Prólogo

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Alemanha, 1945

Dizem que a guerra mexe o homem, mas a vinda pra casa depois ou durante a guerra é o que mais muda seu ponto de vista em relação ao mundo.

Eu acabara de acordar num hospital. Os sorrisos e barulhos de festejos de alguns colegas de quarto marcavam o fim da guerra. Meus colegas de batalha estavam com grandes sorrisos sabendo que poderiam retornar para sua família, mesmo que estivessem com alguns ossos quebrados ou pontos por levarem alguns tiros. A paz de saber que iriam pra casa lhes restaurava.

Alguns solteiros paqueravam as enfermeiras voluntárias, eu apenas me ajeitei com cuidado para que o ombro enfaixado não doesse.

— Com licença, pode me dar um papel e uma caneta? – pedi a uma enfermeira loira e baixinha, que me mandou um sorriso simpático e logo saiu, indo buscar o papel e a caneta. Quando ela voltou eu agradeci a ela e à Deus por meu ombro enfaixado ser o esquerdo e não o direito.

Suspirei levemente e olhei pro pedaço de papel em minhas mãos e a caneta tinteiro. Não haviam palavras que pudessem descrever como eu estava feliz por poder fazer isso novamente, poder escrever e colocar em um pedaço de papel endereçado a Nova Orleans como eu estava e quando voltaria. Mas foi só pensar nela que tudo me veio a mente sem muito esforço.

"Querida Rute,

A guerra finalmente acabou. Estou bem apesar de ter levado um tiro no ombro e ter alguns arranhões pelas trincheiras que tinham em alguns campos.

Finalmente vencemos o cara do bigodinho.

Eu não sei muito o que lhe falar. As coisas interessantes acabaram e tudo que posso falar é sobre faixas, ataduras e pomadas.

Estou no hospital há quase uma semana e as festas pelo término da guerra não acabaram. A cada dia que acordamos é a mesma alegria por não ter sido só um sonho.

Sinto sua falta. Falo isso todas as vezes que lhe escrevo uma carta mas gosto de deixar claro que oceano algum vai mudar minha afeição por você, que aliás, cresceu.

Dizem que em alguns dias eu estarei livre dessa maca, e o que mais anseio é entrar no primeiro navio que zarpar para Nova Orleans. Acho que só a brisa me fará sentir você nos braços, mesmo que essa sensação seja algo único que ninguém jamais me proporcionará.

Mal posso esperar para te ter em meus braços.

Com amor,
Seu soldado."

Assim que coloquei o ponto final na carta eu sorri levemente, pensando em como me apaixonei em três meses. Os três meses em que conheci a Rute, minha doce e amada Rute.

Cartas Para RuteOnde histórias criam vida. Descubra agora