Capítulo 12

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Chegamos em casa e papai logo questiona minhas lágrimas.

- O que houve querida? - seu olhar é preocupado.

- Estou abalada com... Com as imagens que revivi do dia que mamãe morreu! - minto outra vez, não aguento mais mentir para papai. Papai me abraça e quando me solta, me puxa para o sofá.

- Não fique assim meu amor! Lembre-se, tudo vai melhorar! - "não vai!"

- Claro, eu sei que sim. - tento em vão sorrir.

- Não fique assim! Saiba que eu te amo querida! Amo mais do que tudo nesse mundo e jamais deixaria alguém lhe machucar! - "Da mesma forma que não vou permitir que Severo te machuque".

- Eu sei que não permitiria... - minha voz sai por um fio.

Seco minhas lágrimas e me coloco de pé. "Hora de ser forte, Ada!".

***

Acordo com uma dor de cabeça tremenda. Já bolei um plano e estou confiante. Tenho uma longa semana pela frente e resolvi colocar minha cabeça para funcionar, tudo tem que sair perfeito.

Primeiro preciso chamar por Severo, por seu verdadeiro nome! Faruk! A partir de agora o chamarei de Faruk. Vamos ver se ele me escuta.

Pego as coisas necessárias para um banho e desço correndo. Me arrumo depressa.

- Bom dia querida! - papai se dirige a mim enquanto subo apressada novamente.

- Bom dia! - exclamo rapidamente e volto a me concentrar. Tenho até sexta-feira para executar meu plano. "Tem que funcionar!"

Retiro os meus livros da mochila e coloco roupas em seu lugar. "Tem que dar certo".

Coloquei três vestidos que tenho.

Desço e tomo café apressada, papai está no carro esperando.

- Desculpe a demora Papai! - papai sorri. Creio que esteja com pena de mim, pois ontem estava chorando. Mas decidi que serei forte e não vou deixar Faruk me abater.

Chego no colégio e guardo as roupas dentro do armário. Sigo para minha sala. Faruk não está no colégio hoje, pois andando pelos corredores, não encontro ele em lugar algum.

Vejo a moça de cabelos azuis e decido perguntar seu nome.

- Moça? - cutuco o braço dela. Ela se vira. - qual seu nome?

- Alicia! - estou chocada! Ela é a irmã de Severo, Rocca me falou sobre ela.

- Você é de Pearl, você é... Você é irmã de Faruk! - ela assente e volta ao que estava fazendo. Então decide falar.

- Faruk é meu irmão, meio irmão na verdade, por isso não sou um ser alado! - olho para ela confusa. "Ser alado?" - Vejo que está pronunciando o nome dele! Ele ficará muito feliz ao saber! - ela parece entusiasmada.

- Achei que ele podia escutar eu dizer seu nome!

- E pode! Basta carregar um sentimento por ele. Seja de ódio ou de amor. - ódio é a palavra certa.

- Ó, entendo... Bem vou me ocupar de outras coisas! Até mais Alicia! - saio de perto dela e termino de chegar em minha sala.

Quando acaba as aulas, decido fazer um teste. Paro no banheiro feminino e lembro de mamãe, de Rocca, dona coruja e todas as palavras que Faruk dirigiu a mim.

Mentalizo certinho.

- Faruk! Pode me ouvir! Faruk preciso te ver.

- Está a minha procura, criança. - levo um susto, ouço sua voz logo atrás de mim, próxima ao meu ouvido.

- Como vê já falei seu nome! O que mais quer que eu faça?

- Volte para Pearl!

- Nunca morei lá!

- Mas seu lugar é lá Ada! Não aqui neste lugar repugnante! - seu olhar é de nojo.

"Tem que dar certo".

- Vou continuar pensando sobre isso! - respondo como quem não quer nada.

- Lembre-se do que está em jogo, pequena Ada!

- Eu sei Faruk, não precisa me lembrar constantemente. - vejo Faruk me olhar friamente e tenho a impressão de que ele quer minha atenção para poder brincar de gato e rato! Mas tenho um plano e se funcionar, Faruk me deixará em paz.

- Te aguardo minha criança! - seu corpo vira névoa e ele se foi.

Saio do banheiro correndo e vejo papai me esperando. Caminho a passos largos para o carro e me concentro. Pretendo tirar Faruk do meu mundo repugnante. Já que Faruk não gosta daqui, então tenho que tirar a única coisa que ele se interessa nesse mundo. Eu!

Chegamos em casa e decido subir, olho pela janela do meu quarto e vejo Alicia com o lobo vermelho, ele uiva tristemente. Meu coração para!

Alicia está me encarando! Mas como!? Ela sabia que eu estava observando seus movimentos? Saio apressadamente de perto da janela e resolvo descer.

Vou aproveitar o máximo de tempo que tenho com papai! Quando eu sumir daqui sei que seu coração ficará em pedaços. Isso está me deixando desesperada e triste. Mas é a única forma de Faruk não voltar para cá e nem me encontrar em lugar algum!

Sinto um frio na barriga ao ver papai colocando a mesa do jantar, "me perdoe por isso papai". Terei que fazer ele acreditar que me suicidei. Faruk também vai achar que cometi suicídio e não me procurará mais, então irei para Pearl e vou encontrar meus amigos! Eles não podem morrer antes de que eu chegue lá!

- O cheiro está maravilhoso papai! - digo me sentando ao seu lado.

- Fiz a comida preferida de sua mãe... - seu olhar se entristece - ela não podia ter nos abandonado - sua voz sai vazia - ela... Ela... Ela e você são tudo o que tenho e agora ela se foi! - papai não tira os olhos do prato vazio, sinto meu coração se estraçalhar, penso no meu plano e é a única chance que tenho de voltar para papai.

Ele terá que sofrer um pouco com minha ausência. "Por favor senhor não deixe ele fazer besteira".

Sirvo-me e começo a comer sem olhar para papai. Ele também se serve e volta a sorrir.

- E como foi hoje no colégio querida?

- Foi bem papai. - me concentro em meu prato.

- Fez amigos no novo colégio já?

- Não acho que devo! As aulas terminam essa semana já. Vou deixar para fazer amigos quando o verão acabar! - realmente penso que será assim, quando tudo estiver resolvido e eu não ter que me preocupar com Faruk no meu pé. Mas antes preciso "morrer".

- Ó! Mas está gostando do colégio? Ontem você não parecia querer ficar lá.

- Claro papai! - "não! As pessoas são estranhas e tenho certeza de que alguns são moradores de Pearl, terei que me mudar de colégio antes do verão acabar e toda essa bagunça estiver resolvida"

- Que bom querida! Sua mãe disse que estudou lá quando tinha sua idade! - me engasgo "estudou lá?" Agora faz todo o sentido.

- Achei que ela não tinha te contado sobre o passado dela.

- Bem filha... Ela me contou sobre ser órfã... - "mentira! Ela tinha mãe, só que fugiu!" - ela me disse também que morou em Norfolk por muito tempo, vivia em um orfanato e que foi embora assim que tinha idade.

- Ela falou em que orfanato morou? - papai nega com a cabeça. "Mentirosa! Enganou meu pai durante a vida toda e ele? Ele acredita fielmente até hoje em cada palavra que ela disse!". Não odeio ela, mas ela poderia ter me contado, seria mais fácil conviver com isso tudo.

- Ela era muito reservada querida! Mas tinha o mesmo brilho que você carrega no olhar. - reviro os olhos, não gosto que papai me compare com mamãe.

- Entendo... - fito o olhar de papai e vejo que ele está sorrindo, provavelmente lembrando de momentos bons.

Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora