Capítulo 38

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A parte da tarde passou voando talvez por que eu tenha tirado um cochilo.

Quando acordei não vi nem Rocca e nem Uga, estou preocupada com eles, me pergunto aonde eles se meteram.

Decido sentar entre a porta do quarto, caminho calmamente até ela, a única coisa que se escuta é o tilintar das correntes no chão, como meu pulso esta dolorido estou caminhando e apoiando ele com a outra mão.

Abro a porta cuidadosamente e me sento, corpo para fora e asas para dentro do quarto, fico sentada por alguns minutos e começa o movimento, fadas, ninfas e seres alados caminham pelo corredor, elas comentam sobre como Faruk é isso ou como ele é aquilo e a cada comentário reviro os meus olhos e imito elas.

Algumas passam e me cumprimentam, mas nenhuma chega a parar para conversar. Estou realmente entediada e me lembro da promessa que fiz para Tessa. Eu disse que voltaria... Mas agora não tenho certeza que irei voltar.

Ouço um estrondo e a porta que vem para o corredor vai no canto, Faruk está segurando um ser alado pelo pescoço, noto que é o ser alado cinza, os olhos de Faruk estão repletos de fúria, todo o seu corpo está rígido e seu maxilar contraído. Ele está com uma das mãos em punho, suas roupas estão rasgadas e sujas de barro e sangue e um dos seus braços está sangrando.

- Quando eu sair não quero ninguém no quarto de Ada a não ser mulheres! - "oi? O problema sou eu! Mas... Mas que machista!"

- Eu estou ouvindo tudo! - grito e Faruk olha para mim, imediatamente sua posição muda. - se por acaso você pensar em proibir esse rapaz de entrar no meu quarto eu arrebento essa corrente e fujo daqui sem pensar duas vezes! - "Claro que estou blefando, não é tão fácil arrebentar essa corrente!"

Faruk solta o ser alado cinza e ele se dobra sobre os joelhos tossindo, Faruk olha para ele com desprezo, aperta o maxilar novamente e bufa. Ele começa a caminhar em minha direção e antes que chegue perto demais eu me levanto e entro para o quarto batendo a porta.

- Peça para alguém vim trocar a água da banheira, pois quero tomar banho! - Grito para que ele escute meu pedido.

Suspiro e volto a caminhar para a cama, estou me sentindo um trapo.

"Quem Faruk pensa que é para dizer quem deve ou não entrar no meu quarto!"

Estou sentindo raiva da minha tataravó que decidiu que queria ter filhos e em troca aceitou a proposta ridícula de Faruk.

Estou com a barriga doendo muito, mas não quero comer e sinto que estou ficando fraca.

Minhas mãos estão trêmulas e meu corpo está começando a pesar uma tonelada.

***

Horas depois uma serviçal trás meu prato de comida.

- Em... Sabe me dizer onde está Rocca e Uga? - pergunto preocupada, ela me olha e sorri.

- Eles estavam brincando no jardim hoje a tarde, sabe como é né, broncos amam árvores e duendes são ótimos jardineiros.

- Entendo... Mas já é noite e eles não voltaram... - ela coloca a bandeja na ponta da cama e continua.

- Eles acabaram dormindo e Faruk deixou eles sobre a poltrona dele no salão principal.

- Ó! - "sério, ual!" Estou sentindo me sentindo um pouco mal, dona coruja nem esfriou direito e Uga e Rocca já estão assim com Faruk! "Valha-me Deus!" - pode levar a bandeja não quero comer...

- Mas majestade se ficar sem comer vai acabar doente! - ela me olha preocupada.

- Não estou com fome...- na verdade meu estômago dói, mas não sinto vontade de comer.

Ela me olha por alguns instantes e recolhe a bandeja, só que ao sair não fecha a porta, me levanto e estou no meio do caminho quando vejo um ogro entrar no meu quarto, dou passos para trás preocupada.

Ele não me olha, caminha até a banheira e recolhe ela, retira do quarto, estou paralisada no meio do quarto, vou até a porta e fecho.

Se soubesse que seria um ogro que viria limpar a banheira teria adiado o banho por mais um dia.

Lembro da cena que vi na floresta, um ogro engolindo um diabrete, consigo ver certinho o bichinho morto e ensanguentado descendo guela a baixo.

Volto para a cama e minhas pernas fraquejam, acabo caindo no chão me forço a levantar mais meu corpo não responde. Suspiro.

Decido bater as asas e elas me impulsionam para cima o suficiente para que eu fique de pé, subo na cama e me deito de barriga para cima com as asas abertas.

Fico algumas horas deitada e escuto a porta se abrir, levanto apressada e vejo o ogro colocar a banheira no lugar e logo quando ele sai entram seres alados trazendo baldes de água.

Eles enchem a banheira, um deles coloca um vestido aos pés da cama e minutos depois estou sozinha novamente no quarto.

Dispo-me e entro na banheira, a sensação da água em meu corpo me deixa aliviada, estava precisando de um banho para lavar o corpo e a alma.

Fico durante muito tempo na água e sinto meu humor melhorar pois meus cabelos começam a brilhar depois de lavados e as manchas vermelhas que cobrem meu corpo começam a voltar para a cor avermelhada.

Saio da banheira e me enxugo com o que parece ser pele de algum animal, visto o vestido e volto para a cama lentamente, meu braço está muito dolorido e os movimentos estão cada vez mais complicados.

Solto um grunhido de dor ao me sentar e firmar meu braço na cama, minha cabeça dói e sinto muita sede "preciso tomar água!"

Me levanto e caminho pelo quarto escuro, já é noite e não acendi as trochas ainda e nem veio ninguém acender.

Chego a porta ofegando e sinto meu rosto quente, lágrimas dessem meu rosto, mas não é por tristeza e sim por que a dor no braço, na cabeça e no corpo se tornou insuportável.

Abro a porta relutantemente e empurro até se escancarar. Saiu para fora, minhas asas estão pesadas demais e meu corpo está dolorido demais.

- Por favor alguém me ajuda! - grito entre soluços, a dor e a fraqueza é tanta que caio e sinto o mundo girar, vejo um ser alado me pegar no colo e me levar para a cama, mas minhas vistas estão embaçadas demais e não consigo identificar o rosto.

A dor se torna aguda e eu não consigo mais suportar, ouço a voz do ser alado e sei que não é de Faruk!

- Fica calma majestade! Não feche os olhos... - sua voz está distante.

Sinto o peso das correntes desaparecerem e tudo a minha frente some.

(Só sofre essa coitada e assumo uma parcela da culpa :'( )

Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora