Nova Orleans, 2005
Quando ela saiu da minha sala eu continuei sentado na cadeira ajeitando o terno. Era bom tirar, mas colocar de volta nem tanto.
Aproveitando que estava no meu escritório, comecei a ler mais as cartas a procura do soldado Joseph, e de sua amada Rute Clark. Emma estava certa, eles de fato iam muito nesse tal lago e ficavam horas se amando em baixo de uma cerejeira.
Suspirei determinado e liguei meu computador pronto pra acessar à internet e procurar Rute e Joseph, achando milhares de Rutes Clarks por Nova Orleans de 1940, mas apenas uma que morava perto de uma cerejeira que ficava perto de um lago.
Recolhi o endereço que o navegador indicava e guardei o mesmo sorrindo de forma larga e animada. Era incrível o que a Internet era capaz de fazer. Achar o endereço de alguém? Imagina o que poderíamos fazer em 10 anos? Talvez os computadores fiquem mais evoluídos e mais eficientes, mas o que temos em 2005 já é algo impressionante.
Sai de meu escritório correndo para o depósito. Emma estava com seus fones de ouvido catalogando algumas coisas. Era impressionante como ela ficava bonita distraída com aqueles headsets bregas. Aproximei-me lentamente dela e tirei a música de seus ouvidos devagar enquanto a encarava com um leve sorriso
— Oi. - falei com um pequeno sorriso no rosto enquanto encarava a menina que erguia seu rosto para me olhar.
— Hey... precisa de algo? - ela pergunta colocando os fones pendurados em seu pescoço pausando a música em seguida.
— Preciso de companhia para uma viagem... - falei deixando o suspense no ar e logo vi os olhos da menina se arregalarem e brilharem com alegria.
— Você achou? - perguntou quase gaguejando e assim que assenti, deu pulos de alegria passando seus braços por meu pescoço em seguida. Logo rodeei os meus em sua cintura e afundei meu rosto em seu pescoço sentindo seu leve cheiro de morango.
— Que cheiro bom... - sussurrei em seu ouvido apertando levemente a cintura da garota. Conseguia sentir o arrepio que percorria por seu corpo. Nos afastamos e então eu sorri levemente olhando ela.
— Então... quando vamos? - ela perguntou remexendo em sua jaqueta enorme que a fazia parecer um homenzinho.
— Em uns dias. Preciso separar nossas reservas e acho que devemos ler mais algumas cartas para chegarmos sabendo do que estamos falando. - disse enquanto me encostava em uma das prateleiras ali com as mãos em meu bolso. — Então o que acha de ir la em casa hoje de novo? Você está sem moto mesmo... podemos ir direto daqui.
— Ah... eu não... não sei, acho que pode ser... a Janice não vai se incomodar? - eu sabia que ela havia ficado incomodada com a surpresa que foi a Janice aparecer em meu apartamento, ainda mais depois do que quase aconteceu.
— Não, estamos bem. Ela não é minha namorada. - dei de ombros e observei enquanto ela assentia.
— Tudo bem então, eu acho.
— Ótimo, eu saio às 17h, ok?
Ela assentiu novamente e eu saí do depósito voltando ao meu escritório. Aquele projeto novo estava sendo maravilhoso. As descobertas e as paixões que descobrimos através de tudo... bem, não há como explicar a felicidade que eu sentia.
Quando nosso expediente acabou, eu fui direto para o meu carro e esperei por Emma enquanto olhava meu relógio. Ela saiu pelas grandes portas vindo direto pro carro e eu então sorri pra ela abrindo a porta para que entrasse.
— Senhorita. - falei e então ela sorriu entrando no carro logo colocando o cinto. Eu dei a volta e me ajeitei em meu assento dando a partida em seguida indo direto para o meu apartamento.
Assim que chegamos, estacionei o carro na garagem e pegamos o elevador para o meu apartamento, e quando entramos, joguei minha pasta no sofá e tirei o terno e a blusa social, jogando tudo no braço do móvel junto com a gravata que havia retirado antes. Percebi pelo canto do olho Emma congelada. Seus olhos estavam foçados em meu torso agora nu. Eu sorri levemente de lado e fechei a porta atrás dela deixando um beijo em sua bochecha em seguida.
— Quer pegar o vinho na geladeira? Vou pedir uma pizza pra gente e reunir alguns cadernos pra podermos começar a trabalhar. - sorri pra ela e fui pro escritório que tinha ali. Peguei minhas agendas, canetas e o telefone sem fio.
Quando voltei, Emma estava sentada no tapete bebendo um pouco do vinho enquanto continuava a ler algumas cartas.
— Oi, eu vou pedir a pizza. - falei pra ela que apenas balançou sua cabeça em concordância e se manteve focada na carta em sua mão.
Sai de perto dela e então fui para a cozinha, vendo um panfleto de uma das pizzaria que sempre entregavam lá em casa. Ainda não havia decorado aquele bendito número apesar de comer bastante, praticamente um cliente fiel.
Após pedir a pizza, voltei pra sala e me sentei ao lado da Emma com o telefone em mãos. Ela estava lendo outra carta agora e seus olhos estavam levemente marejados.
— Está bem? - ela apenas balançou a cabeça assentindo e limpou suas lágrimas em seguida sorrindo fracamente pra mim murmurando um "eu estou bem". Preferi acreditar nela e então entreguei o papel com o telefone e o endereço da Rute Clark a ela. — Pode ligar pra mim? Você é mais adorável que eu...
Ela revirou os olhos sorrindo e pegou o telefone de minha mão digitando o contato de nossa amada Rute. Esperamos alguns segundos, e quando estávamos pra desistir uma voz jovem atendeu e ela colocou então no viva-voz.
— Alô...
— Oi! Meu nome é Emma Jones, sou funcionária do Museu Nacional de Nova Orleans, e gostaria de falar com Rute Clark.
Emma mordeu o lábio ansiosa. Percebi que a ligação havia ficado muda por um instante e estávamos ambos aflitos com aquelas situação.
— Ah... eu vou passar para o senhor Elliot, ele vai conversar com a senhorita.
Passou-se um tempo e então Emma sorriu ao telefone ao ouvir uma voz rouca.
— Olá... o que deseja senhorita?
— Bom, eu trabalho no Museu Nacional e encontramos no depósito cartas destinadas a senhorita Rute Clark que nunca foram entregues. Esse mês teremos uma exposição especial sobre o romance durante a Segunda Guerra, e ficamos curiosos em expor a história dela e do soldado Joseph. Sabe onde podemos encontrar qualquer um dos dois?
— Sei... eu sou o Joseph.
Emma e eu fizemos um high-five e ela continuou na ligação pegando a agenda e uma caneta.
— Podemos nos encontrar em algum lugar para conversar? Meu colega e eu estamos prontos para ir onde o senhor desejar.
— Ficarei feliz em contar minha história e de Rute. Podem vir a minha cabana quando quiserem. Só me avisem com antecendência para que possamos preparar os quartos.
— Muito obrigada senhor Elliott! Tenha uma boa noite.
Depois de ouvir o tchau do soldado, Emma desligou o telefone e sorriu alegremente deitando no tapete fechando os olhos.
— Não acredito que estamos conseguindo... isso vai ser tão bom pro meu currículo. - ela sorriu relaxada e se ergueu novamente dando mais um gole no vinho.
— Parece que vamos viajar e conseguir entregar uma exposição pro el Diablo a qual ele não achará defeitos. - sorri pra ela brindando nossas taças.
Não demorou e a pizza chegou. Deixei a mesma na mesa de centro enquanto comíamos e continuávamos a planejar nossa incrível viagem para voltar ao passado.
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Cartas Para Rute
Romance1943: um soldado viaja para Nova Orleans para visitar seu pai doente. No entanto, o que era para ser uma visita à sua cidade para cuidar de seu pai, acaba apaixonando-se brutalmente pela filha do alfaiate da cidade. 1945: a guerra acabou e o soldado...