Capítulo 4 - Noite Passada

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London Narrando

  Depois de descer da plataforma para seguir a mentora junto aos outros iniciados, eu acabei me perdendo um pouco com a visão do céu perfeitamente estrelado daquela noite, o que me fez bater o corpo em mais uns dois alunos fora o que trombei mais cedo, coisa que era bem típica minha já que eu vivia distraída.

  O prédio de dormitórios pertencentes aos Senhores do Tempo era perfeitamente igual aos outros quatro que por ali se mantinham perto, todos modernos, como se tivessem sido erguidos ontem mesmo, tendo uma riqueza de detalhes em dourado aqui e ali.

  Saber que teria uma colega de quarto não me incomodava, mesmo que Liam tivesse me criado com um quarto e coisas só minhas — Infelizmente não por escolha nossa. — Apenas me deixava um pouco ansiosa quanto a mesma gostar ou não de mim, afinal, eu não era muito de fazer amigos na vida que tinha em Londres.   

  O pensamento logo me sumiu da mente quando lembrei de Liam, imaginando então no que essa estaria fazendo, se ele já estaria sentindo tanto minha falta quanto eu a dele, afinal, nós vivemos mais de uma década como pai e filha, sem jamais nos separarmos até o momento de mais cedo.

   Deixando-me levar junto à multidão, vi nossa mentora, Marta Kaflin — ou como disse que preferia ser chamada; Kaflin. — ir orientando os alunos novos à medida que passávamos por cada andar, informando a esses quais eram seus quartos.

    Como fiquei mais atrás, acabei por ser a última a me apresentar.
A mesma procurou meu nome na lista que tinha em e me levou até um fim de corredor no penúltimo andar.

— Quarto 444. — Disse a mim olhando no papel. — Sua colega de quarto já está presente no cômodo e há duas chaves de quarto, uma em cada escrivaninha. Cuide bem da sua. Se perde-la, perderá pontos.

  Assenti com a cabeça. Ao me aproximar da porta, no momento em que minhas mãos tocaram a maçaneta, Kaflin disse:

— Ah, uma última coisa... O último andar, acima desse, é proibido até a próxima ordem, e quanto aos meninos nos dormitórios das meninas...

— Não precisa falar — Eu a interrompi. — já estou sabendo que é proibido.

Ela sorriu.

— Não exatamente... sei bem como é quando se está em um rolo com alguém... É proibido segundo nossos superiores, mas entre nós não. Apenas tome cuidado trazendo alguém ou se enfiando no quarto alheio. E se algum garoto for apanhado no seu quarto por algum superior, eu não disse nada.

  Não pude deixar de sorrir. Então desde que ninguém acima de Kaflin visse garotos entrar no quarto, estaria tudo bem... Aquela escola estava ficando mais interessante agora.

— Okay, então. Boa noite.

— Bem vinda, London.

   E assim, eu entrei em meu quarto onde logo percebi o quão grande era. Primeiro me deparei com uma pequena e aconchegante sala com um sofá de dois lugares branco de frente para uma lareira e duas poltronas de cor azul bebê de cada lado do mesmo, um tapete amarelo no estilo dourado no centro onde repousava uma mesinha de centro cuja superfície era de vidro. Havia detalhes dourados por toda parte, talvez ouro mesmo nos candelabros das paredes, nos castiçais presentes nas mesas uma em cada canto junto com flores azuis, na lareira branca fazendo desenhos em alguns pontos.

— Nossa. — Sussurrei olhando em volta. Até lustre havia, esse sendo bem exagerado com tantos detalhes em dourado mesmo sendo pequeno.

  Haviam um par de portas nas paredes à direita e à esquerda da sala, e em uma delas escutei o som da maçaneta girar.

— Ah, você deve ser minha colega de quarto... — Uma garota baixa de cabelos e pele negros, olhos grandes com lumes escuros disse aparecendo apenas do ombro para cima na porta esquerda.

— Oi... — Sussurrei acenando timidamente.

— Como cheguei primeiro, eu escolhi esse aqui, o seu fica sendo o da direita. Amanhã... — Disse, bocejando e mal conseguindo manter os olhos abertos de tanto sono. — a gente conversa e se conhece, okay?

  Dei um pequeno sorriso e assenti.

— Tudo bem, tenha uma boa noite.

— Você também. — E fechou a porta.

  Segui para o meu quarto, onde assim que entrei notei minhas duas malas perto da cama que, por sua vez, estavam encaixadas em um canto.

  Diferente da sala, não fiquei perdendo muito tempo percebendo os detalhes do cômodo, apenas notei as paredes brancas, o chão de madeira clara e uma escrivaninha na parede oposta a da cama onde repousava minha chave do quarto ao lado de um abajur e alguns livros.

  Tudo o que fiz foi fechar a porta deixando tudo quase escuro se não fosse pela janela parcialmente tampada por uma cortina clara cor meio salmão e o vitrô fechado. Tirei o casaco, o sutiã por baixo da blusa mesmo sem sequer pensar em tirá-la primeiro de tanta preguiça, o joguei no chão em algum canto. Tirei o tênis, a meia e a calça e me joguei na cama onde dormi sem precisar de esforço algum.

  Mas o que era para ser só um sono pesado, foi acompanhando de um sonho confuso.

  Havia sangue fresco escorrendo por vestes, uma coroa no chão, um céu estrelado como nenhum outro e música tocando abafada, parecendo vir de algum lugar muito ao longe.

  Primeiro eu vi imagens soltas, flashes confusos, para só depois ter uma cena mais coerente, sendo essa a de um homem de cabelos azuis de costas, esse que se virou e pareceu me olhar com suas orbes celestes. Ele sorriu pequeno um segundo mais tarde e então simplesmente se desintegrou, tornando-se poeira azulada soprada para longe.

   Num pequeno susto, eu abri os olhos, encontrando o teto em meio a uma quase completa escuridão.

  O silêncio do cômodo era absurdo. Logo eu entendi que tinha tido apenas um sonho sem pé nem cabeça.

   Pelo menos, foi o que eu achava até ali.

  Demorou, mas finalmente consegui dormir novamente, agora sem sonhar com coisas confusas.

Os Senhores: O Segredo De AureatusOnde histórias criam vida. Descubra agora