Após várias horas de aparatações, o grupo chegou á uma das principais estradas do interior da Bélgica. Seguindo as pistas que haviam coletado durante o caminho, o último rastro de atividades incomuns terminava em uma pequena estradinha na aldeia de Celles - a Ferme de La Cour.
- Há um hotel aqui na rua – Nora observou, conforme se aproximavam das construções típicas, arquitetadas quase que completamente com pedras e tijolos claros – podíamos pernoitar aqui até amanhã.
Apesar de ter aguardado a negativa de Hermione, para sua surpresa, Stuart a viu assentir levemente, contraindo ligeiramente o rosto.
- Sim… - ofegou – é melhor passarmos a noite aqui, Stuart.
Cavallone franziu o cenho para Nora, que aparentou empalidecer por um momento. Foi o bastante para que a jovem ficasse amuada, dali em diante, por um longo período do dia.
Utilizando-se do restante da Poção Polissuco de Hermione, todos tomaram as identidades de uma família de viajantes trouxas, cujos fios de cabelo Rayane havia coletado durante a viagem. Enfim, devidamente preparados, deram entrada na pequena hospedaria de luxo do Hotel Le Saint Hadelin.
- Dois quartos de casal – pediu Cavallone, olhando de esguelha para Rayane e Nora.
A atendente sorriu. Por mais que o país tivesse fortes ideologias religiosas, aparentou uma serena simpatia com o fato de Renato ter se referido à elas como companheiras.
- Aqui está – entregou-lhes as chaves dos quartos, após Hermione lhe pagar a hospedagem – vão querer receber o menu de vieiras, pastinaca, ou carne de lebre e foie gras durante o dia? Apenas trinta euros à mais na diária.
Houve um inesperado resfolegar da parte de Weasley.
- Não… obrigada – apressou-se em dizer – aqui estão os nomes para registro – proferiu, dobrando o papel junto do pagamento – vamos…
Enquanto subia, Nora apanhou um pequeno pote de crème brûlée do balcão, erguendo um olhar brincalhão para Rayane. Tanto Blink quanto Cavallone parecerem reprimir o riso, e até mesmo Hermione ergueu uma sobrancelha humorada, conforme iam em direção á suas respectivas suítes.
- Esse camarão está uma delícia.
Rayane e Nora jamais haviam experimentado alimentos tão diferentes e saborosos em suas vidas – quanto mais provar da exuberante culinária dos trouxas. Portanto, ambas passaram boa parte da tarde, desfrutando dos quitutes que o copeiro havia trazido no quarto.
- Ela não disse que não queria o adicional de comida? - indagou Nora, confusa.
Rayane suspirou.
- Imagino que seja… por causa daquilo - ambas trocaram um olhar sombrio por um segundo – mas realmente… não esperava que Weasley fosse pedir que passassem em nossa suíte – encarou Stuart, pensativa – eu te disse… ela não é uma pessoa má, Nora.
- Eu sei – ela sacolejou a cabeça, exasperada, fatiando o peito de pato que ainda comia – pombas, Ray. Nada disso teria ocorrido se o kindermoord não tivesse acontecido. Sabe disso – ofegou – isso… muda completamente a natureza humana. O medo… o pesar. O sofrimento. Até a alma mais pura corre risco de ser corrompida… quando começa a alimentar uma vingança – murmurou – foi assim… com meu tio.
Rayane baixou a cabeça.
- Nunca me contou o que houve com sua família no passado.
- Não tinha por que dizer – Nora disse entredentes, logo em seguida arrependendo-se do tom ríspido que havia acabado de usar – eu… nunca quis que soubessem. Tio Albert… sempre foi um bruxo extraordinário. Visionário. Muito carinhoso – Stuart vincou a testa, angustiada – pelo menos… até a matança dos Comensais da Morte começar.
“Tudo que me contaram era que haviam assassinado minha tia a sangue frio, em uma das incursões que haviam feito para tentar localizar Harry Potter e seus cúmplices foragidos. Várias mortes haviam acontecido naquela época… ela foi apenas mais um nome citado no rádio. E nada mais.
Desde então… Albert deixou de ser o mesmo. Papai dizia que a morte da tia Audrey… havia arrancado alguma coisa dele. Sua parte humana. Aquela capaz de sentir. De viver… de amar.
Ele tentou perseguir os Comensais que haviam matado sua mulher. Aquilo o consumiu… de verdade. O pouco que ouvíamos falar dele sempre se associava à baixas inusitadas de núcleos inteiros de bruxos no norte da Europa. E não era apenas de Comensais, Ray… mas de mulheres… até mesmo crianças.
Aquilo não era meu tio… era um monstro.
Um monstro que havia se deixado devorar pela dor e pelo ódio, tendo se transformado numa ameaça tão cruel quanto o próprio Voldemort."
O olhar de Stuart devaneou por um momento, desvairado de tristeza. Rayane tomou sua mão nas dela, condoída.
- O que houve com ele?
Nora soltou uma risada amarga.
- Estava em meio à Batalha de Hogwarts quando meus pais o reencontraram – disse, num fio trêmulo de voz – depois de matar várias outras pessoas… incluindo estudantes da escola… - abraçou o próprio corpo, trêmula – foi encontrado dilacerado…. com o corpo repleto de mordidas de lobisomem – guinchou, numa demonstração de penoso e angustiado sarcasmo – acho que nem os Comensais da Morte… esperavam algo tão sanguinário em seu caminho.
Blink levou as mãos à boca, penalizada.
- Ah…. Nora…
Nora permitiu-se chorar sobre o ombro de Rayane, retribuindo sofregamente ao seu abraço, como se a garota fosse o último colete salva-vidas em seu mar de desolamento.
- Ray…
- Está tudo bem – Rayane a apertou contra si – isso não vai acontecer com Weasley… ela dará um jeito em tudo. Impedirá a Serpente. E logo encontraremos o restante de sua família… - sussurrou - eu prometo.
Oculta das duas jovens, do lado de fora do quarto, e apoiada delicadamente sobre a porta, Hermione inspirou profundamente, deitando a cabeça sobre a superfície amadeirada, encarando o teto do corredor de forma inexpressiva.
Ainda perturbada pela crise de enjoos anterior, fechou as pálpebras com força, como se assim pudesse dissipar os pensamentos irrelevantes que acometiam sua mente conturbada.
É bobagem tentar desistir agora. Grunhiu consigo mesma, fechando as mãos em punhos. Estamos mais perto do que nunca. Não é hora de ser fraca. De ter pena… de ter compaixão.
Reabriu os olhos repentinamente, vendo o espelho adornado sobre a parede lhe devolver um olhar feroz e irredutível.
Discipline-se, Hermione.... e termine o que você começou.
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Fênix Negra
أدب الهواةComo forma de retaliação pela derrota de seis anos antes, uma maldição ancestral - conhecida por outro nome e outra época - é trazida de volta por bruxos das Trevas, ceifando a vida de todas as crianças primogênitas do mundo bruxo europeu. Sendo um...