Carta #4

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Manáos, 21 de Novembro de 1962

Cara Elizabeth, ainda que contra minha vontade eu devo admitir que precisamos nos unir. Entenda que estarei me expondo a um grande risco. Além disto, não posso deixar de cumprir minhas obrigações como Rainha, por isso eu precisarei de sua total compreensão. Nós duas sabemos que isto não é um tratado de paz. Uma trégua é o mais inteligente a se fazer para que possamos aniquilar inimigos em comum, porém quanto acabarmos com eles, sem dúvidas, voltaremos a tentar devorar uns aos outros. A lei natural das coisas é esta. Primeiro destronaremos Klaus, após isto decidiremos quem governará a cidade. Tudo o que eles querem é que lutemos entre nós. Assim, estaremos fazendo o trabalho sujo por eles. Charles está ocupado demais brincando de ventríloquo e não percebe que também é uma marionete. Todos nós somos e sempre seremos a não ser que um dia possamos ser abraçadas pela Liberdade. Sinceramente, não acredito na utopia que meu irmão e meu esposo almejam. Entretanto, acredito que talvez seja possível construirmos um mundo um pouco mais compreensivo. Nele, talvez eu possa não ser julgada pelo tamanho de meu vestido ou pela cor do meu batom. Quem sabe, comprar minhas próprias coisas por um preço justo. Este mundo as vezes surge num vislumbre quando me encontro a olhar para nada. Provavelmente ele existe em algum lugar, mas não aqui. De qualquer modo, farei minha parte. Serei seu presente de grego, cavalo de Tróia. Faça a sua também e não permita que eu seja morta como os outros. Entenda que tudo o que eu fizer antes disto será extremamente necessário para fortalecer a confiança da octogésima ordem na minha pessoa. Estou cansada de jogadas mal pagas. Vida ou morte. Benção ou maldição. Que seja all-in ou nada.

Judite Silva.

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