Amarelo

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Acordei com o despertador tocando uma música lenta, demorei alguns segundos para sair do sonho escuro que estava tendo, ao abrir os olhos vi que o dia ainda estava clareando, eram apenas 7:00 da manhã, o sol ainda não havia saído completamente para me dar "Bom Dia", estava com frio, porém ao analisar todos os meus sentidos, percebi que não dormiria de novo, então me levantei, consequentemente pisei no Tiago que dormia aos pés da minha cama, havia esquecido completamente que ele tinha dormido aqui.

Ontem desabei nos braços do meu melhor amigo, ele veio direto para cá quando saiu do trabalho, mas teria que voltar logo. Me senti como uma pré-adolescente novamente, aquela mesma menina perdida procurando o coração que entregou a um menino idiota, que depois de um tempo percebeu que ele não a amava, que falou a verdade quando disse que já havia tirado dela tudo o que queria: a inocência, o afeto, carinho, admiração, enfim tudo que ele achava importante, e quando todas essas coisas foram esgotadas ao seu ponto de vista, não valia mais sustentar uma relação com uma menina sonhadora. Eu tinha planos, mas tive que refaze-los quando assumi que o amava, eu já havia planejado uma vida que o incluía quando me disse que não queria ficar comigo. Fui obrigada a crescer fisicamente e mentalmente, aprender a ser mais mulher, meus gostos mudaram, descobri que levava jeito com instrumentos, fiz um voto comigo mesma: meu futuro deveria vir sempre antes do meu coração. Vivi em meio a música, leitura e escrita, e gostei! Enfiei Isaac dentro de uma caixinha, já que meu coração me mostrava que eu poderia ter outros amores, mas sempre seria ele o dono dele, ele sempre o motivo de quase todas minhas lágrimas, sorrisos e histórias.

Como se essa caixa fosse reaberta, eu sentia a dor, a confusão, eu sorria e sentia as lágrimas descerem, eu tenho planos, uma vida, um futuro, que não o inclui, somente eu. Como me sentir quando o amor da minha vida diz que sentiu a minha falta ?! Ao final daquilo, só sabia que tudo o que não iria fazer.

Tiago me trouxe até em casa, meus pais tinham comprado pizza, logo ele ficou para a janta, jogamos meu jogo preferido de tabuleiro, e quando vimos a hora, já era bem tarde, meu pai ofereceu a sala para que ele dormisse, e assim ele fez, depois que meus pais não aguentaram mais ficarem acordados começamos a assistir séries. Ao ir para meu quarto me senti sozinha e tudo que eu tinha tentado evitar retornou, bastou mandar uma mensagem, para que Tiago aparecesse na minha porta com o rosto amassado, era visível que ele havia conseguido pegar no sono, e que não estava nem um pouco feliz de ter acordado, mas como sempre, ele me ouviu e me ajudou a chegar à conclusão de que não iria enlouquecer, ou tentar tomar decisões precipitadas, iria esperar por mais que isso fosse quase impossível para mim.

Tudo isso me fez lembrar a noite que passamos na casa dele em São Paulo, quando ele começou a desconfiar que sua namorada estava com outra pessoa, ele tinha passado o dia sem responder minhas mensagens e ligações, quando cheguei em sua casa, sua avó me contou o que suspeitava que estava acontecendo, normalmente era eu a mais frágil, não ele. Ao abrir a porta vi ele sentado na cama desarrumada, com a cabeça baixa, com as mãos no rosto, parecia estar com a mesma roupa a um bom tempo. Eu não entendia muito bem o que ele sentia, já estavam noivos, estavam começando a juntar dinheiro para o casamento e a compra da casa, pretendiam se casar em três anos, eu já havia começado a aceitar ela, Tiago estava feliz, eu não poderia sustentar uma implicância desfundada, que agora não parecia ser tão sem base assim, afinal eu sempre imaginei que ela faria algo desse tipo. Mordi a língua para não o dizer: "Eu te avisei", em vez disso o abracei, tentei faze-lo rir, e esperei calmamente o momento em que ele teria coragem de me dizer o que aconteceu.

Não eram suspeitas, como sua avó me disse, eram fatos, ele viu acontecendo. Era mais sério do que pensava, então tive que me desdobrar para consola-lo, o que não foi muito fácil, ele estava triste e isolado em um mundo só dele. O deixei tomando banho quando fui até meu apartamento buscar roupas e comprar coisas que ele gosta de comer, na esperança de que uma delas talvez fizesse ele pelo menos se sentir melhor, tinha apenas três dias antes que ele voltasse para o quartel. No primeiro não dormimos, fiquei sentada acariciando seu cabelo enquanto ele repousava sua cabeça no meu colo, chegava a ser engraçado as proporções: ele era enorme, e eu tão pequena.

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