Nova Orleans, 1943
Todos estavam em clima de festa naquela noite, e não era pra menos. Parecia que a guerra já havia acabado, mas estávamos apenas celebrando a mim. Meu ego nunca foi grande e eu achava aquela festa um extremo exagero. Havia muito que lutar ainda e não deveríamos estar comemorando absolutamente nada, mas sim ajudando aos que precisavam.
Mais cedo naquele dia quando fui buscar o terno não havia sido a Rute quem me atendeu na loja, mas sim seu pai que disse se orgulhar muito da peça que fez para mim. Irei parecer um centavo novo, em suas palavras.
Obviamente fiz questão de convidá-lo. O atendimento era excelente naquela pequena alfaiataria e seria uma honra de fato. Claro que eu queria muito ver sua filha. Ela era de uma beleza incrível que ninguém conseguiria superar naqueles dias.
A noite estava linda. Céu estrelado, sem nuvens. Havia uma leve brisa para nós refrescar naquelas roupas quentes. A casa do prefeito nunca esteve tão iluminada e animada. Do lado de fora em meu carro conseguia ouvir o som da banda animadamente tocando jazz. Conseguia imaginar os casais dançando na pista, alguns homens com taças de champanhe com suas conversas sobre suas esposas e amantes, um banquete grande e mesas espalhadas para o jantar.
Desci finalmente e subi as grandes escadas para a festa. Não estava tão animado quando se para pra pensar no que estava acontecendo. Guerra, mortes e meu pai doente. Tudo aquilo fazia minha cabeça girar e doer. Mas lá estava ela. Lindamente dançando com um vestido de cetim vermelho que combinava com seu batom vibrante. Por ser solto, a barra de seu vestido parecia voar e aquilo me hipnotizava.
- Senhor Elliot! Que felicidade poder prestar essa festa para o senhor! - o prefeito da cidade disse com ânimo quando chegou ao meu lado. O senhor... Clark se não me falha a memória era um homem muito bom. Cheio de amantes, mas um homem bom. Ele fazia de tudo pelo bem da cidade desde que a guerra estourou. Apesar de ser em outro continente aquilo certamente nos afetava ao ter nossos homens enviados para lá.
- Senhor Elliot é meu pai, pode me chamar apenas de Joseph. - o cumprimentei apertando sua mão com anéis exagerados e um charuto. - Obrigado por essa festa, de fato levantou os animais de meu pai.
- O velho Elliot sabe aproveitar uma boa festa! - ele sorriu e então apontou para a enorme festa, cheia de garçons servindo canapés e champanhe. Não havia como reclamar de mau serviço. O senhor Clark não era burro. Isso de fato não. Extravagante, egocêntrico e escandaloso sim. Mas burro não. Era claro que ele estava fazendo aquela festa também para servir de bom homem para a cidade e garantir sua reeleição.
Acabei me soltando dele e fui comer. Como todos achavam, a festa era pra mim então não queria passar fome. Não, de fato não queria. A guerra me privou de muitos luxos como uma boa comida.
Em uma das bandejas serviam umas iguarias que eu nem saberia pronunciar o nome. "Eu comi na França certa vez. Fiz questão de trazer para que o senhor experimentasse!", a esposa do prefeito declarou e eu não podia ficar mais enojado com a aparência. O gosto na entanto era aceitável.
Aproximei-me devagar de Rute que dançava com duas taças de champanhe na mão. Ela estava distraída com o jazz animado e eu a admirava enquanto caminhava.
- Senhorita Clark. - a chamei ganhando um sorriso dela. Seu sorriso brilhava com seu batom vermelho. Meus olhos brilharam como nunca antes. - Achei que precisava de uma bebida para recuperar suas energias.
Entreguei-lhe a taça bebendo um pouco da minha. A bebida era refrescante e adocicada, mas não tão doce quanto a presença dela.
- Obrigada, senhor Elliot. De fato precisava beber algo. - ela sorriu dando um gole em seu champanhe, e logo me entregou de volta a taça. - No entanto, dançar nunca acaba com minhas energias.
Eu sorri deixando as taças em alguma bandeja que passou ao meu lado e lhe estendi a mão me curvando um pouco.
- Então... Gostaria de dançar comigo? - ela me deu sua mão e deixei um beijo ali. Ela sorriu e então puxei seu corpo para mim. A música continuava animada, então seguimos o ritmo.
Ela gargalhava enquanto dançávamos. Grande parte porque eu não sabia dançar, então enquanto ela esbanjava graça eu estalava meus dedos rindo.
- Com todo respeito, o senhor é terrível. - ela riu se aproximando de mim deixando suas pequenas mãos em meu peito. Ela ofegava pela dança e seu peito descia e subia pela respiração acelerada.
- Eu sei. Já você... é incrível. - falei baixo no ouvido dela enquanto minha mão acariciava suas costas coberta pelo vestido vermelho de cetim.
Ela sorriu timidamente olhando em meus olhos. O sorriso dela a casa segundo ganhava meu coração.
- É gentileza sua, senhor Elliot. - ela falou baixo se recompondo e logo uma música lenta começou. Sua pequena mão segurou a minha e ela começou a me guiar.
- Não era pra ser o contrário? - falei baixo enquanto seu corpo se aproximava do meu a cada passo de dança.
- Não deixaria que estragasse nossa primeira dança. - ela me respondeu com um sorriso divertido e continuamos a dançar calmante.
Conseguia sentir o cheiro de seu cabelo e perfume de tão próximos que estávamos. O pequeno corpo dela parecia encaixar no meu. Dançamos de forma calma e era tudo tão tranquilo. Parecia a coisa mais certa que eu fiz em toda minha vida.
A noite foi perfeita. E era só a primeira.
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Cartas Para Rute
Romance1943: um soldado viaja para Nova Orleans para visitar seu pai doente. No entanto, o que era para ser uma visita à sua cidade para cuidar de seu pai, acaba apaixonando-se brutalmente pela filha do alfaiate da cidade. 1945: a guerra acabou e o soldado...