XVIII

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Nova Orleans, 2005

- Rute e eu decoramos a casa, fizemos a mudança. Tudo antes de nos casarmos. Precisávamos ser rápidos porque eu poderia ser chamado a qualquer momento para voltar para a Europa. - senhor Elliot falava com calma e comoção.

Meu olhar e o de Emma caíram quando ouvimos que Rute havia se adoentado no meio de toda essa história. Claro que não conseguiríamos saber. Nos limitamos a abrir um pequeno número de cartas quando descobrimos que o dono delas ainda vivia. Seria uma imensa invasão de privacidade e ambos queríamos o consenso do Joseph antes de continuar com qualquer plano para nosso projeto.

- Senhor Elliot... - Emma disse baixo. - Se quiser... podemos parar por hoje. - sugeriu com calma em sua voz. Amélia e eu então notamos que o rosto do soldado estava ficando molhado.

- Sim. Já está ficando tarde também. Ficamos horas conversando e nem parece. O sol já se foi. - me juntei a Emma. Não queríamos causar nenhum problema para ele e Amélia. Ainda não sabíamos como ela entrou em sua vida, mas ela era tão serena vendo seu esposo falar de outra com tanto amor.

- Eu estou bem. São só... lembranças de anos terríveis. - suspirou baixo. Conseguíamos perceber sua voz cansada. Talvez pela idade e pelo longo dia lembrando de dias certamente dolorosos.

- Eu e Emma estávamos querendo sair um pouco. Talvez pudessem vir conosco. Comer fora. Por nossa conta. - sorri sugerindo. Emma me olhou confusa já que eu tinha acabado de inventar tudo aquilo apenas para garantir que o Joseph não se colocaria sob mais pressão e nostalgia.

- Sim! Iríamos adorar que fossem conosco. - finalmente ela se juntou a mim, o que me fez feliz pela cumplicidade que percebi ter com ela.

Os Elliots se entreolharam e então Amélia sorriu acariciando o ombro do marido, que logo pôs sua mão por cima retribuindo o carinho.

- Iríamos adorar, crianças. - ela sorriu e então ajudou seu marido a se levantar. - Vamos nos arrumar e esperamos vocês. Sair vai nos fazer bem. Faz muito tempo desde que tiramos um tempinho para curtir, e acho que vocês também precisam.

Após a piscadinha da Amélia, Emma e eu subimos de mãos dadas. Quando entramos no quarto, ela foi direto escolher alguma roupa. Eu decidi tomar banho logo, sabia que no fim das contas colocaria um jeans e blusa qualquer.

Não demoramos a nos arrumar, e mesmo assim Emma conseguiu ficar deslumbrante.

Não imaginava que ela colocaria um vestido em sua mala, mas foi o que fez. Ele era vermelho, colado no busto e solto na saia. As alças eram amarradas, mas caíam em seus braços. Era praticamente um tomara-que-caia.

- Você está linda... - falei baixo me aproximando dela, que estava terminando de colocar os saltos.

- Obrigada. - sorriu tímida, e assim que levantou, eu a beijei.

Quando me afastei ela tinha um sorriso bobo na cara. Seus olhos tinham um brilho e cor diferente, estavam mais azuis. Não sabia que era possível que os olhos de Emma pudessem ficar cada vez mais bonitos e apaixonantes.

- Vamos? Está começando a babar igual bobo. - ela disse sorrindo e nos puxou para fora do quarto.

Lá embaixo, Joseph e Amélia já nos esperavam. Eles estavam tão formais que eu me senti mal pelos meus jeans.

- Acho que vou me trocar. Vocês estão muito mais bem vestidos do que eu. - disse brincando, passando um braço pela cintura de Emma. Ela deixou sua mão em meu peito e eu sorri com o gesto.

- Não se preocupe, querido. Joe e eu apenas gostamos de nos aprontar como se ainda fôssemos jovens saindo para dançar jazz. - Amélia disse sorrindo segurando o braço de seu marido.

Cartas Para RuteOnde histórias criam vida. Descubra agora