Senti sua Falta

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É entranho passar tanto tempo sem meu amigo, desde a morte daquele adorável senhor orgulhoso, Tiago não fala comigo, nem um telefonema ele se deu o trabalho de dar, já estamos caminhando para um mês, e não tenho nenhuma notícia sua, no começo achava que ele apenas queria um tempo, que logo voltaria e tudo seria como antes, porém não foi bem assim. Dessa vez não fui até sua casa, bati em sua porta ou o esperei até chegar de seja lá onde quis ir, acho que cansei da amizade imperfeita que construímos no começo como uma obrigação, que com o tempo se tornou opcional. Sinto sua falta, porém o orgulho nunca falou tão alto, eu não vou voltar, eu nunca fui embora para começo de conversa. Minha vida de certa forma está quase perfeita, no caso só falta ele, mas isso é só algo que o tempo pode curar.

Isaac cismou que viria para São Paulo, algumas semanas que não nos vemos, ele usou a desculpa que viria somente para ver o jogo de seu time, porém é claro que não acreditei, afinal ele é bem melhor em datas do que eu, completamos mais um mês juntos no dia que ele chega. Agora que se tornou um dos homens mais novos a alcançar a tão sonhada estabilidade financeira, começando a sua ascensão planejada, tenho que me acostumar com sua presença no meu apartamento, é claro que não tenho nada contra, estou até curtindo a parte em que toda semana ganho livros de diferentes gêneros, agora só tenho que testar a parte presencial.

*****

Dê longe reconheci sua forma de andar, com certeza me procurando, acho engraçado como ele não perde a mania de não olhar para o chão. Depois de alguns segundos um sorriso se alastra por seu rosto, então começa a caminhar mais rápido ao meu encontro, já sentia meu coração pulsar mais rápido. Ele me apertou tão forte que senti minha respiração parar, logo depois me girou no ar, fazendo com que minhas gargalhadas ecoassem pelo aeroporto e prendessem a atenção de quem nos via, ao me pôr no chão, deixou com que eu o abraçasse pela cintura, já que seu pescoço é alto demais para que eu o envolvesse, enquanto isso ele beijava carinhosamente minha testa, descendo até minha boca.

- Calma! Eu estou aqui. – Falei sorrindo alegremente.

- Eu sei, eu não vou mais deixar você ficar por tanto tempo longe. – Respirou fundo e colocou sua grande mão sofre o meu rosto. – Senti tanto sua falta.

- Eu – Sorri de lado, adorando o toque de sua palma em meu rosto, apreciando a nova sensação já conhecida. – Eu também, mas agora vamos para casa.

Antes de me desvencilhar do abraço, ele começou a apertar meus braços, minha cintura, quadril, como se quisesse verificar se tudo continuava como antes, meu sangue começou a esquentar, o olhei sem nenhuma expressão, então encontrei seus olhos desejosos repousados sobre o meu, aquilo ainda mexia comigo, ele mexia...

Fomos para o alojamento, e por mais que eu tivesse implorado para que as meninas não me deixarem sozinha com Isaac, elas ignoraram completamente, ainda lembro do sorriso travesso da Dessa quando negou meu simples pedido.

- Está sozinha? – Sorriu de um jeito espantado – Eu não esperava que estivesse sozinha.

- Pois é. – Me afundei no sofá. – Nem eu, mas é o que temos para hoje. – Ele sorriu e caminhou até mim.

- Para mim é o melhor que poderíamos ter. – Então me beijou e pudemos assim começar a tirar o atraso das últimas semanas.

******

Adormecemos na noite passada vendo as novas séries que Isaac começou a acompanhar, digamos que seu gosto nesse quesito tenha melhorado muito, foram quase uma temporada inteira na mesma noite. Essa manhã acordei sorrindo bobamente, ainda mais depois que vi a linda mesa de café da manhã, e logo atrás da bancada estava um lindo homem de blusão preto, com as mangas dobradas, e cueca branca, eu nunca tinha percebido como sua bunda era grande, mas agora estou começando a acreditar que o casamento vai ser bom. Eu já até estava acostumada a ver homens perambular pela casa assim, Tiago por exemplo só dorme de cueca, ou seja, todos na casa são obrigados a ver seu corpinho sensual passeando pela casa, o namorado da Dessa também tem essa mania, já nem reclamo mais, o da Hadassa então, parece que não conhece a palavra blusa, adora andar sem camisa. Com o tempo acabamos nos acostumando, pelo jeito os homens que andam por aqui não gostam de tecidos.

- Bom dia, amor – Ele diz me puxando para perto dele, e apertando meu corpo no seu.

- Bom dia. – Digo me afastando e tentando bisbilhotar o que ele está preparando. – Se não me engano ontem quando dormi você estava vestido, o que houve?

Nós nunca tínhamos passado do tão famoso beijo, desde pequena sempre quis que acontecesse depois que me casasse, acho que é uma forma de garantir que ele será o único.

- Vai brigar comigo? – Sorriu me dando um copo de vitamina. – Eu tomei um banho agora de manhã, daí peguei a primeira coisa que vi no banheiro. – Nesse momento reparei que o blusão era do Tiago, achava que eles não vestiam o mesmo número.

- Ata – Falei indiferente. – É do Tiago.

Depois disso ele começou a bancar o analista e a perguntar e dar conselhos sobre minha amizade com meu melhor amigo. No começo ele tinha bastante ciúme da amizade, até ficou feliz quando viu que não nos falávamos mais, porém quando começou a me ver triste, ele percebeu que Tiago era realmente importante para mim, me ouviu sobre como tinha sido o último ano, percebeu que não tínhamos maldade um com outro e resolveu dar uma chance, afinal as vezes que eles se viram Tiago foi bem respeitoso, tentou incluir ele em todos assuntos, evitamos falar coisas que ele não sabia. Sei lá, não esperava uma atitude como a da antiga namorada de Tiago, e realmente não a tivemos.

- Chega! – Disse me levantando sentindo a barriga pesar. – Vou para a faculdade, mas já volto, só vou entregar algumas plantas, então saímos.

- Ótimo, vou no meu novo apartamento deixar minhas coisas e volto para cá.

******

Já faz três semanas que meu namorado está em São Paulo, até que estou gostando da sua presença, já me acostumei e acho que as meninas também, digamos que ele é bem simpático quando quer, porém, confesso que vê-lo todo dia tem me atrapalhado um pouco com a faculdade e o trabalho que arrumei para ganhar um dinheiro extra. Na próxima semana acaba suas férias e ele terá que voltar para o Rio, vai ser meio ruim não ter mais sua companhia, voltar a conversar por mensagem ou chamadas de vídeo.

Nem acredito que já estou o levando ao aeroporto, ele prometeu que logo voltará, ou eu irei visita-lo. Ao olhar o rosto dele, soube que se pedisse ele ficaria, então decidi fingir que o tempo realmente passará rápido e que logo nos veremos como combinado.

Venho prestando atenção na sequência de arvores pelo trajeto até os dormitórios, com a mente vazia estaciono, terei que levar o carro alugado amanhã para a agência. Quando entro em casa vejo um menino conhecido no sofá olhando para o teto.

- O que faz aqui? Como entrou? – O olhei surpresa.

- As meninas me deixaram entrar. – Ele levantou. – Temos que conversar, vamos naquela praça que gosta? – Se aproximou com os olhos tristes.

Então eu o abracei, logo Tiago respondeu me apertando forte. É claro que eu queria gritar com ele e ouvir tudo que ele tinha a me dizer, mas nessa hora nada parecia ser tão importante quanto abraçar meu melhor amigo, senti falta das nossas discussões, de como dizemos que temos razão, ou rimos por qualquer coisa.

- Senti sua falta, cadarço. – Falou com a voz embargada.

- E por que demorou tanto? – Falei estranhando minha voz.

- Eu estava mal, o cara mais importante da minha vida se foi, demorou dias para que a minha ficha caísse, quando finalmente veio, eu me isolei de tudo e todos, me desculpa, mas eu precisava desse tempo. Na verdade, não todo ele, porém quando comecei a voltar ao normal, não sabia como você iria reagir, não imaginava que fosse acreditar em mim ou algo assim.

- E o que mudou? – Perguntei o olhando.

- Eu não tinha nada a perder, de qualquer forma eu já tinha perdido você. – Ele soltou o ar. – Me desculpa.

- Tudo bem. – Quase não deu para me ouvir falando.

Quando ele começou a falar de novo, eu o mandei ficar quieto, estava ouvindo seu coração com precisão quase completa. É engraçado como não paro para prestar atenção em momentos simples como estes, estou tão acostumada em ter alguém perto de mim que nem reparo como pequenos gestos fazem meu dia ser completo. Agora entendo e sorrio por perceber que o coração de alguém marca o compasso da melodia que meu peito costuma tocar sozinho.

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