XII

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Nova Orleans, 2005

Emma e eu descemos do carro sem trocar nenhuma palavra novamente, mas dessa vez estávamos completamente estáticos e maravilhados com o casal a nossa frente. Não conseguíamos acreditar que estávamos cara a cara com o soldado que nos fez rodar a cabeça durante os últimos dias.

— Senhor Wesley? Estávamos ansiosos por conhecê-lo. - sua voz era cansada. O que já era esperado para alguém que especulávamos ter uns 80 anos. No entanto, ele parecia bem firme e vivo.

— É um enorme prazer, senhor Elliot. Emma e eu ansiávamos por conhecer você e Rute. - apertei sua mão devagar e me virei para a senhora ao seu lado. — Você deve ser a Rute. É mais nova do que imaginávamos...

— Sempre é bom ser chamada de jovem, não é mesmo? Mas... meu nome é Amélia. - ela sorriu timidamente para nós e então se virou para Joseph que nos encarava com um pequeno sorriso nos lábios, obviamente escondendo muita coisa.

— Vamos entrar, devem estar cansados de toda a viagem. O quarto de vocês é na segunda porta a esquerda, podem ficar a vontade e conhecer suas acomodações. - Amélia ajudou o senhor Elliot a se levantar e entrar na casa. Ele carregava uma bengala que lhe sustentava o corpo

Joseph caminhava lentamente até sentar-se no sofá com o auxílio de Amélia. Após se acomodarem um ao lado do outro, Emma e eu subimos as escadas devagar procurando por nosso quarto. Emma e eu estávamos absurdamente empolgados com toda a história que ouviríamos o senhor Elliot contar, principalmente com toda a curiosidade despertada após nos ser contado que aquela não era a Rute, mas sim uma outra senhora que nunca havia sido mencionado nas cartas que lemos. Não sabíamos onde ela se encaixava em todo aquele romance, principalmente por ser jovem demais para poder ter sido algum interesse romântico do Joseph na época.

Após nos acomodarmos no quarto, fomos para a sala onde Amelia nos esperava com xícaras de chá e alguns biscoitos na mesa de centro.

— Achei que um bom chá seria bom para toda essa história. – disse ela se sentando ao lado do Joseph segurando sua mão carinhosamente, me fazendo entender que eles eram de fato um casal..

— Bom, tudo começou em aqui, em Nova Orleans, em 1943...

Nova Orleans, 1943

Eu estava caminhando pela cidade com meu típico uniforme de soldado, o que atraia olhares e suspiros de muitas garotas, mas as vezes suspiros de alívios de homens que não foram convidados a se juntarem ao campo de batalha da guerra mais sangrenta que já havia acontecido. Não fazia muito tempo que a primeira guerra havia acabado, e a Alemanha dessa vez parecia mais forte, mas todos nos mantínhamos nossa esperança de que todas aquelas barbaridades pregadas pelo cara de bigodinho jamais seriam aceitas mundialmente e se perpetuariam para as próximas gerações.

Eu estava de volta aos Estados Unidos, mas não por muito tempo. Consegui uma pequena folga de todo aquele desastre quando fui alertado do grave estado de saúde que meu pai estava. Por ter sido um veterano na última guerra, aquele luxo da pequena folga para mim foi concedido.

Naquela semana eu tinha um jantar importante com o prefeito da cidade, que sentia-se alegre por ter três gerações da família Elliot no exército lutando. Havia sido meu avô, meu pai e agora eu. Todos estavam animados como grande baile que aquilo havia se tornado, mesmo que eu fosse apenas um soldado comum na minha visão.

Caminhei pelas ruas a procura da noiva alfaiataria da cidade, já que meu pai havia exigido que eu precisava de um terno novo para aquele evento, uma vez que eu não poderia ir com minha farda do exército, o que já era imaginável. Meu pai havia mencionado dessa nova loja que havia na praça da cidade aberta por uma família que havia acabado de se mudar.

Seguindo o conselho do meu pai, entrei na pequena loja que estava na cara que havia acabado de começar a crescer. Sorri levemente quando o sininho da porta soou e uma jovem morena de cabelos na altura do ombro levemente enrolados levantou de trás do balcão.

— Olá! Bem vindo a Costuras e Botões. Como posso ajudá-lo? - a morena ajeitou-se e pousou suas mãos delicadamente sobre o balcão me observando com um pequeno sorriso nos lábios.

— Estou à procura de um terno novo para o evento desse fim de semana. Vai ser importante e eu não posso ir de farda. - retribui o sorriso e a observei sair de trás do balcão e andar até mim com uma fita de costureiro.

— Posso tirar suas medidas? - assenti pra ela e fiquei imóvel quando ela começou a fazer o seu trabalho. — Algum tecido de sua preferência?

— Não, o que for melhor pra senhorita costurar. - levantei os braços para ajudá-la a tirar a medida do mesmo e sorri amigavelmente quando ela parou em minha frente medindo meus ombros.

— Não sou costureira, meu pai é quem faz os ternos. Eu apenas ajudo na loja, retiro medidas, compro e encomendo tecidos. Nada muito importante. - ela sorriu terminando de anotar as medidas em um pedaço de papel e voltou para o balcão. — Qual o nome do senhor?

— Sou Joseph Elliot. E se me permite, acho o seu trabalho tão importante quanto o dele. Não haveria como costurar sem o tecido e as medidas, não acha? - um pequeno sorriso surgiu em seus lábios e eu não pude conter o meu enquanto a olhava anotar meu nome no papel com minhas medidas e então colocar na pilha onde tinham outros pedidos.

— O senhor poderá vir na sexta-feira pela manhã pegá-lo, senhor Elliot. - ela sorriu e fez uma leve careta pensando, e então percebi que ela estava tentando reconhecer de onde vinha meu nome e por que parecia tão familiar. — Você não é...

— O soldado que voltou da guerra? Sim sou eu... e por isso preciso desse terno, meu pai exige que eu esteja muito bem vestido. - sorri e guardei o papel do recibo que ela me entregou para que pudesse pegar e pagar o terno na sexta.

— Bom, iremos garantir que isso aconteça. - ela saiu novamente me acompanhando até a porta abrindo para que eu pudesse passar.

— E qual o nome da senhorita? - perguntei segurando sua mão dando um leve beijo de despedida.

— Pode me chamar Rute.

Cartas Para RuteOnde histórias criam vida. Descubra agora