Rayane ergueu o olhar para o falso Comensal da Morte, que se ocupava analisando um grande mapa sobre a mesa da tenda.
- Então Pharrel está morto – confirmou, sem esboçar qualquer reação.
Cavallone esboçou um sorriso torto no canto da boca.
- Bambina intelligente – com o dedo, traçou um curso pelo mapa, sem virar a cabeça na direção de Blink – Hermione me surpreendeu com a ideia do Voto. E me parece que fez uma ótima escolha – finalmente desviou a atenção da mesa, encarando-a – como deve saber... precisaremos de mais Poção Polissuco. E tenho certeza que vocês tem um estoque aqui.
A garota baixou a cabeça.
- Acertou – sua cabeça virou-se na direção da entrada da barraca – mas há vigias na barraca. A poção é controlada pelo supervisionador de Blackhole.
O bruxo cruzou os braços.
- Acho que já sabe o que fazer agora, signorina.
A jovem grunhiu baixinho, fechando as mãos em punho. Nãos e arrependia de estar ajudando-os em troca da própria vida. Mas aquele rapaz insolente zangava-a de modo descomunal.
- E como vou fazer isso?
Ele deu de ombros, despreocupado.
- Use a cabeça, Blink. Não é problema meu – acrescentou em tom baixo – e se falhar, já sabe o que a aguarda. Caso você morra, teremos que partir para o plano B.
Renato disse isso sem expressar qualquer incômodo com a possibilidade da morte da garota. Isso fez com que Rayane o desprezasse ainda mais.
Sentiu o feitiço silenciador pulsar ao seu redor, contendo os cochichos entre os dois.
- Escuta aqui – sibilou – não é por que jurei lealdade a vocês serei obrigada á aturar essa sua atitude!
O homem a fitou, sua expressão vincada de deboche.
- Bene, bene – riu baixo, em tom de sarcasmo – me parece que a piccola volpe está tentando mostrar as garras...
Houve um baque quando Renato agarrou-lhe a garganta, prendendo seu pescoço contra a coluna da tenda.
Com a raiva estagnando qualquer medo, Rayane apenas o fuzilou com o olhar.
- Hermione não consegue se focar – sussurrou de modo sombrio – não pense que terei a mesma benevolência dela, bambina. Se nos prejudicar... - apertou ainda mais – e se insistir em me desafiar... - intensificou o aperto, fazendo-a arquejar – eu te mato. E não será ela que irá me impedir!
Num movimento rude, soltou Rayane. A garota dobrou o corpo, arquejante, com as mãos na garganta.
Lacrimejando, Blink devolveu um olhar encolerizado para o rapaz.
Dando as costas para ele, fez menção de sair da tenda, com a respiração alterada.
Antes de sair, porém, olhou-o de soslaio.
- Vocês não foram os únicos que perderam tudo – rosnou – e estão esquecendo qual é o verdadeiro inimigo aqui.
E, tendo dito isso, sem aguardar para ver a reação de Cavallone, Rayane saiu da barraca.
As horas pareciam uma eternidade para Hermione.
Ainda presa, sentindo o corpo dolorido pelos ferimentos, encontrava-se num estado de torpor reflexivo, deixando sua mente vaguear.
Lembrava-se daquela noite fatídica, sentindo o rombo no peito rasgar-lhe a alma, tirando-lhe quase todo o ar.
Rememorou-se dos eventos que precederam a tragédia, tentando ignorar a dor que teimava em tentar dominá-la.
- Hermione...
Ele sabia como a satisfazer. O chocar dos corpos, as respirações ofegantes, os suspiros de prazer. Aquilo a enlouquecia. Era ali, como em tantos outros momentos, que Rony a fazia ser a mulher que era – o único momento em que desejava ser vulnerável, e se entregar aos seus mais delirantes desejos.
Sabia o que seus choramingos provocavam nele. Sentia-o sobre si, dentro dela, produzindo aquela sensação prazerosa que lhe invadia o corpo, como uma tormenta extasiante.
Desde o casamento, era uma mania de Rony surpreendê-la em todas as ocasiões – incluindo aquelas. Então não se importava com a atitude um tanto ousada de prender seus pulsos contra o travesseiro, enquanto movimentava-se acima dela, ofegando como um animal ferido, refletindo seu próprio delírio, ouvindo-o suplicar seu nome.
Ver o desejo e o amor nos olhos dele... ver como ela o fazia perder o controle... ver o quanto Rony a amava. Aquilo ela extraordinário. Tudo pelo qual sempre se esforçaria em alcançar.
Abraçou-o, estremecendo quando o rapaz cedeu de êxtase, desabando suavemente sobre o corpo dela.
Fremindo, buscou os lábios dele, despejando-se num beijo apaixonado.
- Boa menina... - ouviu-o sussurrar, num arquejo humorado e provocativo.
Hermione corou, refreando a vontade de socá-lo. Em vez disso, afagou-lhe os cabelos, arfando baixo, sentindo seu coração pulsar, naquela música que apenas Rony sabia tocar.
- Eu te amo...
Rony lhe sorriu.
- Você é tudo para mim, Hermione...
Aquele curto momento no passado, porém, lhe custou um momento do presente, fazendo-a não perceber a aproximação de Cavallone.
- Está bem, fenice?
Hermione assentiu fracamente.
- Sim – suspirou – só estava... divagando.
Renato abaixou-se, secando uma lágrima que escorria discretamente pela pele ferida. A jovem o olhou, inexpressiva.
- Eu sei que dói – afagou-lhe o rosto – mas nossa vingança não tardará, minha bela. Guarde minhas palavras.
Ela concordou com a cabeça.
- Conseguiu as informações?
- Sim – um sorriso medonho cortou o rosto de Cavallone – encontrei todas as localizações, e já sei como dizimar todos de uma vez. É tão simples... que me indigna não ter pensado nisso antes – tranquilizou-a – deixe isso em minhas mãos.
- E a garota?
A expressão de Renato fechou-se.
- Blink? - grunhiu – vou ser franco... ela pode nos atrapalhar. Não confio nela.
Hermione lhe lançou um olhar frio.
- Eu também não confiava em você, Renato – sua voz era ríspida – e aqui estamos nós.
Cavallone encolheu-se, como se as palavras de Hermione tivessem-no atingido como uma facada no rosto.
- Vou fazer minha parte – foi impossível não perceber os punhos de Renato se fechando – e a garota fará a dela. E, assim que acabarmos, deixaremos esse lugar.
Enquanto saía, olhou uma última vez para a garota aprisionada, prosseguindo seu caminho sem seguida.
Ainda sentia os dedos úmidos com a lágrima de Hermione.
- Ah, minha fenice... - sussurrou para si mesmo, vislumbrando as nuvens negras no céu – se eu também ouvisse meu coração... deixaria sua chama me incendiar, por que você roubou a última coisa que ainda me restava...
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Fênix Negra
FanfictionComo forma de retaliação pela derrota de seis anos antes, uma maldição ancestral - conhecida por outro nome e outra época - é trazida de volta por bruxos das Trevas, ceifando a vida de todas as crianças primogênitas do mundo bruxo europeu. Sendo um...