Capítulo 16

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A aula passa depressa. E estou com as mãos suadas e trêmulas. "Calma Ada! Você tem que ser forte!". O sino toca e começo a caminhar para fora da sala, sinto que todo o meu corpo está dormente, mas não é efeito de veneno e sim de nervosismo.

Foco Ada!

Passo pelas pessoas no corredor imaginando suas vidas, algumas devem viver em Pearl e outras devem estar perdidas nesse mundo sem nem sequer imaginar que exista uma dimensão paralela a toda essa entediante normalidade.

Vejo o carro de papai estacionado e estou preocupada com ele, sinto tanta culpa antecipada por estar fazendo isso com ele, mas é o único jeito de sermos felizes. Sem contar que estarei libertando meus amigos e salvando Pearl das mãos de Faruk! Acredito que Alícia é capaz de governar Pearl sozinha.

Entro no carro e vejo um olhar sério no rosto de papai. "Meu Deus! Será que ele descobriu, mas como?!".

- Está tudo bem papai? - pergunto receosa.

- Sim querida, é que fiquei pensando em como sua mãe morreu... E algo não está se encaixando! - "minha nossa, ele está com um olhar dramático, será que descobriu que foi assassinato? Não! Mas desconfia."

- O que não se encaixa?

- Sua mãe me disse que Severo estava a sua procura e que queria te levar! E se... E se sua mãe saiu para se encontrar com ele aquela noite e mandar ficar longe de você! Então, ele matou ela... - "Preciso despistar o papai!"

- Isso é loucura papai! Esse maluco nem existe.

- Existe sim filha! Uma vez vi sua mãe gritando com um homem perto do seu berço, olhei atravéz de uma fresta da porta, ele era muito elegante e tinha uma cartola na cabeça, estava de costas para mim, por isso não vi seu rosto, sua mãe dizia para ele ficar longe de você, ela te pegou no colo e quando vi que ela vinha fui para nosso quarto, fiz um teste de DNA para confirmar se era mesmo minha filha, consegui descobrir que sim, então sei que ele existe e é obcecado por você, talvez seja um pobre homem amargurado querendo uma filha. Aquela noite ela me pediu para que nós fossemos para outra cidade. Então nos mudamos, ela disse anos depois que esse homem perseguia ela e que queria te roubar de nós. Por isso nunca deixei de mudar. A morte dela foi estranha demais e eles não encontraram a arma do crime. Só encontraram no dia seguinte ao ocorrido.

- Papai, eu ainda acho que toda essa história seja loucura, vamos para casa e vamos esquecer esse acidente, mamãe está morta! Não vamos cutucar uma ferida que ainda não se fechou... - olho para ele séria.

Ele da partida e seguimos para casa. Corro para o quarto e observo pela janela, o lobo está caminhando, logo logo Alícia aparecerá, preciso ser rápida. Retiro o frasco de veneno da mochila e coloco na gaveta da escrivaninha.

Desço com a mochila e passo silenciosamente pela sala, papai está fazendo algumas contas, abro a porta e coloco a mochila do lado de fora, quando estou fechando a porta novamente papai chama.

- Onde vai Ada!?

- Caminhar papai! - sorrio. Realmente parece que vou caminhar, coloquei meu moletom e tênis.

- Não volte tarde. - ele me olha de soslaio e volta a se concentrar nas contas.

- Não demoro. - fecho a porta e coloco a mochila nas costas. Corro até a entrada da floresta e observo cada movimento do lobo. Ele uiva melancólico, enxergo os cabelos azuis e vejo Alícia perto do lobo, hoje ela está deslumbrante, seu vestido é branco com brilhantes. Vejo ela chamar o lobo e eles caminharem floresta adentro.

Sigo seus passos fazendo menos barulho possível. Ela entra em uma trilha dentro da floresta e caminha durante uns dez minutos e a trilha acaba diante de uma rocha, então vejo a rocha refletir sua imagem.

Uma rocha espelhada?

Estou encantada e vejo Alicia dizer as seguintes palavras.

- Deste mundo cruel quero me salvar! Um ser místico eu sou, podem me levar! Assim que o sol se pôr para casa vou retornar!

Alicia atravessa o espelho que tem na rocha e some. Agora entendo. Se eles vêm, podem passar o dia aqui, por que o portal só se abre quando o sol se põe. Por isso Faruk veio aquele dia, por que ainda era dia. Hoje ele não está na floresta porque já está escuro.

Corro pela trilha de volta para fora da floresta, ligo a lanterna e ela não funciona. Ligo a lanterna do celular, mas ela também não funciona. "Droga".

Então caminho pela floresta até sair dela, e testo a lanterna. Ela funciona normalmente, ou seja, a floresta ainda por cima é encantada. Deixo a mochila embaixo de uma árvore, por baixo das folhas secas.

Caminho calmamente até em casa e quando chego encontro papai dormindo na poltrona. Acordo ele e ajudo ele a guardar os papéis. Ajudo ele a fazer o jantar e subo, pego meu pijama e desço. Tomo um banho e visto.

Nós jantamos juntos e me seguro para não chorar. É a última vez que vejo ele, e meu coração está apertado, sinto que vou explodir a qualquer momento, terminamos de jantar e retiro a mesa. Deixo tudo organizado e sigo para a sala, papai está sentado em sua poltrona e me sento no sofá, ficamos por horas falando. Falamos sobre coisas engraçadas, micos, sobre mamãe e todos os momentos maravilhosos que tivemos juntos. Choro na sala e papai me consola. Abraço ele forte e estou desesperada. Tenho medo de nunca mais vê-lo e isso está me incomodando. Choro incontrolavelmente, papai pergunta se quero que ele durma comigo, assinto. Ele diz que vai escovar os dentes e já sobe.

O plano foi um pouco modificado afinal!

Subo apressada, pego a carta e guardo no bolso do pijama, tomo o veneno e começo a sentir meu corpo ficar dormente e não consigo me mover até a cama, vejo tudo ficar escuro e não vejo mais nada a minha frente.

Adeus Papai!

Faruk - Amando o Inimigo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora