Capítulo 2

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Passo quase a tarde toda com ela, mas eu sei que minha mãe já deve estar arrancando os cabelos de preocupação, então espero dar a hora do meu pai chegar em casa e volto.

Quando chego em casa minha mãe está na sala com meu pai me esperando, com caras estranhas, mamãe parece com raiva e medo ao mesmo tempo, meu pai por outro lado, parece decidido, mas triste.

- O que foi que aconteceu? – Pergunto assim que os vejo. – Aconteceu algo com o Luca?

- Não, ele está até melhor. – Meu pai diz. – Senta Luna.

- O que foi que aconteceu? – Pergunto novamente enquanto me sento de frente para eles.

- Sua mãe achou isso nas suas coisas. – Ele me mostra meu caderno de desenhos, aberto nos que fiz de Miguel.

- O-o que que tem? – Pergunto sem entender o porquê daquele clima todo por causa de alguns desenhos. Eu estava assustada com aqueles desenhos, mas não acho que eles poderiam ser tema de uma conversa séria.

- Você conhece esse rapaz de onde? – Então é por isso? Ciúmes de pai?

- Da escola, ele é novato.

- Só daí? – Minha mãe pergunta.

De repente, não consigo olhar para eles e nem responder, eu nunca consegui mentir para eles, mesmo agora, eu simplesmente não consigo abrir a boca.

- Luna? – Meu pai pergunta tocando em meu braço.

- Eu... Eu... – Foi tudo que consegui me forçar a falar.

- Pode falar Luna, não precisa esconder nada da gente, você sabe disso. – É esse o motivo para eu não conseguir mentir para eles, nunca precisei, eu sempre posso contar tudo.

Olhando para eles, vi a preocupação genuína que eles tinham por mim, e não consigo manter a boca fechada e acabo falando tudo muito rápido.

- Eu sonhei com ele antes de conhecê-lo.

Minha mãe fica claramente perturbada com o que eu disse, mas a única reação do meu pai é um ligeiro arregalar de olhos.

- Eu disse que devíamos contar logo. – Ele fala para minha mãe sem tirar os olhos de mim.

- Eu sei. – Mamãe parece cansada e triste ao dizer isso. – Luna, venha comigo. – Ela se levanta e me leva até seu quarto, pega um caixa de madeira, que estava embaixo de uma tabua solta, debaixo da cama e a abre com uma chave que fica pendurada em seu pescoço, mas antes de abrir olha para mim e diz – Filha, quero que você se lembre que sempre fiz de tudo para te proteger e mantenha sua mente aberta, ok?

Apenas balanço a cabeça, de alguma forma eu sei que o quer que ela tenha para me contar vai mudar minha vida totalmente.

- Querida, nós sempre dissemos que erámos só nós quatro, mas a verdade é que nossa família é grande, você tem muitos tios e primos, e tem avós também.

Ela me mostra uma foto de família, onde reconheço apenas os rostos dela e meu pai.

- Essa aqui é você. – Ela aponta para um bebezinho do colo de um senhor todo sorridente.

- E quem é ele? – Aponto para o senhor.

- Seu avô, meu pai.

Olho novamente para foto, surpresa por ter uma família tão grande, com um avô que aparenta ser muito carinhoso.

- Porque eu nunca soube dele? – Pergunto ainda olhando para a foto.

- Foi ideia dele fazer você crescer longe daquele mundo. Para te manter segura.

- Segura? Segura de que?

- Nosso mundo é perigoso querida.

- Eu sei que pode ser perigoso andar lá fora, mas ao ponto de me esconderem da minha própria família? – Eu não consigo entender isso, é confuso. Porque me esconder? Porque me manter no escuro todos esses anos?

- Não Luna, andar lá fora até pode ser perigoso, mas não é disso que estou falando, falo do nosso mundo antes de te trazer para cá. Falo do mundo onde eu cresci, um mundo onde tudo é mágico, mas ao mesmo tempo perigoso.

- Eu não tô entendendo mais nada, mãe.

- Eu falo de um mundo onde as lendas são verdades, meu bem.

- Lendas? Que tipo de lendas? Tipo fadas e duendes?

- Não, tipo lobisomens e bruxos.

- Hein?

- Olha, filha, eu sei que é muita coisa pra pensar, sei que pode ser difícil de entender, mas preciso que acredite em mim.

- E como eu vou fazer isso, mãe? – Falo me levantando da cama e andando de costas em direção à porta. – Vocês passaram a minha vida inteira mentindo para mim, eu, eu tenho que pensar.

Saio correndo do quarto dela e me tranco no meu.

Mas que loucura era aquela? Antes eu pensei que estava enlouquecendo por causa de um sonho, agora eu sei que estou ficando louca mesmo.

Depois de um tempo andando de um lado ao outro do quarto ouço alguém bater na porta.

- Querida, – é minha mãe – eu sei que você tem que pensar, mas quero que você fique com isso. – Ela abre a porta e me estende a caixa onde estava a foto que ela me mostrou. – Não precisa olhar agora, só quando estiver pronta.

Pego a caixa e ela sai. Fico olhando para ela durante muito tempo. Decidindo que estou muito cansada - o dia foi muito longo e confuso - tomo um banho e vou me deitar.

A Escolhida - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora