Capítulo 46

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Acordo e já é quase noite, o dia foi bem longo e gratificante, apesar das descobertas intrigantes e assustadoras.

Fico me perguntando onde Alicia entra na história, por que se a mãe de Faruk morreu como ela pode existir? Ela obviamente não é uma centenária, pois não foi amaldiçoada.

Ouço batidas na porta e sou trazida novamente para a realidade, caminho até a porta e abro.

Vejo Rocca e Uga entrarem apressados.

- Aconteceu alguma coisa? - eles estão ofegantes, ou seja, estavam correndo.

- Não Ada... - Rocca respondi.

- Estavam brincando apenas né...- dou um sorriso e fecho a porta.

- E como está seu braço? - Uga pergunta.

- Bem - mexo levemente demostrando a melhora dele. Caminho até a cama e me sento entre eles.

- Ficamos sabendo que saiu hoje... - Rocca lança, reviro os olhos.

- Queria mesmo era fugir desse lugar e voltar para casa, estou com saudades de papai - Um nó surge em minha garganta, mas não irei chorar.

- Ele deve estar preocupado - Uga diz tristemente.

- Não Uga, ele deve estar triste, pois acha que estou morta... - "Maldita hora que tive essa ideia sem pé nem cabeça!"

- Ó! Entendo! - Uga diz e pula para o chão - Ada... Ouvi Faruk dizer que hoje você jantaria com todos, você vai mesmo? - ele me pergunta entusiasmado.

- Não estou sabendo de nada disso e mesmo que ele quisesse eu não iria, não quero me sentar na mesma mesa que Alicia! - a animação de Uga desaparece.

- Entendo... - "Por que todos tem essa reação quando digo que não farei alguma coisa que agrade Faruk!?"

- Por que pergunta?

- Por que... Bem... Esqueça...

- Diga Uga! - pergunto firmemente.

- Hoje é um dia importante para Faruk e ele costuma ficar sombrio. - "O dia estava bem ensolarado hoje!"

- Ele não parecia sombrio mais cedo e o céu não está perturbado...

- Ainda... - "isto está me dando nos nervos!"

- Diga logo o porquê de ser um dia especial!?

- Foi na noite desse dia que a mãe dele morreu... - sinto como se tivesse levado um soco na boca do estômago.

Me levanto, caminho até a janela e abro. Realmente o céu está escurecendo e se enchendo de nuvens e pela primeira vez o vento está mais forte do que de costume, é como se estivesse se aproximando uma tempestade.

Fecho as janelas.

- O que costuma acontecer nesse dia? - tenho medo da resposta.

- Duas vezes no ano temos uma tempestade em Pearl, essa tempestade já acontece a alguns séculos, no começo era só uma, mas depois que sua mãe fugiu a tempestade acontece duas vezes. Ela costuma destruir as florestas e causar um estrago no vilarejo. - o olhar de Uga fica mais triste - Muitos mortais e criaturas morrem nesses dias...

- Então hoje... - Rocca me interrompe.

- Hoje terá uma carnificina... - meu coração parece que vai sair pela boca. "Meu povo passa por mais desgraça por culpa de Faruk!"

Caminho até a porta e saio para o corredor, "logo logo Faruk vai chegar no castelo" caminho em direção a porta negra e abro.

Procuro algum ser alado para me ajudar, mas a única coisa que encontro são fadas. "Vai elas mesmo".

- Com licença... - a fada me olha com desprezo "odeio fadas!" - peça para alguém trocar a água da minha banheira e levar um vestido elegante para meu quarto... - ela continua me olhando - Agora! - finalmente ela se vira e sai.

Volto para o quarto. "Não quero acordar, olhar pela janela e ver sangue por todo lado!" Só o fato de imaginar meus protegidos mortos, faz com que eu sinta meu peito arder.

Rocca e Uga abriram a janela novamente e estão olhando para fora e apontando o dedo para o lado das nuvens, elas estão chegando mansamente e o vento também. "Preciso fazer alguma coisa para evitar que aconteça essa tragédia enquanto eu estiver aqui!"

Caminho em direção a eles e me sento ao lado de Rocca.

- Está esfriando né... - digo acariciando meu pulso. Uga responde.

- Pela primeira vez estarei protegido. - sua afirmação faz meu coração apertar.

- Por que diz isso?

- Por que o castelo foi reforçado para aguentar as tempestades... E aqui dentro estamos seguros. - assinto e olho pela janela.

Não demora muito e logo um ogro entra no quarto e recolhe a banheira. Continuo olhando pela janela e imagino o quanto meu povo deve ter sofrido nos últimos anos por causa do meu tataravô e a maldita bruxa e sofrido mais ainda quando mamãe fugiu.

Terei que engolir todo meu orgulho e ser legal com Faruk hoje a noite e caso ele peça para mim jantar com todos, irei.

Depois de um longo tempo as nuvens já cobriram o céu e o vento está soprando forte.

O ogro retorna com a banheira e alguns seres alados trazem baldes de água e um vestido. Peço para que Rocca e Uga me dêem licença e me dispo. Tomo um banho demorado para limpar fisicamente e emocionalmente.

O vestido que eles trouxeram é avermelhado, combina perfeitamente com minhas asas e cabelo.

Visto e arrumo meus cabelos. Respiro fundo e me sento na cama, a noite já caiu e está realmente sombria.

Decido deixar a porta do quarto aberta, assim quando Faruk chegar poderei ver ele entrando no quarto dele.

Fico alguns infinitos minutos esperando Faruk chegar.

***

Já se passaram horas e nada de Faruk, os trovões começaram a alguns minutos e fechei a janela, o vento que está correndo é frio e forte.

Finalmente vejo Faruk passar, ele não olha para o lado do meu quarto mesmo que a porta esteja aberta. Suas roupas estão piores do que cedo e o braço enfaixado está com a ferida exposta, além de vários arranhões espalhados pelo seu corpo.

Suas asas estão intactas.

Ele entra para o quarto e nem sequer me vê "talvez Uga ouviu errado..." Sinto uma pequena rejeição. "Ele não te viu Ada!"

Minutos depois Faruk sai do quarto e me olha de soslaio, ouço um suspiro e ele caminha em minha direção. Estou sentada na ponta da cama.

Ele para na minha frente e ergue meu queixo com a ponta do dedo me forçando a olhar para ele, seu olhar está triste.

- Gostaria de jantar com todos hoje a noite, claro que se não quiser eu não irei te obrigar, mas seria imp... - interrompo.

- Eu vou - digo a contragosto.

Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora