A hora da Liberdade

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César estava 12 horas em uma sala após a partida de Raquel. O sol nasceu e estava a se pôr sem que ele tivesse mais que pão, água e solidão. A porta rangeu. Nobunaga fez uma reverência antes de entrar no local. Para muitos poderia ser apenas uma sala. Para César, era um santuário. A mesa era o altar e ele era sacerdote, mas também o sacrifício. A energia havia sido cortada pela octogésima oitava ordem e em breve a água também seria. Os últimos raios de sol iluminavam apenas metade da sala enquanto a outra era um breu completo.

— Amigo, estás bem?

— Como estar bem quando o mundo está em caos? Como estar bem quando nossos irmãos padecem? Como estar bem quando quero me entregar de vez à todos os meus pecados?

— Não sei, nobre, mas temos que lutar.

— De fato. Você tem razão, mas como? Como vamos vencer?

— Haverá uma opera no Teatro. Gente importante estará lá...

— Klaus e Gehard!

— Você tem seu dom... Eu tenho o meu... Perdemos nossas rainhas, mas ainda podemos lutar! Não desista!

— Você tem razão.

— Mas... Precisamos de Ajuda.

— Não se preocupe, tenho um às na manga.

Nas trevas que engoliam metade do ambiente, brilhou uma pequena centelha de luz. A pequena e trêmula chama do isqueiro revelava um rosto angelical. A dama caminhou até os dois que conversavam sentados de costas um para o outro, sem olhar-se, sobre a mesa. Sentou-se entre eles e acendeu um cigarro.

— Então, meu rei, como posso ajudá-lo?

— Me responda uma coisa! É pecado sonhar?

— Não, meu senhor. Nunca foi.

— Então por que Nosso Senhor nos dá golpes tão fortes de realidade e parte nossos sonhos?

— Divindade alguma destrói sonhos, César. São as pessoas quem ficam esperando em vez de fazê-los acontecer.

— Sua rainha Elizabeth tem razão, Tália. Deixaremos a cidade em chamas.

— Não será difícil para nós, mas você sabe o preço.

— Não será um problema. Eu já vi como isso vai acabar.

Nobunaga abraçava a katana que foi de seu pai e do pai de seu pai. Ouvia a conversa quieto e paciente, mas não pôde conter-se.

— O que você vê, César?

— Remorsos se acumulando como velhos amigos. Eles estão aqui e agora em minha mente para reviver meus momentos mais sombrios. Não consigo ver uma saída. Todos os ghouls sairão para brincar e cada demônio desejará seu pedaço de carne.

— Mas tu não podes mudar o futuro?

— Posso. Contudo, eu prefiro manter algumas coisas como são e como devem ser. Gosto de manter minhas questões só para mim. De uma coisa eu não tenho dúvidas: É sempre mais escuro antes do amanhecer. Eu fui ingênuo e estive cego. Nunca consigo deixar o passado para trás... Não consigo ver uma saída... Eu tento, mas não consigo ver uma saída. Estou sempre carregando esse peso nos ombros: saber sobre o futuro e me sentir incapaz de mudá-lo. Já cansei desse meu coração sem graça. Essa noite vou acabar com essa história e recomeçar tudo de novo. Estarei morto se eu tentar me livrar, estarei perdido se não me livrar. Um brinde à escuridão do fim da minha estrada! Estou pronto para sofrer e pronto para ter esperança! Será um tiro no escuro e bem na minha garganta, pois procurando o paraíso, encontrei o demônio em mim. Bem, que se dane, vou deixar que isso aconteça comigo... É chegada a hora da liberdade!

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⏰ Última atualização: Jun 25, 2017 ⏰

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