Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)

Capítulo 24

Estou começando a odiar esse caminho, nunca chega! Começo a pensar se Uga está mesmo no caminho certo.

- Uga tem certeza que estamos indo para o castelo de Faruk!?

- Uga tem certeza! Chegaremos logo! - continuamos a caminhar, novamente escuto o barulho ensurdecedor e o chão treme.

Olho para Uga e ele começa a correr, acompanho os passos dele sem entender, ele muda de direção e logo voltamos para o caminho de pérolas negras. Ele continua correndo e vejo que todas as criaturas correm na mesma direção que Uga, estamos correndo pelas pérolas e sinto que vou cair a qualquer momento.

Olho para cima e vejo muitas fadas horripilantes voarem para a direção contrária. Paro abruptamente e olho para trás.

Tem um gigante lá! Elas estão voando em direção a um gigante. Meu coração está acelerado e vejo o gigante abrir a boca e soltar um grito. O som ensurdecedor vem dele! Levo minhas mãos aos ouvidos e fico olhando a cena. Sinto quando alguém puxa a barra da minha capa.

Olho para baixo e vejo Uga me chamando. Tiro as mãos dos ouvidos e volto a correr. Corro tanto que caio algumas vezes, o som das criaturas gritando é intimidador.

Tenho a impressão que estou em uma corrida de "Maze runner". Depois de alguns minutos o chão para novamente. As criaturas param aos poucos de correr, mas Uga ainda corre por alguns instantes.

Quando ele finalmente para de correr eu apoio minhas mãos no joelho ofegando. Ele se volta para mim.

- Temos que voltar para a floresta enganosa, aqui não é seguro, alguém pode te ver. - Assinto e sigo ele de volta para a floresta, voltamos a andar no ritmo normal e para compensar a corrida como uma das frutas em meu bolso.

- O que foi aquilo? - pergunto enquanto mastigo.

- Um gigante! Eles moram no sul, só que este daí veio para o norte, Faruk estava apenas fazendo ele dormir por que ele estava longe de Pearl cuidando de achar Ada! Mas ouvi rumores de que ela está morta - ele suspira e começa a chorar "oi? Ele tá chorando por mim?".

- Uga por que está chorando? - pergunto preocupada.

- Sem ela Faruk vai ficar cada dia mais severo. Ela era nossa salvação. - sinto uma dor tomar conta do meu peito.

- Não se preocupe quando Faruk morrer pelas minhas mãos vocês estarão livres. - afirmo com convicção.

Ele parece se entristecer mais ainda.

- Houve um tempo que tudo era alegre, me contaram que Faruk era bondoso e que governava indiretamente ao reino, mas por conta da fuga de Khalifa, Pearl caiu em desgraça. - todas as palavras de Uga me atingem como um punhal. - Desde a fuga de Khalifa não sabemos o dia de amanhã. Criaturas procuraram por Khalifa durante um tempo, Faruk ofereceu uma recompensa, mas ela nunca foi encontrada. Faruk foi ficando frio, e cada dia seu humor piorava, então ele assumiu o controle de Pearl e ficou conhecido como guardião Severo.

Cada palavra é dita permeada de tristeza. "A culpa de Pearl ser tão assombrosa é de minha mãe! Não! Com certeza Faruk já era ruim com ela antes". Decido mudar de assunto, pois fiquei um pouco atordoada com as informações.

- Acho que agora que Ada está morta ele vai dar um jeito de mandar de volta o gigante para a casa dele né?

- Vai sim, Pearl é o bem mais precioso para todos nós. Principalmente para Faruk! Apesar de que acho que seu coração está vazio! Se continuar assim ele levará Pearl a ruínas.

Sinto um leve desespero sombrear meu coração, "Pearl querendo ou não é o meu lar!" Não quero ver esse lugar em ruínas. Não pior do que está.

Sigo Uga calada! "Seja forte Ada! Mate Faruk!".

Caminhamos durante horas e horas seguidas e vez ou outra como uma fruta e ofereço uma para o duende.

Após caminhar tanto e ficar horas pensando, sinto uma imensa vontade chorar. "Maldita hora que Faruk apareceu na minha vida!". Eu sei do fundo do meu coração que não conseguirei deixar esse lugar sofrer. "E a culpa novamente é de Faruk! Faruk é o culpado!"

Sinto falta de papai, sinto falta de mamãe e talvez seja isso que esteja esmagando meu coração, talvez seja isso que esta causando tanta dor.

Me forço a ser forte, não posso deixar o ódio me tomar, pois seria muito fácil Faruk me encontrar. Bastaria eu dizer seu nome ou imagina-lo que Faruk me ouviria.

Não posso deixar a raiva ser maior e acabar estragando minha vingança.

Estou sentindo que logo Faruk saberá sobre mim, pois minha mochila ficou na caverna dos perdidos junto com aquelas fadas horrendas.

"Tem que dar tempo de resgatar dona Coruja e Rocca".

Caminhamos por mais algumas horas e consigo ver um lago logo em frente. Não sinto sede, pois as frutas são extremamente suculentas. Vejo Uga mudar seu caminho agora para a direção da trilha de pérolas negras.

Sigo seus passos sem questionar. Aliás ele tem sido um ótimo guia. Quando voltamos para a trilha vejo que sobre o lago tem uma imensa ponte em forma de arco, mas ela não é feita de madeira, todas as suas colunas e o caminho é constituído de ossos.

Incrivelmente sombrio e encantador.

As nuvens no céu estão cada vez mais escuras, cada vez que me aproximo mais do castelo.

- Uga por que esta ponte é feita de ossos?

- Aqui fica guardada as almas atormentadas, este lago é repleto de almas perdidas.

- Elas foram jogadas aqui por quê? Não existe um céu para elas?

- Céu? - ele me olha confuso.

- É um lugar lindo onde as almas cansadas descansam.

- Não Ana! As almas boas ficam no jardim do castelo de Faruk! Elas são cultivadas como flores. - estou boquiaberta, o local que mamãe morreu tinha flores! Isso quer dizer que ela é uma alma boa.

- Entendo... - caminhamos para cima da ponte de ossos e consigo escutar os murmúrios que vem de dentro da água, vejo pequenas nuvens de fumaça pairar sobre a água e desaparecerem como mágica.

É tão sombrio que me sinto estranhamente coberta de êxtase. É como se os murmúrios fizessem minhas dores desaparecerem. Caminho olhando para baixo. Logo após a ponte já chegaremos no castelo.