Cavaleiros do Apocalipse

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Dizem que no amor e na guerra vale tudo. Esse velho ditado inundaria a mente daqueles jovens naquela noite. Todos estavam confiantes. Nobunaga concentrou-se por alguns segundos e logo entrou em transe. Ele caminhou de mãos dadas com Alexandre, que segurava Elizabeth, e Cesar, que por sua vez estendeu a outra mão para a irmã, atravessando uma dezena de ghouls sem que eles fossem notados. Aquele era seu dom: a névoa que os ocultava da visão dos inimigos. O grupo parou em meio as docas e agora era a vez de Cesar. O rei de ouros fechou os olhos e sorriu. Um vislumbre do futuro lhe confirmava que os reforços chegariam a tempo.

— podem começar – informou ele.

— que assim seja – disse Judite ao soltar sua mão.

A mulher saiu do véu e surpreendeu as tropas que não faziam ideia de como ela havia chegado ali.

— O que estão fazendo olhando pra mim? Vocês deviam patrulhar aquele barco! – apontou para longe e de forma sobrenatural eles seguiram sua ordem sem hesitar. Não duraria muito tempo, apenas o suficiente.

— Minha vez — disse Elizabeth disparando um sinalizador que clareou os céus. Seus cabelos se moveram como se ela estivesse em um vendaval, mas não havia vento algum ali. Os contêineres eram erguidos no ar sem que houvesse guindaste. As leis da gravidade prostravam-se perante a rainha de paus. Naquele momento sua soberania era incontestável.

Com o clarão no céu foi dado início ao confronto. O rei de paus deu um urro ensurdecedor que amedrontou homens imunes a quaisquer sentimentos. O horror primitivo tomou conta dos soldados. Reconheceram que eram presa e que o predador não hesitaria em reduzi-los a insignificância da não vida. Alexandre correu até o seu alvo e abriu-o ao meio sem esforço. As portas foram lançadas nos ares e uma porção de jovens saia do contêiner correndo desesperada para longe dali. Em sentido oposto aos que fugiam, chegavam cada vez mais pessoas armadas disparando incessantemente contra as tropas. Os reis não poderiam ser vencidos tão fácil, mas a Ordem esperava por aquele ataque. Quando os rebeldes acharam que haviam vencido, se viram cercados por quatro dos melhores Daemon que haviam em Manáos e, como todos deveriam saber, uma quadra — independente do valor das cartas — é superior ao full house.

— Resistir é inútil — disse a Sargento que pilotava um dos Daemon.

A mulher que o pilotava, Astrid Schossig, era chefe de inteligência das tropas ghoul naquele distrito. Contudo, naquele momento, ela e seu mecanóide carmesim eram um só: Guerra. Ao seu lado, o Lorde chanceler equipado de uma das mais belas armas de destruição banhada em ouro branco era aquele que porta o arco e a coroa, aquele quem traz as promessas de paz. Apenas promessas. Não haveria trégua ou anistia. Eram os quatro cavaleiros do apocalipse e trariam a destruição. Mas a roda da fortuna sempre está girando e a vida é cheia de surpresas, até mesmo quando quem deveria reinar era a morte.

— Você nos traiu! — César bradou enfurecido olhando para a irmã.

— Acha mesmo que eu estaria do lado de vocês? Não, estúpido, eu nunca estive do seu lado ou do lado do Charles. Eu não preciso me sujeitar a ninguém! Eu estou e sempre estive do MEU lado!

Elizabeth usou toda a potência de seu dom para afastar os demônios que os cercavam ainda que eles retalhassem e disparassem seus tiros sem cessar. Nobunaga envolveu os companheiros em seu véu para que pudessem fugir dos carniçais. As balas perdidas cruzavam a noite disseminando o mais puro e primitivo caos. Ainda que feridos e rastejando, saíram do local deixando a rainha de Copas para trás. Ela sempre soube do plano e por sua vez os inimigos também. Aquilo não seria necessário. Se quisessem, teriam exterminado-os antes mesmo de eles tentarem um ataque, mas preferiram humilhá-los e subjugá-los ao peso da vergonha. Os heróis haviam falhado e a chama da revolução enfraquecia, mas o mesmo vento que apaga o fogo também é aquele que o fortalece.  

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