Dia da mudança

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Já estou cansada de tudo isso, já é a sétima vez que meus pais resolvem se mudar, normalmente fazem quando começo a ter amigos...

A primeira vez que realmente senti o que isso significava foi na quinta mudança, quando me contaram nem soube como reagir, estávamos ali fazia oito anos, costumo dizer que aquela foi a minha melhor época, onde tudo era novo, onde em tudo era minha primeira vez: primeira vez que pintei uma casa com meu pai, primeiro garoto que gostei, primeira vez que fiquei sozinha em casa, primeira vez que me sentei para fazer carinho no meu cachorro, com o céu quase escuro, vendo meu pai e minha mãe conversando, primeira vez que percebi que ser feliz é algo natural e simples.

Na escola, tinha meu sexteto, a elite: Dois meninos e quatro meninas, pode-se dizer que tínhamos tudo, sorriamos pelas mesmas coisas, conversávamos sobre tudo, tínhamos nos encontrado. Até que os dois meninos começaram a gostar da mais nova de nós, já as duas mais velhas decidiram que era a hora de "amar", então sobrou somente uma dupla eu e a mais nova, éramos consideradas as crianças do grupo, pois estávamos focadas em viver a fase que de fato estávamos: infância, todos nós não sabíamos nada da vida e os que fingiam saber, era óbvio que estavam fazendo tudo errado.

Mesmo segregados continuávamos sendo amigos, fazíamos o que tínhamos que fazer, mais não abríamos mão de sermos amigos, a verdade é que estávamos mudando, uns rápidos demais outros nem tanto, não podíamos fazer nada, apenas aceitar e esperar que não perdêssemos nossos valores.

Era tarde, um dia fresco e calmo como de costume, já tinha os ouvido dizer que logo iriamos para outro lugar, entretanto não esperava que um dia acontecesse, mas aconteceu... Durante meses não sabia como me sentir, meus vizinhos eram meus amigos, nascemos praticamente juntos e nos reuníamos quase todos as noites para brincar, e com os anos, apenas para conversar vendo as estrelas, nossas casas estavam localizadas a frente de uma grande mata, a cidade não era tão próxima, andávamos cerca de 20 minutos até o mais próximo pequeno mercado. Era comum vermos pássaros durante a manhã, vaga-lumes e grilos durante à noite. Tudo isso tinha acabado. Na escola me despedi de todos, fizemos uma festa do nosso jeito, para lembrarmos de tudo que se passou, já na vizinhança apenas nos despedimos prometendo que aquilo não era o fim, e realmente não foi.

A nova casa era diferente, agora tinha um quarto só meu, sem tê-lo que dividir com meus pais, já que era filha única o novo quarto era todinho meu. Levou semanas até que me ajustasse, aqui tudo era muito civilizado, eu era a garota nova na escola e vivia de cara fechada com saudade de "casa", meu consolo era que minha família morava bem perto, sempre tinha para onde ir.

O tempo passou e eu me acostumei, tinha feito amizades, e como sempre minhas notas continuavam altas. Então chegou a hora de nos mudarmos mais uma vez.

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Minha mãe me avisa que o caminhão chegará daqui a uma hora, desde ontem não durmo, tirei alguns cochilos no máximo entre uma caixa e outra, só percebi agora que tenho muita coisa, isso sempre foi bom, essa mania de guardar pois um dia talvez sirva, mas na hora da mudança eu sempre acabava precisando de mais caixas do que o necessário, mais espaço no caminhão do que podia pedir.

- Cora, o caminhão chegou, teu tio e teu primo estão aqui para ajudar a gente, falta muita coisa para descer?

- Não mãe, meu pai já desceu com quase tudo, só falta duas caixas e minha mochila.

- Ata, vou pedir para o Marcos pegar aí.

Minha casa é de dois pavimentos e um sótão que antigamente era um terraço, porém por ser bem alto as telhas costumavam voar, o que interligava os andares era uma escada caracol preta, a qual dificultou nossa mudança tanto na hora da chegada quanto agora, na hora da saída, tivemos que procurar outras maneiras, meu pai optou por tirar a janela:

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