Recostada contra a parede, acometida por uma série de gemidos penosos, Rayane baixou a cabeça, sentindo os efeitos de sua hemorragia piorarem.
Tonta e fraca, a garota apenas ergueu uma pálpebra lentamente para cima, contraindo-se de desgosto ao reconhecer o rosto diante dele..
- Me deixe em paz, Blackhole.
O bruxo abriu um sorriso mórbido.
- Ah… minha doce e rebelde criança… - sussurrou, ajoelhando-se para ficar na altura em que ela se encontrava – sabe que nada disso é pessoal – virou o olhar por um momento, encarando zombeteiramente a expressão crua e feroz de Ronald, que ainda se encontrava ao lado dela - não se trata de vocês… ou de Hermione Weasley… nem de qualquer outra pessoa – Andrew ergueu a mão, fazendo um gesto amplo ao seu redor – estamos fazendo algo majestoso aqui. Podem não compreender agora… mas este o primeiro passo para alterar o curso da História. Criaremos um mundo novo… onde nosso povo poderá viver em paz. Um lugar onde não precisaremos nos esconder. Sei que passaram por coisas ruins… - deu de ombros – mas, um dia, hão de agradecer ao que fizemos.
- Seu…!
Andrew mal recuou quando Weasley tentou se erguer contra ele, cambaleando contra o chão, fazendo tilintar os elos de sua corrente. Escorregou dolorosamente, sem forças até para voltar a se erguer, fitando Blackhole com um ódio incendiário.
Impossibilitada até mesmo de ajudar, Rayane lançou um olhar fugaz para o Comensal da Morte.
- Me diga, Blackhole… - disse, encolerizada – você ao menos sentiu algo naquele dia? - sua fúria era tamanha, que sequer se importou de que Ronald ouvisse suas palavras rascantes – teve uma fagulha sequer de compaixão ou remorso… quando matou aquela garotinha?
O olhar de Andrew estreitou-se, aparentando, por um momento, navegar numa espécie de transe temporal.
- Fiz o que foi preciso, Blink – sussurrou, sem manifestar qualquer emoção – todos fizemos nossos próprios sacrifícios… incluindo a Serpente. Ela se dispôs a oferecer sua própria
filha para isto… e não podíamos fazer menos por esta missão.
Ronald ergueu a cabeça repentinamente, fitando o Comensal.
Seu rosto lívido contraiu-se de choque.
- Um dos registros… - balbuciou, horrorizado.
Blackhole riu-se.
- De fato… vocês andaram correndo atrás do próprio rabo este tempo todo. Aposto que sua querida esposa já deduziu que poderiam simplesmente ter analisado os registros das crianças mortas que não foram identificadas… e fazer qualquer ligação que fosse para encontrar os “responsáveis” - resvalou uma sobrancelha, saboreando a angústia de seus prisioneiros – agora… já não importa mais. Vocês chegaram tarde… e, caso sobrevivam à esta noite… testemunharão o início de uma nova era.
Ambos observaram-no retirar das vestes dois objetos alongados, preenchidos com um líquido de cor escura e grotesca.
Ele pousou uma das seringas na mesa ao lado de onde estava, empunhando a que havia restado em sua mão.
- O que é isso..? - indagou Blink.
Percebeu que Weasley havia empalidecido ainda mais.
- Considere como um pequeno presente nosso – sibilou baixo, num tom de voz zombeteiro, agarrando o braço de Rayane bruscamente – peço desculpas por ter mentido mais cedo… a verdade é que vocês ainda serão muito úteis para nós, minha cara menina.
Sorrindo macabramente, Andrew baixou a seringa, enfiando a agulha no braço da garota, que começou a se contorcer penosamente de dor.
E Ronald virou o rosto, sentindo um torpor angustiado dominando-o por completo.
Nora não suportava mais o desespero.
Seguindo com Hermione e Renato, através do longo bosque de Noisy – refazendo a trilha que ela e Rayane haviam feito até o momento em que ela havia sido capturada – a jovem mantinha-se calada, nervosa e cabisbaixa, embora seus olhos se mantivessem alertas sobre os arredores.
Cavallone – que mantinha o feitiço de invisibilidade que recobria os três – vincou a testa, virando-se em sua direção. Percebeu-se um mínimo movimento de sua varinha, que evidentemente havia conjurado um Feitiço Silenciador.
- Stuart?
- Sim? - murmurou roucamente, mal erguendo o olhar.
Renato suspirou.
- Mi dispiace… sinto muito… por ter sido rude… no hotel – surpresa, Nora sentiu a mão dele repousar gentilmente em seu ombro – sei que… deve estar sendo difícil. Entendo que esteja aflita.
A garota não conseguiu conter um soluço.
- É culpa minha… tudo culpa minha – ofegou – eu devia… ter feito alguma coisa. Eu… - encarou-o, desolada – agora sabem que estamos aqui – uma risada amarga e sem humor escapou de seus lábios – realmente me surpreende que Hermione não tenha me matado ainda.
Por alguma razão, o comentário de Stuart aparentou perturbá-lo intensamente.
Virou-se por um momento para Hermione - que ainda se encontrava com a aparência da trouxa loura de meia idade, cuja identidade havia assumido desde a chegada ao hotel.
Não havia hesitação em sua expressão. Nenhum temor ou segurança evidente. Tampouco confiança e segurança.
Não havia nenhuma emoção ali.
Era a expressão de alguém que já não tinha mais nada a perder – uma força impetuosa, imparável e feroz, apenas preocupada em concluir seu objetivo.
- Ela não é este tipo de pessoa - murmurou entredentes.
- Acha mesmo? - choramingou Nora – Cavallone… você viu o que Weasley fez… e sabe o que fará agora – ciciou – ela… ela não vai parar. E se, por algum milagre, sobrevivermos e vencermos a Serpente… o vazio dentro dela não vai… simplesmente desaparecer. Hermione vai querer mais – ofegou, desolada – e tenho medo do que isso significará.
Pararam de caminhar repentinamente, assim que Hermione parou adiante, virando-se repentinamente na direção deles.
Discretamente, Renato finalizou o feitiço, esperando que Weasley não tivesse percebido o movimento.
- Não vou tolerar covardias ou traições daqui em diante – disse em tom ameaçador – se entrarem comigo… permanecerão até o fim. E não quero ter que eliminar nenhum dos dois à esta altura – fitou Renato friamente – mesmo depois de seu deslize patético, Cavallone. Espero ter sido clara.
Os dois assentiram, entreolhando-se por um momento;
- Não haverão motivos para isso, Weasley – Nora falou – só sairei de lá com Rayane… - seu olhar tornou-se trêmulo por um momento – ou não deixarei este castelo.
Hermione não demorou-se perante sua declaração, voltando a caminhar através da trilha de árvores, seguida pelos dois bruxos.
Porém, por alguma razão, incomodou Nora que Cavallone não tivesse se pronunciado.
E, por um segundo, achou ter visto um laivo de medo nos olhos do rapaz.
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Fênix Negra
FanfictionComo forma de retaliação pela derrota de seis anos antes, uma maldição ancestral - conhecida por outro nome e outra época - é trazida de volta por bruxos das Trevas, ceifando a vida de todas as crianças primogênitas do mundo bruxo europeu. Sendo um...