A Tempestade e o Sol

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Subiu os poucos degraus que elevavam a Catedral para além das outras edificações. Deserta, ou quase, estava. Além dos padres, apenas um homem sentado o esperava impaciente. Tal lugar causava-lhe tamanho desconforto, relembrando-o de cada um de seus pecados. Apesar de tudo, sabia que ali era seguro. Convite algum havia sido feito, porém sabia que ambos deviam estar lá. Fora agraciado com o dom de com o dom de conhecer, mesmo que em partes, o futuro. Tão somente entregou o bilhete e saiu. Havia outro encontro ainda mais importante que deveria ocorrer. Poucos passos fora dali estava o Teatro. Avistou o alvo e o seguiu.

— Quem é você? — Perguntou Charles, incomodado, ao perceber que era seguido.

— Chamam-me de Rei de Ouros, alteza. — A resposta era escárnio e o Rei de Copas sentiu-se tentado em olhá-lo nos olhos. Entretanto, continuaram seguindo até a sacada e somente lá ficaram face a face.

— Sabe que se tentar me matar os guardas alcançam você.

— Não seja tolo, eu não vim para isto... ainda.

— Eu não posso baixar a guarda numa guerra. Concorda?

— Não estamos em uma guerra.

— Ainda não.

— Eu vejo isso com um grande jogo. Uma hora todos os jogos chegam ao fim... Eu já sei quem vence.

— Tem certeza?

— Posso apostar todas as minhas fichas que sim.

— E você o joga por qual motivo?

— Me diga você, primeiro. Afinal, você poderia ter impedido que isso começasse, mas está disposto a ir até o fim a todo custo.

— Eu não sei o quanto você sabe, mas garanto que coisas não são como você imagina.

— E como elas são?

— Bem... Vê a chuva lá fora?

— Claro.

— Do que é feita?

— Água.

— Errado! A tempestade é, sim, água, mas também é o vento que a move, o fogo possuindo cada relâmpago que cai e a terra que bebe a água, abraça as fagulhas do fogo que cai do céu e, no fim, é levada pelo vento.

— Então, você já sabe o motivo de eu estar aqui.

— Nós dois não podemos para a tempestade sozinhos.

— Mas todos nós podemos.

— Água, Terra, Ar, Fogo. Copas, Ouros, Espadas e Paus. Assim como na tempestade... Todos tem um papel nesta guerra.

— Entendo o que queres dizer.

— Eu já tentei salvar algumas pessoas, meu caro. Não deu certo.

— Talvez mais do que algumas pessoas precisem serem salvas.

— Isso no seu pescoço. Você carrega ele com você mesmo depois do que eles fizeram?

— Eu não me importo com quem eles nomeiam santo ou condenam ao inferno. Me importo com o que aprendi não com o que eles ensinam hoje em dia.

— Acho bonito, mas não consigo acreditar nessas coisas.

— Você não é obrigado a acreditar.

— Se o seu deus é tão bom e perfeito... Por que todos nós temos que passar por isso? Como você consegue acreditar nele depois de tudo o que já vimos?

— Ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Ele nos deu a tempestade e há de nos dar o sol.

— Veremos.

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