Por favor, vem me buscar

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Podia sentir o tecido da coberta sobre minhas pernas, porém estava entre a realidade e o fantasioso, podia sentir o cheiro dele como se estivesse bem próximo de mim, não conseguia focar em nenhuma imagem e sentia que se tentasse meus olhos abririam me fazendo dar adeus aquele cheiro acalentador por isso permaneci parada esperando que o sonho começasse.

Estávamos em uma espécie de prisão, não como as decadentes do meu estado mas de um jeito mais sofisticado com portas de vidros, sensores e seguranças altos e fortes, eles me levaram para uma sala ampla e sem nada nas paredes, era uma sala de tortura, pude perceber ao ver o chão manchado de vermelho, fico sozinha com um homem vestido de roupas brancas que retira minhas algemas e me diz que eu só tenho vinte segundos para correr até a porta. Corri o mais rápido que pude e ao chegar a porta de saída pude sentir o cheiro do mesmo perfume que sentia a alguns minutos atrás, ele estava tentando destrancar a porta, mas já haviam homens as nossas costas, finalmente ele conseguiu destravar nossa barreira, mas quando passamos pela porta o alarme soou chamando a atenção de toda a praça a nossa frente. Eu gritei "Corre!" com toda força que tinha, ele estava carregando uma mochila e usava o uniforme da prisão que acabamos fugir, era fácil chamar atenção o que me deixou sem muitas opções de como ajuda-lo. Ao totalizar o número de pessoas correndo atrás dele, percebi que sozinho ele não daria conta, então decidi tentar desviar a atenção de seus perseguidores, corri até três homens e os empurrei para uma ladeira do lado direto da praça, depois corri até ele indicado que deveria me seguir pelo lado esquerdo, era uma rua de terra, corremos bem mais do que meu limite aguentava porém podia sentir a adrenalina impulsionando meu corpo a avançar cada vez mais. Um carro preto fechou a rua e quando tentamos recuar já havia uma mulher apontando uma arma para nós, estávamos presos! Meu primeiro impulso foi entrar atrás dele mas percebi que o perder doeria bem mais do que eu poderia suportar por isso me aplumei em sua frente fechando meus olhos esperando que a dor aguda representada nos filmes não doesse tanto.

- Se endireita garota!

A mulher gritou para mim, então pude ver que não estava mais de pé como antes, estava inclinada para trás com Isaac me apoiando. Retomei minha pose inicial, me forçando a permanecer erguida e parada, assim que ouvi o disparar da arma não senti dor apenas ouvi um xingamento da minha opressora.

Ele sussurrou ao meu ouvido "Está tudo bem" e beijou a ponta da minha orelha. A mulher vestida de preto nos fez caminhar até um local escuro, imaginei que seria ali onde finalmente morreríamos, ou talvez eu somente, porém isso pouco me importava se significasse dar a vida por aquele que segurava minha mão, eu entendia que não seria feliz com ninguém a não ser com ele e percebi que o sorriso dele valia bem mais do que o meu, que valia apena morrer por ele.

Acordei antes mesmo de saber o que nos aguardava ao final daquele percurso, estava suando e com medo. No meu quarto havia um caminho de luz traçado pela lua até os pés da minha cama, decidi me levantar e ir até a janela desde que me mudei para SP não havia mais parado para olhar as constelações pois jugava tantas outras coisas como mais importantes que não me sobrava tempo para ser impactada pela calmaria que olhar para o céu me proporcionava.

Ao respirar fundo olhando para o céu pude novamente sentir o mesmo perfume presente no sonho que acabei de ter, aquilo me deixou triste, pois percebia que não o poderia ter novamente, teria que me acostumar a não mais senti-lo, acho que nunca me dei conta do quanto sentia falta daquele cheiro, não por apenas gostar dele mas sim por tudo que representava para mim: uma forma de viver, um jeito totalmente diferente de amar, uma realidade alternativa que coexiste na que vivo, uma chance de transbordar, meu final feliz. Fico imaginado como deixei tudo isso acabar, e se poderia agir de uma maneira diferente quanto a algo que tenha feito.

Demorei a dormir, o que resultou em uma versão minha mais do que cansada na mesa na manhã seguinte. Ana me mandou de volta para cama alegando que eu não poderia degustar o café da manhã preparado por ela, é claro que eu não a ouvi! Nesta manhã ela tinha acordado de bom humor e feito bolo de amendoim, vitamina e fritado ovos, seu namorado havia acabado de trazer pães quentes da nossa padaria preferida também. Ele estava tentando agradar sua namorada pois ela não estava muito afim de viajar com ele no final do ano, ele tentava suborna-la com qualquer coisa que pudesse, eu estava adorando tudo isso, é claro, na última semana eu e Hadassa tínhamos nos esbaldado na cesta de chocolates que ele havia comprado.

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