Capítulo 37

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Adormeci depressa  ontem, estava realmente cansada, não fisicamente mas emocionalmente. Hoje quem trouxe o café da manhã foi uma serviçal "graças aos céus".

O corredor anda lotado de pessoas, criaturas femininas para ser mais precisa, isso está me causando um nervosismo descomunal, pois elas andam para lá e para cá e eu? Trancada dentro desse quarto e acorrentada como um animal selvagem.

Rocca e Uga estão sentados perto da janela desde a hora que acordaram e estão comentando sobre as pessoas e criaturas que passam lá embaixo, lá de vez em quando um deles se joga para trás rindo.

Particularmente eu não estou bem humorada então decidi ficar fora da brincadeira, estou querendo um banho, mas não tem como eu tomar um por causa da banheira! Ninguém veio trocar a água da banheira!

Minha cabeça esta doendo e meu pulso esta dolorido por aguentar essa corrente, parece que estou aqui já faz uma eternidade, mas é apenas o segundo dia.

Acho que já gravei todos os detalhes desse quarto, não tem graça nenhuma, é de pedra como tudo nesse lugar, os poucos móveis são desgastados e a única coisa positiva é a vista que tenho daqui.

Muito diferente, é claro, do quarto de Faruk! Lá é lindo e tem meu nome na porta, ou seja, aquele quarto me pertence, mas estou jogada em outro quarto sem graça, por que até isso eu não tenho por direito!

Basicamente sou a futura guardiã mais desrespeitada do reino, fico imaginando como deve ser o quarto de Alicia, muito provavelmente deve ser azul e confortável!

Meu sangue ferve nas veias só de imaginar que ela se senta na minha poltrona que fica no salão principal "Abusada".

Por algum motivo desconhecido hoje o céu esta mais escuro, ou seja, Faruk deve estar muito chato hoje! E isso explica a serviçal ter trazido o café da manhã.

Estou muito chateada comigo mesma por não ter conseguido. As cenas de dona coruja sendo decapitada rondam minhas lembranças e me causam um desconforto gigantesco, sinto meu estômago revirar sempre, não pela cena que vi, mas pelo jeito que Faruk reagiu, ele fez aquilo por capricho!

Ele disse que veria meus reais poderes despertando, ou seja, ele queria que eu sofresse para que minhas asas surgissem e depois do que Rocca falou tenho certeza disso.

Rocca disse também que eu só poderia assumir a coroa se estivesse com todos os meus poderes aflorados.

O tempo passa devagar hoje e demora um pouco para a hora do almoço chegar e quando chega uma serviçal vem trazer, fico muito feliz ao ver quem é! Louise!

Levanto às pressas e coloco a bandeja na cama, temos frutas, carne crua e para mim temos... Não sei identificar.

Volto para Louise e abraço ela, ela retribui um pouco desengonçada, creio que sejam minhas asas atrapalhando. Solto ela e sorrio.

- Louise! Que bom te ver - exclamo batendo palmas.

- Majestade - ela me reverência. Reviro os olhos.

- Pare por favor! Você tem quase minha idade. - é desconfortável ser tratada assim as vezes e isso está fazendo eu me sentir uma centenária igual a Faruk.

- Perdoe-me! Bem... Não posso demorar - ela parece assustada.

- Está tudo bem? - "Se Faruk ameaçou ela, eu quebro os dentes dele!"

- Sim - ela diz nervosamente.

Seguro os ombros dela e balanço.

- Foi Faruk não foi! O que ele fez? Te ameaçou? Pode falar! Não tenho medo dele, se quiser eu mando decapitar ele assim que eu assumir - minha voz sai soberana "sinto até uma pontinha de orgulho de mim mesma!".

Rocca e Uga estão sentados no chão e colocaram a bandeja entre eles, estão comendo e observando nossa conversa.

- Esqueça majestade, não vem ao caso... - "o quê? Vem sim! Claro que vem!"

- Diga Louise, será melhor se disser... - minha voz soa compreensiva.

- Bem... Eu...  - ela se aproxima e diz quase sussurrando para que somente eu escute -Eu ouvi rumores de que dona Alicia está querendo matar a senhorita sem que Faruk saiba.

"Era só o que faltava!"

- Por que? - pergunto piscando várias vezes "OK! Tentei matar ela! Mas Faruk não deixa! Ele me impede todas as vezes..." Ela parece ficar envergonhada.

- Ela não gosta da senhorita... - "novidade!"

- Não se preocupe Louise! Aquela bruxa disfarçada de bondosa vai pagar caro pelo que fez...

Louise se assusta ao ouvir a porta se abrir e abaixa a cabeça se colocando atrás de mim. A pessoa que está na porta é um ser alado, o ser alado cinza novamente.

- Louise você tem que voltar para a cozinha! - ele se dirige a ela com carinho "Ó! Será que eles se gostam! Que fofinhos!"

- Sim senhor - ela atravessa o quarto de cabeça baixa e não olha para ele, ele sorri para mim e fecha a porta. "Sem ninguém normal de novo!"

Decido comer, a comida está muito boa só que um pedaço de carne parece estar se mexendo, "não vou comer isso!"

Após algum tempo observando meu prato, vejo o pedaço de carne se espreguiçar "minha comida acordou? Minha comida cozida acordou? Estou sonhando!"

Ela me olha assustada e consigo ouvir um mini gritinho. Ela sai correndo do prato pelo quarto. Vejo Rocca olhar para ela e logo começar a correr atrás dela. Estou chocada.

Rocca segura o pedacinho de carne falante e abocanha ele, apesar da cena ser pavorosa sinto um certo prazer.

- O que é que você acabou de comer? - pergunto curiosa.

- Uma parte de um humanoide. - "vou desmaiar!"

- O que é um humanoide?

- Esses bichinho pequeno com pernas, braços e boca. São irritantes! Mas saborosos.

- Não quero saber o gosto disso! Deve ser canibalismo comer essa coisinha... - aponto para a boca dele e ele ri.

- Eles não são humanos, são feitos para comer mesmo! - "Mesmo assim dispenso!"

- Com certeza...- dou um riso nervoso.

Uga está brincando com a cortina e eu estou começando a me sentir uma babá!
Babá de um bronco e um duende.

Não passa muito tempo e uma serviçal entra em meu quarto e recolhe a bandeja, minha comida está quase intocada.

- Não vai comer majestade? - olho para ela um pouco horrorizada "da próxima não me traga um humanoide e quem sabe assim eu não como!"

- Traga coisas mortas para eu comer e ficarei grata! - ela me olha confusa e sai.

Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora