Eu não posso

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Faz duas semanas que o segundo semestre começou, passei as férias na casa dos meus pais, no Rio, fomos até o sitio em que meu pai é sócio, passamos noites jogando baralho com minha avó, outras vendo filmes. Eu e Sane não nos desgrudamos, fomos para diversos shopping, praias.... Ainda tentamos ter uma vida saudável correndo todos os dias pela manhã, até subimos o morro atrás da minha casa relembrando o fazíamos antigamente.

- Para onde vamos? Não quero correr pelo mesmo caminho que corremos durante todos os cincos dias atrás.

- Podemos subir aquela colina que costumávamos subir quando morava aqui, o que acha?

- Pode ser.

Não estava muito afim de fazer aquele trajeto, ele me faz lembrar parte da minha vida que eu decidi esquecer, parte que resolvi enterrar por não querer mais sentir a dor de tudo que poderia ter acontecido caso algo que não faço a mínima ideia do que seja, impedir que tudo isso se tornasse realidade.

De certa forma eu estava bem, tinha Tarso a me esperar em São Paulo, nunca tinha pensado que acabaria em uma relação calma, que me fez aprender a construir um sentimento, lado a lado com ele, é como se a cada dia fosse erguendo um pedaço de uma parede com os tijolos que o menino que eu nunca pensei em ficar, acabou de me dar.

O tempo tinha carregado a minha dor, acho que isso é o suficiente para agradecer, e não reclamar por não ter uma paixão que me faz queimar, sonhar acordada, sentir minhas pernas tremerem, que me faz gaguejar, ou sorrir apenas por ouvir o nome dele. Quando encontrei tudo isso, ele simplesmente decidiu partir me deixando desejosa por mais, acredito que se tivesse a oportunidade de sentir tudo isso de novo sabendo que o final seria idêntico ao último, prefiro continuar com a calmaria do meu romance "água com açúcar". Talvez seja assim o natural: ninguém consegue manter um relacionamento que começou com a famosa "paixão", porém aqueles que foram construídos, onde ambos aprenderam a se amarem, são os que realmente duram e dão certo.

Chegamos ao topo em quarenta minutos, estávamos bem suadas, considerando o calor que fazia mesmo sendo apenas nove horas da manhã, era algo normal. Nos sentamos em uma pedra perto de nós, para que pudéssemos retomar o folego e descer o que havíamos subido. A imagem a minha frente era bem realista, ao meu lado direito estava uma comunidade: com escadarias e casas de tijolos sem revestimento ou quintal, a maioria era coberta por telhas de alumínio, cada casa era rodeada por ruas finas em sua maioria de barro, ou pedras pequenas, haviam pequenas posas, devido à chuva de ontem e o calor que hoje fazia. A minha frente: eram casas diversificadas, umas apenas com laje, outras com telhado colonial como o da minha casa, revestida com textura ou piso, a maioria com mais de um pavimento, sejam eles designados para serem divididos por mais cômodos, ou servirem apenas como uma área livre, uma varada, todas tinham quintal, em umas ele era pequeno, porém em outras grandes, como na minha: 10x6. Já no meu lado esquerdo, era basicamente um condomínio feito de casas grandes e bonitas, garagens com no mínimo dois carros de modelos que nunca havia visto antes, seu revestimento variava entre porcelanato ou mármore, tendendo para uma palheta de cores neutras, os quintais não eram tão grandes, porém razoáveis.

Fico imaginando como uma realidade pode ser paralela a outra de forma tão natural e grotesca, como eu posso ter vizinhos com menos capacidade econômica e simplesmente decidir ignora-los, até onde chega a cegueira do homem?! Ou sua má vontade de ser caridoso. Espero um dia sentar sobre está mesma pedra e vê a igualdade entre esses três polos de classes diferentes, sem que o Brasil se torne socialista, porém com um sistema que visem todos como igual e dê chances igualitárias, o caracterizando por seu esforço, espero que aqueles que morarem em meu lado esquerdo, estejam ali por optarem serem o que são, não porque o lado direito o obrigou a permanecer naquele mesmo local.

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