XI

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Nova Orleans, 2005

Depois do jantar eu passei na casa de Emma para pegar sua mala e irmos para o meu apartamento. Dormiríamos lá para que pudéssemos sair mais cedo na manhã seguinte. Apesar de parecer algo maravilhoso - e podia ser mesmo - eu estava completamente tendo após ouvi-la cantar. Não fazia ideia de que era daquele jeito que ela se sentia todo aquele tempo. Ou será que aquilo só surgiu após começarmos a trabalhar juntos na exposição? Eu torcia para que todos aqueles pensamentos e toda a tensão fosse para o ralo, ou eu etária apenas desperdiçando água há quase uma hora.

Emma já havia batido duas vezes na porta do banheiro preocupada, mas eu apenas fala um "está tudo bem" e então ela saía.

Quando eu finalmente saí, ela estava com seu headset escutando Simple Plan como sempre enquanto organizava as cartas que havíamos aberto e trabalhado em cima. Acabamos por concordar que não abriríamos mais nada. Mesmo que aquelas cartas fossem pertencentes ao museu, ainda eram do Joseph e era de sua privacidade que estávamos falando, então preferimos não viola-la mais até que ele autorizasse, e esperávamos que ele o fizesse além de contar muito mais além do que havia escrito nas cartas.

Após vestir minha samba-canção, me sentei atrás dela na cama passando meus braços por sua cintura beijando seu pescoço com calma arrancando um sorriso pequeno de seus lábios.

— Vamos dormir? - ela tirou o headphone e parou a fita, deixou tudo no criado-mudo. Logo se aconchegou embaixo dos lençóis e eu fiz o mesmo. — Boa noite, Emma.

Beijei sua testa e observei a menina virar de costas pra mim após murmurar um boa noite e finalmente dormimos.

Na manhã seguinte já tínhamos tudo planejado e pronto, então quando entramos no carro e eu comecei a dirigir até a pequena cabana do Joseph na beira do Rio Mississipi, não havia estresse nenhum.

No carro tocava uma estação qualquer no rádio. Não me importei já que estava concentrado na estrada, e logo vi que Emma também não se importava, pois estava a todo vapor escrevendo em seu caderninho tudo o que achava que deveríamos perguntador.

— Vai querer parar para almoçar em algum lugar? - perguntei desviando rapidamente meu olhar pra ela que levantou seu rosto do caderninho e me encarou com um pequeno sorriso nos lábios.

— Onde você achar melhor. Desde que seja barato, ainda estou guardando dinheiro para o emprego em Londres. - ela falou e só então eu me toquei de que nunca havíamos conversado propriamente sobre se trabalho que ela havia arranjado. Uma viagem de carro parecia o momento perfeito para conhecer um pouco mais dela.

— Você não me contou qual o trabalho. Apenas falou que é em Londres. - pelo canto do olho conseguir ver Emma largar o caderninho e se virar pra mim animadamente.

— Vai ser incrível! Eu vou sair de um depósito pra sempre. - riu fracamente e logo voltou a sorrir pensando no seu futuro emprego. — Estou indo no mês que vem. Trabalharei no Museu Nacional de lá, serei responsável por uma pequena parte da exposição da Segunda Guerra. O senhor King me ajudou bastante e nosso trabalho com o Joseph apenas encorajou aos diretores do museu de lá a me darem esse trabalho.

— Mesmo? Estou tão feliz por você! - e estava mesmo. Exceto pela parte que o emprego era em Londres. Não conseguia mais imaginar meus dias sem a amizade dela. — Farei questão de ser o primeiro na fila para ver sua exposição.

Sorri levemente e senti a mãozinha dela agarrando minha mão que estava livre. Eu virei o rosto sorrindo pra ela mas logo voltei a olhar a estrada. Definitivamente não queria nenhum acidente acontecendo.

Acabei mantendo minha mão segurando a dela trocando leves carícias pelo caminho, soltando apenas quando estacionei em um restaurante de beira de estrada para podermos almoçar, e mesmo quando descemos, voltei a segurar sua mão.

Entramos no Papa John's e logo que sentamos um garçom veio nos atender. Além de nosso pedidos, ele parecia louco para poder anotar também o número do telefone de Emma. A insistência dele em elogia-la acabou me incomodando. Será que ele não havia percebido que eu estava bem ali com ela?

— Bom, eu vou querer o omelete com uma porção de batata frita e um suco de laranja. E você, amor? - sim, fiz questão de acabar com aquela palhaçada. Ele deveria se tocar quando uma pessoa estava acompanhada ou não.

— Eu quero o frango grelhado com fritas e o mesmo suco. - devolvermos o cardápio a ele e ela cruzou os braços me encarando com a sobrancelha arqueada depois que ele havia saído. — Sério? Estava com ciúmes?

— O que? Não! Só estava cansado dele prestar atenção em você e não nos nossos pedidos. Não vai ganhar uma gorjeta nada boa. - revirei meu olhos e peguei o celular no bolso mexendo em qualquer coisa que fosse apenas para evitar o olhar curioso de Emma.

Eu sabia que ela havia revirado os olhos e colocado os fones de volta ignorando minha presença.

Qual era meu problema agora? Por que diabos eu estava assim?

Meus pensamentos foram varridos pra longe quando o garçom paquerador trouxe nosso almoço. Não pude deixar de notar que o de Emma vinha bem mais batatas que o meu. O bastardo estava tentando de qualquer jeito conseguir o número dela.

Não esperei mais nada e comecei a comer sem trocar mais nenhuma palavra com a garota em minha frente, que estava almoçando com seus fones de ouvido também na intenção de me ignorar. Foi um almoço realmente quieto. Nenhum dos dois se atrevia a falar qualquer coisa. Quando fui finalmente pagar a conta, fiz como o prometido e deixei uma gorjeta não tão boa para aquele garçom galanteador.

No carro de volta à estrada para a casa do Joseph, Emma finalmente abriu a boca.

— Qual é o seu problema?

— Meu problema? Qual é o seu problema de não perceber que aquele cara estava descaradamente dando em cima de você na minha presença?

— Jack... Eu não ligo! Só porque trocamos uns beijos não significa que você é dono da minha vida, tá legal? Eu sou maior de idade e posso fazer o que eu quiser. Não é você que vai me impedir! - antes que eu pudesse responder ela colocou o fone novamente e se virou para a janela. Me recusei a deixar ela me ignorar novamente e encostei o carro no acostamento tirando os fones dela novamente.

— Pára de me ignorar!

— Pára de ser um babaca! Não é culpa minha se você está com ciúmes. Que eu me lembre bem, você nunca terminou com a Janice e agora fica trocando beijos comigo sempre que pode.

— Ótimo. Não me prestarei mais a esse papel. Esta livre dos meus beijos. - voltei a minha postura ereta e firme apertando as mãos no volante enquanto voltava a dirigir.

— Está ótimo pra mim. - reviro os olhos  ao escuta-la e não desviei o olhar mais.

O GPS havia indicado que estávamos chegando, e quando olhei uma pequena cabana amarela na frente do lago acabei por sorrir, ainda mais quando vi um senhor sentado na cadeira de balanço da frente ao lado de uma senhora negra que mantinha as mãos em seus ombros. Já podia imaginar a história linda deles. A história de Joseph e Rute.

Cartas Para RuteOnde histórias criam vida. Descubra agora