Primeira Vez

25 2 0
                                    

Acordei já devia ser umas nove horas da noite, logo depois que chegamos, colocamos as caixas para dentro, tiramos só o essencial e deixamos todas as outras nos cômodos o qual pertenciam. Fomos na casa da minha tia e almoçamos por lá, quando voltamos, creio que todos precisavam de algumas horas de sono, já que passamos a noite toda empacotando, então foi automático: pegamos a caixa com travesseiros, tacamos no chão e logo depois de alguns minutos não havia mais ninguém acordado.

Estou achando que vou gostar daqui, bem contraditório ao sentimento que tinha ontem, mas a verdade é que não tenho muitas expectativas não tem como me decepcionar, o melhor é encarrar o que tenho e dar meu melhor para curtir. Hoje quando acordei foi exatamente o que eu fiz, deu uma chance e me surpreendi com o que senti, sinto-me em casa, como se pudesse finalmente respirar e me livrar daquela sensação estranha que não havia me dado conta que carregava, a qual conforme os anos tinha o costume de se intensificar fazendo-me sentir deslocada, acho que encontrei meu refúgio, mesmo que não seja o que esperava, ela é minha e a partir de agora é assim que vou chamar: "Minha Casa".

No segundo dia a noite, tomei um banho cassei uma roupa e avisei minha mãe que iria sair, havia ligado uns minutos atrás para que minha prima, irmã do Júnior me encontrasse. Quando estou saindo vejo uma antiga amiga, já não via a muito tempo, desde que paramos de fazer aula de dança, os pais dela haviam ficado sem dinheiro para leva-la para academia.

- Oi - Gritei enquanto ela passava do outro lado da calçada olhando para guia.

- Oi, o que faz aqui? Estava com saudade nunca mais me ligou...

- Me mudei hoje, você também mora aqui, Certo? Perdi o seu número, ele estava no meu antigo celular. - Meu antigo celular havia se perdido quando estava andando de bicicleta, foi bem estranho, já que estava pedalando no meio da rua, muito empolgada com a velocidade que estava alcançando, quando de repente minha bolsa caiu e eu automaticamente tentei segurá-la, inutilmente, ambas caíram no chão: eu, a bicicleta e a bolsa. Acredito que o pior de tudo foi a senhora aparentando ter setenta anos e duas crianças passando por mim tentando segurar o riso, porém sem oferecer nenhuma ajuda. Levantei-me correndo, estava na frente da casa do garoto que digamos que eu tinha uma certa queda, nem imaginava como reagiria caso ele me visse daquele jeito: Caída no chão com o joelho machucado e com uma das alças da blusa que usava arrebentada. Então foi nesta correria que deixei o celular no chão, montei na bicicleta e pedalei rumo a minha casa, até tentei voltar para ver se o encontrava mais tarde, até o encontrei, mas algo passou por cima e um pombo havia deixado sua marca nele também.

- Então tudo bem, te mando hoje pelo chat meu número, senti sua falta. Eu moro na próxima esquina, posso te mostrar quem são seus vizinhos, tenho amizade com alguns deles.

Ela vai me levando para o portão da casa ao lado, onde estava uma menina junto a algumas pessoas, umas cinco segundo a minha contagem rápida, digo "oi" para todos e começo a puxar assunto - tenho que confessar que não nasci com talento para isso, mas estou tentando. Acho meio estranho como eles me olham: Como se fosse alguma atração/exótica.

Não tenho como dizem por aí " Copão", mas se bunda conta, isso eu tenho, sou mediana com 1,66 de altura de pele escura, dizem que eu sou morena, mas eu me autodeclaro negra, ou preta, dependendo da pergunta, meus olhos são negros, mas na luz ficam castanhos, meus cachinhos são pequenos e estão um pouco abaixo do ombro, o que indica que já está na hora de cortar, eles são castanho escuro meio cobre, claro que eu preferia ter o cabelo preto, mas a mistura do preto do meu pai, com o cobre da minha mãe gerou o meu "castanho único" como minha avó diz, talvez um dia eu até pinte de outra cor, quem sabe...

Enfim minha prima chega, puxando conversa e me salvando daquela situação precária, dou uma olhada para ela para dizer "obrigada", depois de um tempo falando sobre coisas pela qual não me interesso nem um pouco, invento algumas brincadeiras, faz tempo que não faço isso, anos para ser sincera, depois que me titularam adolescente, parece que as pessoas da minha idade pararam de brincar, e eu era muito velha para as que ainda brincavam. Quando dou conta a rua está muito cheia, me fazendo lembrar a época em que morava como minha vó diz: "no meio do mato" e todos os dias me reunia com meus vizinhos, começo a procurar minha parceira entre as muitas pessoas falando comigo me perguntando coisas pessoais, não sei como isso aconteceu mas passei de antissocial a engraçada e comunicativa. Nesta procura incessante, meus olhos param por conta própria em um menino debaixo da luz amarela, ele veste uma bermuda preta até os joelhos combinado com uma regata igualmente escura com detalhes coloridos, seu cabelo aparentemente bate a altura de seus olhos, e isso é tudo que consigo perceber, está muito difícil de discernir cada detalhe, ele olha para o chão com a mão em seus bolsos, mas quando finalmente levanta o olhar, tudo ao meu redor parece ter um ritmo mais lento, enquanto tudo dentro de mim parece estar vivo de uma forma que nunca senti, meu coração reage aumentado sua pulsação a cada piscada, minha pele parece ferver, não faço a mínima ideia do que está acontecendo, muito menos porque simplesmente não olho para outro lado?! Parece impossível até me chamarem. Quando finalmente deixo meus olhos rolarem para o lado, sinto o ar entrar pelos meus pulmões, meu coração entrar em seu compasso comum e meu rosto parar de queimar. Olhei para o lado novamente procurando ele, porém não o encontrei.

Todas As Rosas Do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora