Capítulo 17 - Uma história no Natal

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1997

Dezembro chegou rápido, mas o clima de festa não. Vários bruxos desaparecendo, nenhuma notícia de Ted Tonks, a guerra iminente. Mas uma coisa não nos deixava completamente abatidos.

As medidas de Dora estavam cada vez maiores. Andrômeda já havia aumentado o tamanho de quase todas as roupas dela para comportar a barriga que não parava de crescer. Por isso, decidimos fazer pelo menos uma ceia de Natal.

Mamãe queria vir se juntar a nós, mas ficar usando magia acabaria chamando atenção para ela e Wesley. Os dois estavam tentando se disfarçar de trouxas, não que para ele fosse um disfarce, mas para ela sim e parecia surtir efeito.

Por essa razão, tudo o que ela conseguiu foi mandar uma carta onde tentou escrever toda a saudade que estava sentindo. Não a deixei esperando e respondi pouco depois que chegou.

O cheiro de comida se espalhou pela casa por volta do entardecer. Dora e eu apenas salivávamos sentindo o delicioso aroma enquanto Andrômeda e papai cozinhavam.

Nós duas ficamos por conta da decoração, afinal a sala precisava de um pinheirinho. Fiquei encantada com os enfeites que ela e a mãe tinham em casa. A maioria deles se mexia e nenhum precisava de bateria.

- Oops - deixei uma bola colorida de vidro escapar da mão e estilhaçar no chão.

- Reparo - conjurou Tonks.

- Adoro magia! - peguei a bolinha inteira e a amarrei em um galho verde.

Apesar de tudo resolvemos tirar aquele dia para simplesmente celebrar o fato de nós estarmos juntos.

- Veja se está bom - papai trouxe um pedaço de carne em um garfo para Tonks.

- Humm, quando fica pronto? - perguntou ela. - Estou faminta.

- Daqui a pouco - ele se aproximou de mim com outro talher também com um pedaço de carne.

Comi em uma única mordida. Já conhecia os dotes culinários de papai.

- Perfeito, como sempre - sorri para ele.

- Você vai ver a torta de chocolate que a Andrômeda me ensinou a fazer.

- Por Merlin! Vou ficar maior que a Dora.

Ele se afastou sorrindo, mas de repente minha alegria foi embora.

- Qual o problema aluadinha?

Dei um suspiro e segurei o choro. Não queria estragar a noite deles e Tonks entendeu.

- Acho que deixei uns enfeites lá dentro, me ajuda a trazer pra cá Lana? - ela já estava de pé.

Concordei com um aceno de cabeça e a segui até o quarto de casal.

- Pronto - ela fechou a porta depois que passamos. - O que foi?

Apenas a abracei e deixei as lágrimas saírem.

- Desabafa filha. Eu sei que não está sendo fácil, mas você está sendo muito corajosa - as últimas palavras ditas por ela saíram engasgadas. Tonks também estava chorando.

- Você também está - olhei para ela e tentei sorrir.

- Temos que ser - ela acariciou a própria barriga que já estava grande demais para não ser notada. - Por ele, ou ela - Tonks abriu um sorriso por trás das lágrimas.

Eu sequei seu rosto com carinho usando meus polegares e sorri de volta.

- Precisamos voltar pra lá, mas não podemos ir de mãos vazias - depois do abraço me senti melhor.

- Nem precisamos - Tonks pegou quatro capuzes vermelhos com pelúcia branca na base e no pompom branco do topo e colocou um na minha cabeça. Em seguida ela vestiu outro e segurou minha mão me puxando de volta para a sala.

- Papai vai ter que usar isso aí! - falei.

- O que vou ter que usar? - ele colocava uma travessa com a carne sobre a mesa já arrumada. - Humm, gorros.

Peguei um das mãos de Dora e caminhei em direção a papai.

- Ho, ho, ho - ele brincou com o acessório na cabeça e depois me deu um beijo no rosto.

Quando olhei para o outro lado da mesa, Andrômeda usava o mesmo acessório e estava abraçada com a filha. - Vamos? - ela convidou indicando a mesa.

- Mas ainda não terminamos... - olhei para a árvore com metade dos enfeites ainda no chão.

Tonks pegou a varinha e com um pequeno gesto tudo foi para seus respectivos lugares - sinto muito Lana, mas levaríamos uma eternidade para terminar. - Ela puxou uma cadeira e se sentou.

Andrômeda sentou ao lado da filha e papai e eu nas cadeiras do outro lado da mesa. O lugar na cabeceira seria de Ted Tonks, mas ninguém o ocupou respeitando sua ausência e esperando sua volta.

O jantar estava maravilhoso. Depois de nos fartarmos com a carne, arroz e purê de batata, chegou a vez de experimentar a torta de chocolate. Como eu esperava estava muito gostosa.

Aquele foi meu primeiro Natal sem nenhum presente. Imagino o quanto deve ter sido complicado conseguir toda aquela comida, comprar qualquer outra coisa seria um luxo que em meio a uma guerra não podíamos ter.

Terminado o jantar e com as louças já limpas e de volta aos seus lugares fomos para a sala. A ideia era inventarmos alguma coisa para fazer até o sono chegar.

Sugeri que contássemos histórias. Papai pensou nos contos de Beedle o Bardo, mas todos nós ali conhecíamos qualquer um dos contos de cor. Foi então que fiz a sugestão.

- Vocês já ouviram falar de "Um Conto de Natal" do Charles Dickens?

Papai teve a leve impressão de já ter ouvido falar, mas tanto Andrômeda quanto Tonks não tinham a menor noção do que se tratava.

Sorri para papai e ele retribuiu o gesto se ajeitando no sofá com a esposa deitada sobre seu peito. Andrômeda olhou para mim com os braços sobre o colo esperando que eu começasse.

Tomei fôlego antes de narrar as desventuras do milionário Ebenezer Scrooge com os espíritos que o visitaram na véspera de Natal.

Adorei entreter os três com aquela história e achei interessante como de alguma forma, Charles Dickens sempre participava de todos os meus Natais.

***
Se sentiram no Natal? Eu sinto até o cheiro bom da comida quando lembro desse dia. Claro que não havia como fazermos uma festa e tal, mas estarmos juntos já fazia tudo ser extraordinariamente maravilhoso. Não se esqueçam de votar no capítulo e deixar um comentário!

Livro 5 - O Último InimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora