Não vou correr!

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Abri os olhos ainda relutante, estava confortável e aquecida exceto os meus pés, os sentia gelados, aos poucos me inundava as lembranças de um sonho ruim, o qual Isaac disse que em breve morreria e que queria passar os seus últimos dias comigo. Quando abro os olhos vejo que é real, meu sorriso se desmancha, estávamos deitados no chão, ele dormia profundamente, mas pelo julgar de suas feições: sonhava com algo bom, ainda era noite, provavelmente estamos aqui a umas 3h, o que significa que tenho que ir para casa, não quis o acordar ele estava tão tranquilo, e mesmo que eu quisesse ficar ou ir embora com ele, eu não saberia o que dizer, ou como deveria me comportar, tudo que eu queria era organizar meus pensamentos e emoções.

Ao sair da estufa feita por Isaac, para proteger e esconder a roseira que detinha poder sobre sua vida, senti algo pesar sobre mim, como se a cada passo a realidade me mostrasse o que ela realmente significava, eu estava em um lugar escuro onde eu não poderia pedir ajuda. Se eu ficasse com ele, me apegaria mais do que antes, e em semanas o perderia, caso optasse por ficar longe, coisa que eu tenho certeza que não conseguiria, carregaria sobre mim a dor e a culpa de ser egocêntrica demais por pensar somente na minha dor, o obrigando a abdicar de seus últimos momentos de felicidade. E por fim, eu nem sei se isso realmente é real, ficava esperando que em algum momento adolescentes ridículos, sairiam de trás das copas das árvores, com celulares em suas mãos dizendo: " pegamos você! ".

Tentando andar o mais rápido que podia, deixei com que minha sandália deslizasse no mato molhado de sereno, minha bunda foi ao chão, e eu senti algo perfurar meu braço, provavelmente uma pedra pontiaguda, me levantei lentamente, tentando prestar o máximo de atenção possível nas coisas ao meu redor, não deu muito certo. Dois passos depois, meu pé esquerdo agarrou em um tronco de árvore protuberante no solo, dessa vez o tombo foi pior: cai de frente, coloquei meus braços na frente do meu rosto, como forma de protege-lo do chão, mas não sei se foi uma boa ideia quando senti meus cotovelos queimarem ao encontro do solo, logo depois foi meu peito, e barriga, o que me deixou sem ar. Tudo isso me lembrava da primeira vez que encontrei Cris, foi bem parecido, cheguei em casa cheia de hematomas, coisa que tenho certeza que também acontecerá desta vez também.

Me virei, deitei de lado encolhendo minhas pernas, não estava em condições de me erguer e seguir caminho, meu corpo estava doendo demais por imprudência minha - Soltei um gemido.

Deixei que as lágrimas viessem, enquanto as nuvens começavam a compartilhar o que carregavam comigo, chorava por ter a oportunidade de me entender com o homem que eu sempre amei, porém soluçava porque assim como tudo na minha vida, havia uma parte ruim: ele morreria, ou seja, eu nunca vou ter meu final feliz, eu nunca vou ser completa, e vai chegar uma hora em que eu retornarei para meu estado depressivo, onde eu demonstro ter tudo, mas dentro eu sei que eu não tenho o que eu realmente me importa. As coisas estavam se encaixando, eu tinha um lugar para estagiar quando chegasse a hora, minhas notas eram ótimas, tinha amigas, e um melhor amigo fantástico. Meus pais me ajudavam quando necessário, e eu já tinha me conformado com a ideia de ficar sozinha, ver os filhos dos meus primos crescerem. Então surge Isaac e bagunça tudo, como sempre.

Só queria uma vez na vida estar dentro de um dos meus livros de romance, saberia que por mais que durante todo o "agora" chorasse, durante todo o "depois" sorriria, pois tudo acabou bem.

Aos poucos, minha respiração encontrou um ritmo cadenciado, fechei os olhos e adormeci.

*****

Ouvia o som dos pássaros cantando, ao prestar mais atenção, pegadas firmes sobre o chão. Quando abri meus olhos vi o peito de alguém, eu estava sendo carregada, até agora eu não sei como esse tipo de coisa acontece comigo, ou como eu nunca acordo na hora certa. Olhei para cima e ele sorriu, era um rosto conhecido.

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