Os Senhores: O Segredo De Aureatus

Capítulo 2 - Novo Lar

London

  Coloquei as mãos nos bolsos da calça e caminhei adentrando na cidade ao lado de Liam.

  Passamos por algumas ruas sem trocar palavras, ambos admirando a paisagem que, por sua vez, era digna de tal ato.

— Por que está tão quieta? — Ele perguntou sem olhar pra mim.

  Eu encarei seu perfil.

— Como assim? Por que eu não estaria?

   Liam me encarou pelo canto do olho.

— Toda vez que a gente vem aqui, você fica comentando sobre o quanto esse lugar é bonito.

— Porque é mesmo. - Respondi baixinho enquanto meus olhos se dirigiam a um menino que corria na frente da mãe sorrindo.

— Então por que o silêncio dessa vez ?

   Olhei para frente novamente ao dizer:

— É apenas isso... bonito... eu não gosto de ficar aqui e você sabe disso.

   Escutei-o suspirar.

— London, ainda que você não goste, terá que se acostumar a esse mundo, pois quando anunciarem a qual Império de Senhores você pertence, terá que viver aqui..

— Aham... Com toda certeza eu vou. - Sussurrei em tom debochado.

  Ficamos em silêncio depois disso, apenas caminhando perto um do outro.

   Deixe-me explicar para que não fique perdido: já no fim do primeiro ano na Academia de Aureatus, um iniciado já deve começar a morar em seus respectivo Império. Não é proibido morar no mundo humano, mas é preciso uma permissão do rei e rainha do seu Império todos os anos para permanecer fora. Era como renovar um visto todo ano para continuar a ficar em tal país. Nem preciso dizer que isso é um saco.

   Ao passarmos por uma esquina, tive uma surpresa. Em uma pequena praça, havia um grupo de cinco Senhores tendo todos cabelos verdes, porém em tons variados. O grupo conversava, todos ali eram homens que trocavam sorrisos e brincavam com fogo, havia chamas azuladas em suas mãos.
Formas eram criadas com tais chamas sendo essas as de pássaros que abriam graciosamente suas asas flamejantes, parecendo quererem voar pelo céu noturno.

  Mal percebi que parei de andar para admirar a cena.

— É legal, não é? — Liam sussurrou em meu ouvido.

  Pus as mãos em meus bolsos e dei de ombros, fingindo fazer pouco caso de suas palavras.

— Um pouco... — Foi minha resposta.

   Liam riu alto.

— "Um pouco" - Repetiu, rindo mais e voltando a caminhar.

   Tive que escuta-lo rir por mais uns cinco minutos depois disso e ainda ficar repetindo "um pouco" de vez em quando.

  Caminhando um pouco mais, já era possível notar a tão honrada e respeitada Academia composta por prédios e prédios ao lado um do outro, não se tocando, mas se mantendo extremamente pertos, alguns sendo de uma arquitetura mais moderna enquanto outros, esses menores, remetiam mais para a renascentista.

— Nossa. - Sussurrei encarando aquilo tudo — Nada mal.. nada mal mesmo.

— Acredite, por dentro é ainda melhor. — Liam afirmou de pronto.

  Eu o encarei pelo canto dos olhos.

— O quê? — Questionou-me, querendo saber o porquê de eu estar fazendo aquilo.

— Não está falando isso só para que eu não queira fugir na primeira chance que tiver, não é?

  Liam deu um meio sorriso.

— Não, London. Eu já estudei aqui e é um lugar maravilhoso, aposto que você vai gostar. — E virou-se para continuar seu caminho, porém dando apenas dois passos antes voltar-se a mim e me encarar. — Ah, só para que saiba, isso não é um internato. É uma escola onde os alunos podem sair depois do período de aulas por aí até um certo horário todos os dias.

— Sério? — Perguntei surpresa. — Ele não tinha me dito isso antes.

   Liam assentiu.

— É justamente para que não se sintam presos. Apenas peço que tome cuidado nas saídas, okay? Sabemos que esse mundo é bem mais tranquilo que o dos humanos, mas não é perfeito. Coisas ruins também podem acontecer.

  Baixei a cabeça por um momento enquanto refletia sobre suas palavras antes de assentir.

— Entendo. — Sussurrei por fim.

  Ele sorriu, se aproximou, pôs seu braço em volta de mim e me puxou para si.

— Vamos, pequena. — Sussurrou já caminhando para os grandes portões dourados da entrada.

  Assim que adentramos no espaço, notei mais a presença dos outros alunos com seus pais do lado, conversando, abraçando, sorrindo.

  Pensei na minha mãe nesse momento. Quando eu estava pronta para entrar na minha sala no primeiro ano da escola. Ela me abraçou, me olhou nos olhos e disse que eu não tinha nada a temer, e que logo eu teria uma coisa maravilhosa chamada amigos.

  Suspirei, sendo surpreendida logo depois por um Liam que se colocou diante de mim de repente e me abraçou.

— Vou sentir sua falta. Logo virei pra te visitar. — Sussurrou, a voz tomando um tom terno.

  Dei um meio sorriso ou algo parecido e vim a lhe retribuir o abraço, pondo meus braços em volta do mesmo. Liam quase sempre sabia o que dizer e o que fazer quando eu me sentia mal, talvez fosse isso o que eu mais gostasse nele.

  Ele não era o tipo de pessoa que abraçava muito, dizia coisas fofas ou mostrava seu lado amável normalmente, então quando ele resolvia ser assim, era-me uma completa e agradável surpresa.

— Eu vou sentir a sua também. — Sussurrei já sentindo um aperto no peito, afinal, aquele mesmo homem, por vezes chato, havia se tornado minha única família.

   Talvez tenhamos ficado assim quase um minuto para finalmente nos afastamos. Foi bom, pude gravar na mente aquela sensação para as horas difíceis que imaginei estarem por vir.

— Entre logo, suas coisas já devem ter chegado. Assim que lhe mostrarem o quarto, tome um banho e descanse, pois amanhã começam suas aulas. Por enquanto apenas siga a multidão, eles te levarão ao grande círculo onde você já ficará sabendo de algumas regras.

  Assenti com a cabeça, mantendo o resto de sorriso que ainda tinha no rosto, passei a mão em seu cabelo, em maioria branco, o bagunçando e comecei a me afastar do mesmo.

  Assim que me virei para caminhar até a grande porta de entrada, senti novamente o aperto no meu coração, sabia que Liam estaria me olhando até o último instante, mas aquilo não me impediu de pensar que mais uma vez eu estaria sozinha.