IX

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Nova Orleans, 2005

Na sexta-feira do fim de semana que íamos viajar, cheguei no museu no meu horário habitual sem pressa alguma, e caminhei calmamente até o depósito para poder encontrar Emma e ajeitar os últimos detalhes restantes da viagem, além de claro, saber que horas poderia ir ao restaurante da família dela para podermos dançar um pouco e ouvi-la cantar.

Segui meu caminho entre as prateleiras, encontrando-a apenas atrás da última praticamente escondida com uma pilha de documentos, livros e caixas que deveriam ser catalogados. Conseguia sentir de longe o desespero que ela estava sentindo ao ver todo o trabalho que precisava fazer.

  — Emma... - chamei baixo por ela me abaixando em sua altura respirando profundamente.

— Não vou conseguir... não vou conseguir viajar, Jack. - ela respirou fundo e esticou suas pernas encostando em uma das estantes ali presente coçando os olhos. — Janice me entregou todo o acervo antigo de uma exposição que foi retirada e quer que catalogue e entregue tudo na segunda-feira de manhã.

Dessa vez era a minha veia na testa que estava pulsando de raiva. Não entrava em minha mente que Janice era tão vingativa ao ponto de interromper o meu trabalho por conta de ciúmes e de um erro meu, mesmo sendo grave. Era questão de profissionalismo, não de triângulo amoroso - apesar de não existir nenhum. Sempre ficou claro que estávamos em uma relação completamente aberta e nada oficial.

  — Eu vou conversar com ela. Vá fazendo o seu trabalho e eu cuido do resto, mas você vai conhecer o Joseph comigo. - deixei um beijo em seus lábios e me levantei novamente saindo dali caminhando direto para o escritório de Janice.

Estava tão possesso quanto ela na noite em que eu acidentalmente troquei o nome das duas. Depois que entrei em sua sala, bati a porta atrás de mim e a vi levantar o rosto de um documento que ela estava lendo.

— Posso ajudá-lo, senhor Wesley? - retirou seus óculos os deixando na mesa junto com outros pertences dela e me olhou com seu típico olhar de superioridade.

— Eu pensei que fosse um pouco mais profissional, Janice. Você sabe que Emma e eu estamos trabalhando nesse projeto importante e a enche de trabalho numa sexta-feira para ser entregue numa segunda-feira de manhã? Você esta completamente louca. - fui chegando mais perto até ter meus braços apoiados na mesa e meu corpo inclinado sobre ela mantendo meu rosto próximo do dela. Ela tinha seu olhar superior, eu tinha o meu olhar raivoso que eu gostava de acreditar ser bastante ameaçador. — Emma vai nessa viagem comigo e vamos entregar a melhor exposição que esse museu já teve, superando todos as suas. Não fique no meu caminho, ou irá se arrepender.

  — Ah é? E irei me arrepender como, senhor Wesley? - ela se levantou de sua cadeira espalmando as mãos em sua mesa me encarando de volta.

— Digamos que seu marido não ficará nada feliz em saber o que você faz em meu escritório toda terça. - sorri de lado para ela maleficamente. Nunca me orgulhei da relação que eu tinha com ela, e apesar de ambos estarmos errados, sabia que ela temia o fim do casamento mais do que qualquer coisa.— Eu sei que o seu maridinho que te dá todo esse luxo não te é suficiente na cama e você me procura pra isso. Acha que vai continuar com essas coisas caras se ele descobrir, Janice? Fique fora do caminho da minha exposição e da Emma.

Não esperei por resposta nenhuma dela e sai daquele escritório batendo a porta. Voltei até o depósito e me sentei novamente tirando meu paletó e afrouxando a gravata arregaçando as mangas da minha blusa.

— Hoje eu sou seu estagiário... o que eu tenho que fazer? - sorri levemente a olhando observando seu largo sorriso ao perceber que tirei meu dia só pra ela. Ela se inclinou levemente e uniu nossos lábios em um beijo calmo. Levei minha mão até seus cabelos enrolando em meus dedos mantendo nossos rostos unidos. — Emma... ou a gente para aqui, ou não vai ser nesses papéis que eu vou trabalhar hoje. - Ouvi uma leve risada saindo de seus lábios e sorri me afastando devagar.

— Vamos começar assim, separar tudo e colocar por ordem cronológica. Essa prateleira está vazia então vamos arrumar aqui, de cima pra baixo por ordem cronológica crescente, tudo bem? - ela sorriu pra mim e eu continuei a olhá-la assim.— O que foi?

— Você fica uma gracinha dando ordens... - ela bateu levemente em meu braço e eu ri fracamente dando graças por esse tapa não ter sido forte como os outros dois que havia recebido nos últimos dias.

Comecei a fazer exatamente o que ela havia mandado. Havia muito trabalho para uma pessoa só, e eu acreditava que não conseguiria terminar até o fim do dia, mesmo que nós dois trabalhássemos juntos naquilo. 

No meio tempo em que separei tudo, me peguei olhando ela tão concentrada em seu trabalho, e pensei quantas vezes ela já não deveria ter feito tanta coisa sozinha.

— Sabe... vou começar a te ajudar aqui mais vezes. Você me ajudou bastante com a busca do Joseph e continua ajudando até agora. Essa é minha forma de agradecer. - sorri fracamente a olhando e deixei os documentos um pouco de lado.

— Você já me deve prateleiras organizadas por uma semana, Jack. - rio ao escutar ela e me levantei puxando ela comigo. Passei meus braços por sua cintura e beijei seus lábios.

— Estou falando mais que isso... vou te ajudar até seu intercâmbio. - beijei sua testa e então me afastei começando a ajeitar nas prateleiras as caixas. — Preciso arrumar essas de cima, né? Você não alcança.

Brinquei com ela e sorri enquanto continuávamos com o trabalho ali. Era muita pra se fazer, mas finalmente concluímos quando já estávamos na hora de ir embora. O céu já estava escuro e estrelado. Fechamos o depósito e caminhamos para os nossos veículos, os únicos que ainda restavam no estacionamento de funcionários do museu.

  — Nos vemos amanhã, ok? Quero te ver com um lindo vestido que balance bastante para dançarmos a noite inteira. - me encostei no carro a puxando pra mim beijando seus lábios novamente.

— Ta bom. Quero você com um chapéu então. - ela se afastou e foi andando para sua moto com o capacete no braço.

— Por qual motivo?

— Nenhum. - ela riu enquanto subia na moto colocando o capacete. — Só acho que ficará legal. 

Cartas Para RuteOnde histórias criam vida. Descubra agora