O cartaz

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O homem caminhou calmo pela calçada. Ajeitou o cabelo antes de atravessar a rua, pois o semáforo demorou a atender sua ordem. Após os segundos que lhe pareceram uma eternidade a lâmpada verde apagou-se, uma cor indesejada surgiu e por fim um sorriso lhe estampou o rosto. Lá estava ela, a lâmpada vermelha acesa. Era a sua cor. E, portanto, os carros pararam de se mover. Atravessou a rua, radiante. Não era todos os dias que ele arriscava-se como faria, mas ele bem sabia que era necessário. Não. Ele sabia o quanto era necessário. Dentro do bolso de sua calça estava o último. Fora uma caminhada cansativa. Decidiu fazer sozinho. Não queria expor nenhum de seus homens a tal risco. Se o pegassem... Haveria um exército para resgatá-lo, porém se pegassem seus homens ele seria um rei sem súditos. Levou um café da manhã e um almoço inteiros para tomar a decisão e saiu de casa sem jantar. Dizem que é quando está com fome que o predador mostra sua força. Ele riu para si mesmo ao pensar nisto após seu estômago lhe dizer que já era hora de voltar. Balançou a cabeça em negação e continuou caminhando. Parou em um poste e arrancou um cartaz o qual seu rosto estampava. Ora, ele gostava de chamar atenção. Todavia, a foto não era uma das mais bonitas e estava acompanhada de letras garrafais. PROCURADO, dizia o cartaz, acompanhado por uma boa leva de acusações. Amassou-o e jogou em uma lixeira. Manter a cidade limpa. Pensou. De todas as formas possíveis. O homem esgueirou-se por becos durante horas. Estava cansado. Avistou dois homens da 88ª ordem. Desviou o caminho. Seria desnecessário envolver-se em um confronto naquele horário. Chamaria muita atenção. Sua consciência era sua amiga. Não na maior parte do tempo, porém nunca o deixara na mão em momentos decisivos. Em outra ocasião seu ego lhe convenceria a apostar na sorte e ver no que o confronto daria. Uma aposta sempre é uma boa aposta. Mexeu a cabeça em negação. Estou no grande jogo agora. Inclinou a cabeça para a direita e entrou num beco. Apenas as melhores apostas devem ser feitas. Colou o ultimo cartaz no beco sem saída. Ainda não é hora de apostar tudo, mas é um bom momento para ver quem apostará em mim. Pôs as mãos nos bolsos e caminhou até o lugar que ele acostumou-se chamar de casa.

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