Em casa mais uma vez

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Já faz uma semana que não sonho com nada que me apavore: quarenta formas de perder alguém, ou descobrir que está amando, me sinto mais tranquila, menos sobrecarregada, por me pedir que preste atenção nos mínimos detalhes, me culpando se não consegui mostrar, dar valor a alguma ação importante que alguém tenha feito para me agradar, sem perceber estava ficando obcecada, pois sentia que a qualquer momento alguém próximo a mim poderia morrer, e eu teria que viver durante toda a eternidade, enquanto minha vida durar, com a culpa de não ter dado tudo de mim, para aquele que amava. Agora aprendi a achar graça na dúvida, se soubéssemos quando cada um de nós iria partir, com certeza nossas vidas seriam cheias de emoções vazias, conquistadas pela vontade de ter tudo antes de partir, ou uma eterna escuridão, sofrimento gerado por nós mesmos ao não aceitarmos nossa partida, a verdade é que a dúvida nos traz equilíbrio, temos que viver intensamente, porém conscientes de que hoje pode ser, ou não, nosso último dia.

Aos poucos me sinto como antes: Confortável em uma rotina monótona, acordo mais ou menos dez horas da manhã, tomo banho, assisto televisão, almoço, assisto televisão novamente, arrumo a casa e invento algo para fazer: ler um livro, escrever, ouvir música, revisar matéria, etc. Aqui tenho a sensação de que tudo é meu, posso fazer o que quiser, e como quiser, até dormir se tornou mais confortável, acho que isso se deve ao fato de ter morado aqui durante muito tempo, ter tido minhas principais fases neste mesmo local, fora o fato de ser a casa dos meus pais.

Insisti, quase chorei para que Tiago fosse comigo ao cinema assistir uma nova versão do meu conto favorito, é obvio que ele não queria, digamos que romance não é bem sua primeira opção de filme, ainda mais aqueles com princesas e castelos, mas eu queria muito ir, então como sempre faço, dei um jeito de fazê-lo ir, com certeza venci na insistência, pois ele já estava cansado de me dizer não, e eu apenas começando a me cansar.

Ele ficou de me buscar hoje aqui em casa, lá para as oito da noite. Desde quando cheguei, não o vejo, nos falamos apenas algumas vezes por mensagem, já estou começando a sentir sua falta, porém não posso nem pensar em deixa-lo passar o dia todo comigo, ou dormir na casa dos meus pais, não por eles, e sim pela minha família que julga tudo como anormal, mal intencionado, ele é o ex-namorado da minha prima, não vale apena brigar com eles, afirmando ter um outro ponto de vista diferente, odeio ter que lidar com seus olhares e as indiretas que virão, caso eu diga que tenho um novo amigo.

Tiago pegou alguns dias de folga no quartel e decidiu também vir para o Rio e visitar seus pais, já tinha um bom tempo que não os via, mas tenho certeza que o que pesou foi eu ter escolhido passar as férias de julho com meus pais, de qualquer forma acho que desde que ele entrou para o quartel ele nunca tinha passado tanto tempo sem ir trabalhar, vamos aproveitar então.

Estou bem mais arrumada do que o normal, coloquei um vestido azul-caneta sem alças, com pequenas pedras pratas bordadas na parte superior justa do vestido, a parte inferior é separada por uma faixa do mesmo tecido, bem mais larga, rodada e com pontas, como se eu pegasse um tecido quadrado e fizesse um furo no meio para a entrada da minha cintura, o foro terminava a um palmo do meu joelho. Meu cabelo cresceu alguns centímetros nos dois últimos meses, o suficiente para atingir a altura do meu peito, e digamos que hoje ele estava em um dia bom, neste momento ele tinha definição e volume, optei por um penteado básico: coloquei-o de lado e fiz três pequenas tranças do lado direito, e prendi com grampos escondidos no meu próprio cabelo. Ignorei os topes que costumo usar, escolhi um sutiã branco de bojo, para combinar com minha calcinha, meus seios nunca foram grandes, e se tornam quase inexistente quando uso bustiês, mas agora dá para ver que eles existem, mesmo sem mostra-los muito neste vestido. Quanto a maquiagem, resolvi não esbanjar, afinal era só um cinema, usei o suficiente para parecer natural, com aquele ar de arrumada, porém não consegui me controlar quando passei o rímel, meus cílios ao final do processo estavam grandes e escuros, já minha boca, que até então passava despercebida, agora acredito que todos a notaram, não passei um batom escuro, ou forte, apenas a ressaltei com um tom de vermelho aberto, fazendo com que aquela cor parecesse ter sido herdada ao nascimento.

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