Rainha do cruel fogo que tudo queima.
Sim, tu és avatar de utópicos ideais
da revolução como a centelha da criação.
Sim, Dama de paus, eu confio na tua força.
Rainha da terra, da grande mãe da vida.
És animal selvagem, corres pelos campos
que são concreto duro, solo profanado
Tu, Dama de ouros, és firme como uma rocha.
Rainha do ar, você é doce como a brisa.
Agora, envolve-nos em teu abraço tranquilo.
Da nobre espada, tu és a dama formosa.
Rainha d'água, tu és fria tal qual o gelo?
Tu és volúvel, mas não falhas em teus planos!
Dama de copas, teu poder é incontável.
Raquel havia se encontrado com Minerva novamente, ou melhor, a Rainha de Espadas achou-a mais uma vez. A esta altura os reinos Ouros e Espadas já estruturavam uma aliança estável dada à notícia de que os servos de Copas caçavam seus rivais e os entregavam diretamente à 88ª Ordem. Olharam uma para outra e trocaram um sorriso amistoso – parar no meio da rua para conversar era algo suspeito demais e não queriam chamar atenção dos ghouls, que agora marchavam em plena luz do dia – e trocaram bilhetes sutilmente entre um abraço e um aperto de mãos.
– Salve a liberdade, salve o sonho – sussurrou Minerva.
Tais palavras esperançosas foram recebidas com mais um sorriso levado de Raquel e um aceno de cabeça. Prosseguiram em sua caminhada e leram as informações em um lugar seguro. Ouros fornecia algumas informações sobre as visões de Cesar e Heitor enquanto Espadas lhes informava a localização dos alvos. Esta relação simbiótica permitia com que eles impedissem a maioria dos raptos e realizassem algumas operações de resgate antes que um membro da resistência fosse interrogado. Para Raquel Orleans era frustrante ver Copas "resistindo" tão perto do inimigo. Os papeis que recebeu lhe dizia locais e horários. Seguiu até a cafeteria que coincidia com os vislumbres do Rei e lá estava ela... Judite Silva estava sentada na mesa, sem seguranças, bebendo uma xícara de chá tranquilamente. Seus cabelos negros e curtos escorriam até um pouco além da maçã do rosto. Raquel pegou um copo de café puro pôs na mesa – seu rosto era envolvido pelas curvas despretensiosas em tons castanhos de seus cabelos – e logo se sentou e começou a falar.
– Bom vê-la, milady.
– Não posso dizer o mesmo.
– Claro que não, mas não se preocupe... Venho em paz.
– É o que todos dizem antes de tentar puxar o gatilho. Algo que você não fará.
– Obviamente.
– E o que te trás até mim... ou melhor... como me achastes?
– Muitas perguntas de uma vez só – disse Raquel com um riso traiçoeiro – e é bom você saber que hoje eu farei as perguntas. Hoje não é o seu dia de sorte.
– Não acredito em sorte.
– Ah, claro! Me lembra alguém que conheço.
– Você vai me dizer o que você quer?
– Eu vim dar um aviso.
– Da parte de quem?
– Da Rainha de Ouros – respondeu num tom irritado.
– Estamos no mesmo patamar, não precisa agir desta forma.
– Não, não estamos. Enquanto vocês confiam em um exército que não é de vocês, enquanto selecionam uma elite diminuta para compor o reino da água, nós falamos a verdade para o povo... Eles já sabem que não são vocês quem impedem os ghouls atacarem.
– Copas faz muito mais por esta cidade do que vocês possam imaginar.
– Não tem sido o bastante. As pessoas trabalham exaustivamente extraindo matéria prima pra sustentar a maquina de guerra deles e você assistem de braços cruzados.
– Você não faz ideia das coisas horríveis que tive que fazer para sobreviver! – os olhos de Judite saltava de ódio e sua têmpora tremia para conter um fúria que manifestou-se tão somente num tapa contra a mesa e uma fala dita num tom alto o bastante para todas as pessoas no recinto ouvirem.
– E você não faz ideia de quantas pessoas perdi lutando pelo que acredito – Raquel não bebeu a metade do café que faltava. Levantou-se e tirou algumas notas da carteira e jogou-as na mesa.
– Cuide bem do meu irmão.
– Cuide você bem do meu.
Um sorriso queria tomar conta do rosto das duas, porém seus ânimos estavam aflorados demais para que isso acontecesse. Encararam-se por uns segundos antes que Raquel desse as costas e fosse embora. Judite ainda tomaria, inutilmente, sua quinta xícara de chá de camomila antes de ir para casa.
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MANÁOS
Historical FictionNosso mundo já foi regido por vários governos diferentes. Desde a idade do ferro à atual, várias ordens mundiais caíram e logo outra ascendia em seu lugar. Entretanto, houve um homem que decidiu reescrever a realidade de nosso mundo e conseguiu. As...