Cheguei em casa depois de meia hora esperando papai! Pensei em vir de apé.
Caminho até a entrada, papai foi guardar o carro na garagem e quando abro a porta estou encantada. A casa parece mais habitável com os móveis posicionados.
Subo para o quarto e olho pela janela. Está escuro, mas prometi que iria atrás de Rocca. Preciso de uma lanterna e carne. Decido descer para jantar e vejo papai sério.
- Está tudo bem papai? - ele está sentado em uma poltrona na sala e com o olhar vazio. Ele parece não ter ouvido minha pergunta. Repito.
- Papai? - me aproximo e encosto em seu ombro com o olhar preocupado. - Papai fala comigo! - ele pisca e olha para mim, está muito triste - papai o que aconteceu?
- Nada querida! Estou lembrando de sua mãe deitada sobre aquelas folhas... - ele para e olha para as mãos. Dou um beijo em sua testa e caminho para a cozinha, pego carne e procuro pela lanterna. Encontro na última gaveta da cozinha. Coloco dentro de uma sacola escura e volto-me para papai, seu semblante é triste. Suspiro.
Me aproximo de papai e me abaixo ao seu lado.
- Vai ficar tudo bem! - dou um sorriso fraco e papai deposita um beijo no topo das minha cabeça.
- Eu sei querida! - ele acaricia meu rosto e se levanta, começa a caminhar em direção a escadaria.
- Papai! - ele se vira discretamente - Vou caminhar um pouco, janto quando voltar.
- Claro, eu não estou com fome, vou me deitar mais cedo, se importa? - me levanto e sorrio.
- Não papai, descanse... Volto logo! - papai volta a subir a escadaria e eu decido sair antes que ele mude de idéia e diga que é perigoso.
Caminho em direção a floresta e ligo a lanterna quando os três últimos postes que iluminam a rua ficam para trás.
Estou tentando enxergar mais coisas a minha frente, porém não vejo bem! Chego a entrada da floresta.
- Rocca! - grito. Nenhuma resposta e escuto o eco de minha voz correr pela floresta.
Decido entrar um pouco e tentar encontrar o local que mamãe foi encontrada, caminho um pouco e a lanterna falha.- Droga! - bato ela na palma da mão, mas ela não volta a funcionar, minha sorte é a lua que ilumina a noite hoje.
Decido continuar e o que vejo me deixa fascinada. O local onde mamãe morreu tem flores, mas as flores estão brilhando em um intenso tom avermelhado. É lindo!
Me aproximo e me abaixo para tocar as flores brilhantes.'Ada corra! Saia daí Ada! Ele está vindo!'
Conheço esse sussurro, é Rocca. Meu coração acelera com suas palavras. Sussurro de volta.
'Onde você está?'
Escuto as folhagens se moverem e vejo Rocca com os olhos amarelos. Ele está com medo. Ele acena me chamando e o sigo correndo, os próximos sussurros eu não reconheço, estão em meus pensamentos, como se tivessem invadido minha cabeça. É uma voz grossa, rouca e atraente, é quase como uma súplica, pedindo, quer dizer, implorando pelo meu nome.
'Ada!'
'Ada!'
'Volte Ada! Volte para mim'A voz está vindo da direção de onde estão as flores brilhantes. Sinto uma vontade enorme de voltar. A voz fica mais exigente e firme.
'Ada, chame pelo meu nome! Deixe-me ouvir sua voz! Chame meu nome!'
Corro mais desesperada atrás de Rocca, sei quem está me chamando. É Severo e ele quer ouvir eu dizer seu nome! Não posso.
Paro subitamente e fecho os olhos.'Chame meu nome! Deixe-me te encontrar'
A voz é inebriante e cheia de desejo, é irresistível e estou começando a me perder em seu som rouco e desejoso.
Sinto algo me puxar, abro os olhos e vejo os imensos olhos amarelos me arrastarem para fora da floresta. Estou ofegando quando paramos. Rocca está me olhando assustado.
- Não se deixe levar pela voz de Severo! Nunca pronuncie o nome dele Ada! - seu tom de voz está repleto de pavor. "Mas a voz é tão sedutora" estou olhando para Rocca com confusão.
- Era Severo? - parte de mim sente que sim. Rocca me olha e assente.
- Não posso ouví-lo, mas sei que ele estava na floresta, por isso não sai, fiquei com medo de que ele me seguisse e te achasse. - vejo seus olhos amarelos se entristecerem - ele chamou por você né? Por isso que parou no meio da floresta! - ele olha para todos os lados apavorado, parece temer que eu tenha o chamado mesmo em pensamento.
- Fique tranquilo! Não chamei ele, você não deixou eu chamar... - dou um sorriso sincero e me aproximo de Rocca, seus dentes afiados estão escorrendo algo pegajoso. Retiro os pedaços de carne da sacola e entrego para Rocca. Ele está trêmulo e pega os pedaços, seus olhos começam a voltar para o branco e vejo que ele se acalmou.
Ainda me recordo do som que a voz tinha. Era uma mistura de várias sensações, nunca tinha ouvido voz tão profunda e atraente. O tom grosso e rouco me causava êxtase. "Pare agora Ada!" me repreendo por ter essas sensações e me lembro que devo odiar profundamente com todas as minhas forças, Severo.
Tento ligar a lanterna novamente e ela volta a funcionar como se nada tivesse acontecido "Que estranho!" .
- Rocca quero que você se cuide! Se esconda e não deixe Severo te encontrar - tenho medo que Severo machuque ele, se ele foi capaz de matar minha mãe, imagina o que poderia fazer a essa pobre criatura.
- Sim, se cuide também Ada, não volte a floresta! Severo está muito perto de te encontrar. - Rocca parece muito preocupado.
Ouço pisadas lentas na folhagem da floresta. Rocca pede para que eu vá embora. Ouço uma risada sínica cruzar a floresta e espantar os pássaros, mesmo meu coração estando pulando de medo, algo dentro de mim pulsa fortemente ao ouvir aquela voz. Corro sem olhar para trás e só paro quando fecho a porta do quarto atrás de mim. Corro para a janela e olho de soslaio, não vejo nada. Sinto um súbito medo em relação a Rocca.
Fecho as janelas e sento-me no chão, estou apavorada e com o coração na mão, sinto um frio na espinha ao me lembrar da risada de Severo. Sua voz é como uma melodia tranquila e perturbadora ao mesmo tempo.
Controlo o meu pavor e desço a escadaria, vou para a cozinha e esquento um prato de comida. As janelas desta casa não são de vidro e sim de madeira, por conta disso não vejo o que está escondido por trás delas, é reconfortante a sensação de dúvida que sinto, não sinto medo do que há atrás da porta.
Lavo meu prato e tomo um banho demorado, tentando limpar as lembranças da voz inquietante de Severo.
***
Deito em meu travesseiro e começo a relembrar de mamãe, sinto uma raiva tomar meu coração de tal forma que lágrimas rolam pelo meu rosto.
"Maldito Severo!" Minhas angústias estão cada vez maiores e penso em papai, em como ele está e o que aconteceria se Severo encontrasse ele também, sinto uma pontada em meu peito ao pensar na possibilidade de encontro dos dois.
Lembro-me de cada palavra da carta e a que mais está batendo em minha porta é a palavra desprezível. Mostrarei do que a garota desprezível é capaz Severo.
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Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)
FantasiaNão é fanfic (Concluído, ainda passará por revisão) #09 em FANTASIA (03/10/2017) #06 em FANTASIA (01/06/2017) #07 em FANTASIA (02/05/2017) Adaptação de Morfeu. (Imagens meramente ilustrativas) Ada perdeu a mãe em um suposto suicídio, mas descobre um...