Capítulo 23 - A última memória

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London Narrando

  Estávamos sorrindo uma para outra par causa de algo engraçado quando a janela se quebrou e mamãe me abraçou pra me proteger dos cacos de vidro que vieram em nossa direção.

- O que foi isso? - Eu perguntei assustada.

- Céus! Se for o que estou pensando, nós temos que sair daqui.- E se levantou para pegar um roupão que jogou em mim. - Use. Está frio lá fora.

- Vamos sair? Só porque quebraram o vidro? - Perguntei sem entender nada. - Deve ter sido só algum idiota que tacou uma pedra.

Mas eu estava enganada.

- Não é só uma pedra. Vista se logo!

Eu estranhei sua persistência, mas a obedeci. O que havia dado naquela mulher?

- Venha! - E puxou a minha mão me levando para longe dali.

Descemos umas escadas que quase nunca usávamos, apenas para emergências como aquela e me levou para a cozinha.

- Mas e Lúcia? Lucas e os outros?- Perguntei me referindo aos meus irmãos.

- Seu pai está cuidando deles, eu preciso lhe tirar daqui. - E abriu porta dos fundos.

- Mas por que só eu?

Estava ventando lá fora, logo que a porta foi aberta, uma rajada de vento forte nos pegou de surpresa.

- Vamos! - Ela gritou pegando minha mão e me puxando para fora da casa.

- Para onde? - Já estávamos correndo sobre a grama do fundo do quintal.

Foi então que raios caíram em volta da casa e um acabou por cair sobre nosso pessegueiro há uns dez metros de nós. A árvore se incendiou.

- Não! - Eu gritei. Eu adorava subir naquela árvore e lá estava ela morrendo, sendo consumida pelas chamas.

Pingos grossos de chuva começaram a cair do céu de forma agressiva.

- Sinto muito, querida, mas nós temos que ir! - E me puxou novamente.

Do nada algo como uma fumaça branca apareceu não muito longe a nossa frente e se juntou, dali um homem alto apareceu.

Eu gritei quando o vi, não sabia quem era e fiquei mais assustada ainda quando ele veio em nossa direção.

- Liam! - Mamãe disse parecendo um pouco mais aliviada.

- Vocês estão bem? - Ele perguntou olhando para mamãe e depois para mim.

- Sim, sim! Agora leve a daqui. -Ela disse me empurrando pra ele.

- Não! Eu quero ficar contigo, mãe! - Lembro me de ter gritado.

- Vá com ele filha! - Ela disse com lágrimas nos olhos.

- Você não virá conosco? - Ele perguntou a ela.

Eu a olhei.

- Vou ajudar os outros, preciso que a tire logo daqui.

- Não! - Eu gritei indo em sua direção, mas o tal Liam me segurou. - Largue me, seu idiota!

  E então o som de mais coisas se quebrando.

Minha mãe se aproximou de mim e se abaixou para poder me olhar melhor nos olhos. Ela sorriu como se estivesse tudo bem e sussurrou:

- Ei, preciso que fique com o tio Liam, okay? Ele te protegerá enquanto eu não estiver contigo.

- Mas eu quero ficar com você..- Sussurrei querendo chorar.

Ela mordeu o lábio enquanto uma lágrima rolava sobre sua face. Estava tentando reprimir seus sentimentos, mas não estava dando certo.

- Eu vou voltar pra ti, okay? Não vou te abadonar.

- Você promete? - perguntei baixinho.

Ela abriu mais o sorriso.

- Prometo. Eu te amo, London. - E beijou minha testa.

Eu suspirei enquanto minha mãe se afastava de nós e corria para dentro da casa.

O tal Liam me pegou no colo e disse:

- Hora de ir, baixinha.

E aquela coisa que parecia uma fumaça branca começou a nos cercar.

Eu respirei fundo ainda que estivesse muito nervosa, estava tentando me acalmar. Minha mãe tinha me prometido que iria voltar pra mim. Essa foi minha primeira ilusão.

Segundos antes daquela fumaça estranha nos tirar dali, eu vi a casa explodir de repente, cacos de vidro que antes eram de janelas voaram pra todos os cantos e o fogo tomou conta de tudo.

Um pensamento, um único pensamento e veio a mente: minha família.

Eu gritei muito alto e tentei voltar para chão, mas Iam me segurou até o último segundo, até tudo se tornar apenas breu.

                        ~*~

Abri meus olhos e encarei o teto. Aquela fora a última memória que eu tinha de minha mãe.

  Eu estava deitada em minha cama em silêncio desde onze e pouca da manhã. Não tinha comparecido ao refeitório nem para almoçar, nem para lanchar ao fim da tarde.

Eram nove e alguma coisa da noite.
Alguém bateu na minha porta.

- O que é? - Perguntei em um rosnado.

A porta foi aberta e Marnie pos sua cabeça para dentro.

- Finalmente te achei - Disse. - Por que não foi comer hoje, senhorita.

- Porque não tenho fome, senhorita. - Respondi baixo.

É claro que para me contrariar como tudo na vida, meu estômago se pronunciou ao roncar alto o suficiente para que Marnie ouvisse.

- Não é o que o seu estômago diz.. - Disse quase cantarolando.

"Obrigada por me dedurar", falei mentalmente enquanto encarava minha barriga.

- Não importa, o jantar já foi servido. - Falei encarando o teto novamente.

- Tem gente na cozinha ainda, podemos pedir o que quisermos que os minus nos entregarão aqui no quarto.

- Nossa, esse lugar parece mais um hotel.. - Falei baixo. - Até serviço de quarto tem..

Marnie riu.

- Então, quer o que de bom?

- Nada. - Falei a encarando novamente. - Eu quero é dormir. - E me virei para o lado da parede e fechei os olhos.

- Ah, não! - Disse enquanto eu escutava a porta ser arreganhada. Logo eu só fui puxada pelo braço e quase arrastada para fora da cama. - Você não vai ficar nesse quarto escuro o dia todo parecendo morcego, não.

- Aaaaii! - Falei me sentando e a encarando.

- Para com esse bico. - Disse apontando para mimha boca. Eu nem sabia que estava fazendo aquilo.

- Você não vai me deixar em paz, não é? - Perguntei depois de revirar os olhos.

- Não! - Disse prontamente.

Suspirei.

- Então arranje algo legal pra gente fazer antes que eu mude de ideia.

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Esse cap eu tinha há muito tempo pronto, a maioria dele seria o prólogo na vdd, mas aí fiz o que está no início do livro.. espero q esse já ajude vocês a entenderem mais o que se passa.

Os Senhores: O Segredo De AureatusOnde histórias criam vida. Descubra agora