Nova Orleans, 1943
Rute e eu estávamos aflitos com nosso casamento. Precisava ser feito as pressas, já que meu oficial estava me chamando para retornar à guerra. Meus momentos com Rute me faziam esquecer que ainda estávamos em período de grande aflição, sem data para acabar.
A mãe de minha noiva estava ansiosa e nervosa com todo o preparo. O casamento de sua filha não era para ser algo rápido. Esperávamos ter meses para preparar toda a cerimônia, convidar os amigos e família. No entanto, sabíamos que apenas as pessoas próximas viriam. Em questão quilométrica, não por afinidade.
Muitos não queriam se arriscar a sair de casa, então nosso casamento era apenas um luxo ao qual não se dariam, mesmo que a guerra fosse na Europa, e não em Nova Orleans. Nossa lista de convidados era tão pequena e ia diminuindo, que no fim das contas parecia poder caber em um guardanapo de papel.
À medida que a data se aproximava eu via menos Rute. Frequentemente recebia ligações me convocando para o campo de batalha novamente, e todas as vezes era necessário que eu respondesse explicando minha situação. Me pareciam desesperados àquela altura do campeonato, mas entendia que o desejo de acabar com a guerra era geral. Até mesmo o meu.
Quando o grande dia chegou, meu coração parecia não querer bater ou que não estava em meu peito. Não conseguia sentir minhas pernas e as palmas de minhas mãos estavam suando de maneira que parecia que faltava água em meu corpo. Não interprete como arrependimento, eu suplico. Era ansiedade de poder me unir em matrimônio com a mulher que eu amava e tinha medo de perder subitamente. A saúde de Rute não estava melhorando.
Eu andava de um lado para o outro no altar enquanto nossos amigos se acomodavam nos bancos da igreja. A gravata em meu pescoço se apertava em ansiedade. Meu coração não cabia em meu peito e minha mente criava imagens de Rute em seu vestido branco e véu. Em meus pensamentos ela estava perfeita, e pessoalmente... o fôlego não era capaz de se manter.
Conseguira enxergar o brilho nos grandes olhos castanhos dela assim que apareceu com seu pai no início do tapete vermelho que se estendia pela igreja. Estava magnífica. O vestido feito por sua mãe continha pequenas flores bordadas em sua borda, o decote em formato de coração com alças de cetim caídas no ombro lhe caiam perfeitamente.
Seu pai ajeitou o véu em seu rosto o cobrindo, mas aquilo não escondia a perfeição de minha noiva.
Eles começaram a andar em minha direção e parecia que o mundo havia parado de girar e o oxigênio havia sido esgotado. Minhas mãos começaram a suar e eu sorri automaticamente quando eles finalmente me alcançaram. Apertei a mão do senhor Clark e então tomei a de Rute deixando um beijo ali.
- Você está linda... - sussurrei levantando o véu de seu rosto e segurei em sua cintura beijando seus lábios brevemente. Sabia que não poderia exagerar a frente de nossas famílias e do representante de Deus na Terra.
— Não exagere, sei meu real estado. - sussurrou de volta e então nós nos viramos, ajoelhando nas pequenas almofadas para que não ficássemos com os joelhos doendo pelos longos momentos ali.
Rute pousou a mão em cima da minha, sem soltar o buquê de sua outra mão. Geralmente ele é entregado para a madrinha, mas ela se recusou a fazer isso. Na verdade, nem tínhamos padrinhos ou damas de honra. Foi uma cerimônia simples mas com muito amor. Isso eu fiz questão de garantir que não faltasse para minha amada.
O padre forçou uma tosse para que nossa atenção fosse chamada, e conseguiu. Nos ajeitamos a medida que todos sentavam-se novamente em seus lugares, mantendo nossa atenção presa ao padre que estava pronto para iniciar.
— Queridos amigos e familiares aqui presentes, estamos reunidos diante de Deus para testemunhar a união de Joseph Anthony Elliot e Rute Anelise Clark. Muitos de nós tiveram a chance de passar pelas lindas fases de seu relacionamento. Quando se conheceram, seu primeiro beijo, a primeira vez que falaram eu te amo até chegarem aqui, e graças a Deus que chegaram aqui. - falou erguendo as mãos ao céus como se agradecesse uma graça divina por ter unido Rute e eu. E talvez realmente fosse uma graça divina. — Deus se alegra quando o amor é confessado e aqui testemunhamos a alegria de Deus.
Ele olhou para a mão de Rute sinalizando para que a aliança fosse entregue e então assim ela o fez. O padre Johnson tirou um momento para abençoar as alianças e então voltou sua atenção para nós.
— Rute, você aceita o senhor Elliot como seu legítimo esposo para amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, todos os dias da sua vida até que a morte os separem? - perguntou entregando a aliança para ela.
Rute pegou a aliança e então se virou para mim segurando minha mão, colocando o anel devagar no dedo de minha mão esquerda. Eu não podia acreditar que estava me casando naquele momento.
— Eu, Rute, aceito você, Joseph Anthony Elliot, como meu legítimo esposo para amar e respeitar em qualquer circunstância que apareça... até que eu de meu último suspiro. - falou encarando meus olhos enquanto colocava a aliança em meu dedo. Uma pequena lágrima caiu de seu olho esquerdo e eu estendi a mão rapidamente para secar.
— Joseph, você aceita a senhorita Rute como sua legítima esposa para amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, todos os dias da sua vida até que a morte os separem? - era minha vez agora de aceitar ela como minha esposa.
A aliança foi entregue em minhas mãos e eu segurei delicadamente a mão esquerda dela colocando a aliança com calma enquanto falava.
— Eu, Joseph, aceito voce, Rute Anelise Clark, como minha legítima e amada esposa. Prometendo que farei de tudo para te honrar e amar até que meu ar se esvaia e meu coração pare. - terminei de colocar a aliança em seu dedo e então dei um beijo na mesma acariciando.
— Pelo poder investido em mim pela graça de Deus, eu os declaro marido e mulher. - o padre declarou com um sorriso fazendo o sinal da cruz a nossa frente. — Pode beijar a noiva.
Assim que as últimas palavras foram ditas, segurei o rosto de Rute deixando um beijo longo em seus lábios com todo o amor que tinha em meu peito e ainda assim não era suficiente para mostrar o quanto eu queria ela ali.
Só não foi muito tempo.

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Cartas Para Rute
Romance1943: um soldado viaja para Nova Orleans para visitar seu pai doente. No entanto, o que era para ser uma visita à sua cidade para cuidar de seu pai, acaba apaixonando-se brutalmente pela filha do alfaiate da cidade. 1945: a guerra acabou e o soldado...