Capítulo 15 - Meu pai, lobisomem

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1997

Não posso dizer que estava feliz. Na verdade não conseguiria explicar com palavras o que se passava dentro de mim. Eu ainda não conseguia conversar muito, lembranças me faziam chorar e os pesadelos eram constantes, mas tinha a consciência que já estivera pior que isso.

Consegui inclusive escrever um "estou melhor" em uma carta que papai enviou para mamãe, que sempre conseguia um jeito de entrar em contato, ansiosa por notícias minhas. Ela e Wesley estavam bem e não pareciam ter despertado o interesse de nenhum inimigo. Fiquei grata por isso.

Eu estava com Tonks tomando sol no jardim, quando papai chegou passando por nós ignorando completamente nossa presença. Esse não era seu costume, então entramos em casa indo atrás dele. Andrômeda, na cozinha nos informou que papai passara direto por ela seguindo para o quarto. Segui com Tonks até lá para saber o que estava acontecendo.

- Remus? - ela o chamou quando entramos. - O que aconteceu?

Papai estava sentado na beirada da cama com as mãos no rosto.

Ele suspirou alto antes de levantar o rosto úmido por algumas lágrimas - estou sem wolfsbane. O bruxo que estava preparando para mim foi embora, não é mais seguro vocês ficarem perto de mim. Vou ter que ir embora pelo menos durante a lua cheia.

Ele ficou de pé.

- Encontrar uma caverna, um lugar bem isolado e passar a semana lá - papai andava de um lado para o outro.

Sabíamos que mesmo daquela forma os riscos eram enormes. Alguém podia cruzar o caminho dele e ser morto ou ele poderia ser seguido por Comensais da Morte que não estavam muito longe dali tanto ao sair para se esconder fora da proteção ao redor da casa quanto ao voltar.

- Se você me conseguir os ingredientes eu posso preparar - anunciei. Era minha maior sentença dita sem engasgar desde que chegara.

Tonks e papai olharam espantados para mim.

- Filha, você sabe preparar a poção? - papai atravessou o quarto e segurou meus braços com firmeza.

- Pedi o professor Snape para me ensinar, mas depois que ele deixou o cargo foi o professor Slughorn quem passou a me instruir. Mas eu ainda não estou segura... - fiquei tensa encarando papai.

- Qual a opinião dos professores?

- Para o professor Snape sou um desastre, mas Slughorn disse que o último caldeirão que eu preparei ficou perfeito.

Papai finalmente soltou meus braços.

- Quanto tempo você precisa?

- Uma semana.

- Trago tudo hoje ainda - ele saiu do quarto sem nem se despedir.

Aproximei de Tonks e a abracei.

- Tenho medo.

- Pois eu tenho certeza que você vai conseguir - ela deu um beijo na minha cabeça.

*
Uma semana depois o caldeirão fumegante estava pronto. Tudo havia saído perfeitamente como da última vez que preparei sob o olhar atento do professor Slughorn. Assim como ele, papai enfeitiçou a colher com que a poção precisava ser mexida para eu não precisar fazer isso. Mas chegara a hora da prova mais difícil pela qual já havia passado. Entreguei a ele um cálice cheio. Tonks e Andrômeda acompanhavam tudo com atenção.

Papai cheirou a poção e depois bebeu um gole generoso. Fiquei tensa quando seu rosto se contorceu em uma careta. No entanto ele continuou bebendo até o fim.

- Tão ruim quanto deve ser! - anunciou quando terminou.

Fiquei aliviada ao ouvir aquilo.

- Mas, não quero de forma nenhuma me arriscar. Esperarei a lua cheia acorrentado lá fora.

Livro 5 - O Último InimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora