caminho, ela pode se tornar uma verdadeira ameaça... até mais do que estes grupos de Comensais da Morte. Uma pessoa angustiada e descontrolada é muito mais ameaçadora do que vários bruxos perversos. Se eles já desconfiam da presença dela, não me admiraria que ficassem preocupados. E isso pode causar pânico. Ações impensadas. Mais mortes.

- Não diga bobagens, Stacy – Harry finalmente se manifestou – se eu a conheço bem, Hermione deve estar agindo furtivamente desde o incidente com Rockstell. Não recebemos mais nenhum relatório desde a semana passada – completou – isso se ela realmente tem alguma relação com isso. Para mim, toda essa reunião é uma perda de tempo, que poderíamos estar aproveitando na busca do verdadeiro culpado disso tudo... a Serpente.

Após um longo silêncio, Kingsley enfim se ergueu da cadeira.

- Senhoras... senhores... - anunciou, em sua costumeira voz grave – de fato, não iremos erguer veredictos sem provas concretas. Enquanto não tivermos certeza do envolvimento de Hermione Weasley, não se admitirão acusações ou citações sobre isso dentro do quartel-general e no Ministério da Magia. No entanto... - sua expressão tornou-se pesarosa ao encarar Ronald – caso haja confirmação desses fatos... teremos que adotar uma medida para... conter qualquer ameaça.

O rapaz olhou friamente na direção do ministro. Cada palavra vinha carregada, como se ele despejasse um peso cruel sobre Kingsley.

- Defina "conter", Quim.

O ministro da Magia devolveu-lhe o olhar triste.

- Se Hermione de fato for culpada... poderá desencadear consequências indesejadas... e teremos que impedi-la.

Alguns dos aurores mais próximos se ergueram quando Rony fez menção de dar um passo a frente, ostentando fúria em cada laivo de seu olhar.

No entanto, limitou-se a dar a costas para os demais, abrindo a porta da ala de reuniões com um puxão violento.

Antes de sair, voltou a cabeça sobre o ombro, encarando-os. Não havia nenhum traço de hesitação em seu rosto.

- Não pensem que farei parte disso. Mantenha a Ordem da Fênix longe dela, Kingsley. Não se atrevam a machucá-la – ameaçou – ou não ficarei de braços cruzados. E vocês terão mais um assassino com o qual se preocupar.

Harry sentiu um nó surgir em sua garganta quando a porta se fechou.

O casal de meia-idade ergueu-se do banco quando Ronald deixou as dependências do Ministério.

- Então? - ofegou a mulher, angustiada – descobriram alguma coisa? O que decidiram?

Rony encarou os pais de Hermione. Sentia um bolo se formando na boca do estômago, e temia passar mal na frente dos sogros.

- Eles... - mal conseguia articular palavra, tamanha a fúria e o desespero que o assolavam – não...

- Querido – a Sra. Granger segurou-lhe os ombros – por favor.

O ruivo fechou os olhos, fechando as mãos em punho outra vez.

- Eles querem... persegui-la.

- Céus – choramingou a mulher, cobrindo o rosto com as mãos – por que? - guinchou, soluçante – o que querem fazer com nossa menina?

O Sr. Granger estava igualmente abalado.

A morte da netinha já havia desolado o casal no início da semana. Agora, com o desaparecimento da filha, os Granger estavam definitivamente arrasados.

Vê-la sendo acusada, prestes a ser perseguida como uma criminosa - era o último prego da cruz que os torturava.

Ronald voltou a olhá-los.

- Eu não vou deixar isso acontecer – falou – ninguém vai fazer mal a ela. Não participarei disso... em hipótese alguma – esganiçou-se – mesmo que seja verdade... posso fazê-la mudar de ideia... protegê-la... só preciso encontrá-la.

Abraçou a Sra. Granger de modo condoído, soltando-a logo em seguida.

- Ache-a, Rony – pediu o Sr. Granger, desolado – ache nossa filha. Por favor. Eu imploro.

Rony assentiu.

- Não se preocupe, Wendell. Hermione ficará bem.

- Obrigada, querido – a mãe de Hermione segurou-lhe as mãos, com os olhos marejados – muito obrigada....

Depois que ambos finalmente haviam ido embora, Ronald esgueirou-se para fora das ruas estreitas da entrada do Ministério da Magia, ocultando-se o quanto podia em sua jaqueta negra.

Encarou o céu azul e sem nuvens, cuja imaculada aparência aparentava zombar do estado negro e cinzento em que sua alma se encontrava.

- Eu vou te encontrar, Hermione – sussurrou, suspirando – seja aonde estiver... eu irei te encontrar....

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