II

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Passos lentos pelas galerias frias. Aqueles corredores que cruzavam por baixo de quase toda a cidade eram um lugar sagrado. A escuridão que engolia cada pedra ali não o intimidava. Não era um invasor, fora convidado e estava lá para desvendar segredos. Seguia sua procissão incansavelmente. Cada passo era parte de sua penitência. Fome e frio o assolavam, porém seguia firme em sua trajetória. Quatro mulheres o aguardavam no grande salão. Ajoelhou-se assim que as viu. Estava na presença dos Anjos.

- Quando viemos aqui pela primeira vez éramos frias e transparentes, tal como espectros - Disse a primeira, a menor delas.

- Eu sei - levantou-se.

- Diga meu nome! - ordenou olhando-o nos olhos.

- Callíope - respondeu o homem.

- E quando nós viermos para você estaremos vestidas de azul com um oceano em nossos braços... - Disse a outra.

- Sim, eu sei.

- Diga meu nome!

- Euterpe! - respondeu firmemente ainda que suasse frio.

- E quando for tempo de rezar... nós estaremos vestidas de cinza com metal em nossas línguas e prata em nossos pulmões - falou a terceira num tom que apavorava-o mesmo quando aquele rosto angelical lhe sorria.

- Que assim seja - falou.

- Diga meu nome!

- Melpômene!

- Diga meu nome! - Disse a última que brincava com seus cabelos curtos enquanto o observava.

- Tália! - bradou com todas as forças.

- Quando nós voltarmos estaremos vestidas de preto e você gritará nossos nomes bem alto! Não comeremos e não dormiremos... Tiraremos os corpos das suas covas.

- Amém.

E naquele todas as cores as iluminaram... Brilhavam num esplendor inimaginável para aquela pobre alma. O fulgor da ocasião quase o cegou. Entretanto, já não o importava mais. Havia chegado até ali e sobrevivido... Quaisquer danos a partir de agora. Viver ou morrer já não lhe eram um problema. Tinha as respostas que precisava. Agora, era uma questão de tempo.

MANÁOSOnde histórias criam vida. Descubra agora