Capítulo 30 - O que eu mais precisava

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1998

Não consegui dormir. Devia ser por volta de quatro da manhã quando finalmente desisti de tentar. Ao abrir o cortinado encontrei um prato com biscoitos e um copo de leite sobre a mesinha de cabeceira. Todo mundo estava sendo tão bom comigo e eu não conseguia corresponder.

Fiquei um pouco mal por isso. Acabei comendo os biscoitos e tomando o leite quase todo mesmo sem muita vontade para tranquilizar a responsável pela oferta.

Levantei da cama e ajeitei o uniforme amarrotado. Notei que o broche de monitora continuava alfinetado à roupa e entendi o motivo de ter sentido algo machucando meu peito quando eu virava de bruços. Não o retirei. Precisava ficar com ele enquanto andava pela escola.

Desci para o salão comunal e me aninhei em uma poltrona de frente para a lareira agora em brasa. Peguei um exemplar do Profeta Diário que estava jogado sobre a mesinha de centro e folheei sem me prender a nenhuma matéria.

Eu nunca tinha me sentido tão desolada. Estava apenas seguindo com minha vida, sem interesse nenhum por ela. Por fim desisti do jornal.

O dia já estava amanhecendo quando ouvi uma movimentação cada vez mais intensa vinda dos dormitórios. Eu não queria ser encontrada ali por todos aqueles alunos felizes e ansiosos para o café da manhã. Levantei e saí do salão comunal andando pelos corredores do castelo sem um rumo específico.

Algumas das pessoas nos quadros estavam acordadas e me cumprimentavam, outros em cantos mais escuros, ainda dormiam. Passei em frente à tapeçaria do Barnabás, o Amalucado, que continuava levando cacetadas dos trasgos até chegar a uma varanda no sétimo andar. De lá eu conseguia ver a frente do castelo e me lembrei da noite da batalha.

Entrara desesperada atravessando aquele pátio esperando encontrar Tonks e papai lutando, ajudar os dois e voltar para casa, mas nada daquilo havia acontecido porque eu fiquei sentada no sofá da sala da vovó esperando a melhor hora de ir. Como pude ser tão burra, era uma guerra! Não poderia ter desperdiçado nenhum minuto. Tinha que ter chegado ali mais cedo.

Ouvi um barulho no corredor e me virei para ver quem era, mas não havia ninguém. Ainda intrigada caminhei devagar seguindo em direção ao interior do castelo.

Em frente à tapeçaria de Barnabás notei uma porta que não estava ali antes. Aquilo me lembrava de algo, mas o que? Já tinha visto a tapeçaria e a porta também, mas quando? Foi como se eu tivesse tomado um choque ao me lembrar da Armada de Dumbledore e a Sala Precisa! O que ela estava fazendo ali. Porque aparecera? Poderia ter trazido algo para mim?

Parei com as perguntas e me aproximei da porta segurando a maçaneta e girando confiante esperando encontrar do outro lado o que eu realmente precisava, mesmo sabendo que não seria papai e Tonks, mas o que poderia ser?

Relógios.

Muitos relógios.

Eu nunca tinha visto tantos em um mesmo lugar na minha vida.

Não acho que a sala estivesse fazendo uma brincadeira de mau gosto comigo por conta do meu sentimento de que se tivesse chegado mais cedo teria salvo papai e Tonks. Seria algo muito cruel e Hogwarts não faria uma coisa dessas. Mas não conseguia entender o motivo dela trazer tantos relógios para mim.

Andei pelo lugar prestando atenção em cada modelo para tentar entender qual era intenção da Sala Precisa. Havia desde grandes peças com pêndulos gigantes até pequenos de bolso. Relógios de carrilhão, ampulhetas e de pulso. Alguns tinham calendários acoplados e outros cucos e sininhos como alarme e todos mostravam precisamente a mesma hora.

Só um artefato no meio da sala era único. Ele estava protegido por baixo de uma cúpula. Fiquei com medo que estivesse preso, mas coloquei minhas mãos no vidro e o retirei com facilidade deixando no chão ao lado do pedestal onde estava o objeto.

Peguei com cuidado, pois a peça toda na cor dourada parecia ser muito delicada. Pelo brilho, suspeitei que pudesse ser ao menos foliada a ouro. Havia dois aros soltos e uma chapinha no meio com uma pequena ampulheta incrustada. Uma corrente também dourada pendia do artefato. Notei umas inscrições nos aros circulares:

"Eu marco as horas, todas elas. Nem tenho que correr mais que o sol. Meu valor está avaliado por aquilo que você fizer".

- Será isso o que Hogwarts queria que eu encontrasse? Mas o que exatamente era aquilo?

Segurei a corrente com uma das mãos e o pino que prendia os dois aros com a outra e o girei fazendo a plaquinha com a ampulheta incrustada girar.

Senti uma sensação estranha e fiquei um pouco tonta. Quando olhei os relógios novamente notei que todos marcavam uma hora a menos. Não precisei raciocinar muito para perceber o que havia acontecido. Eu voltara no tempo. Era isso que Hogwarts tinha para mim! O tempo! Mas será que eu conseguiria voltar para onde precisava?

Segurei o pino de novo e girei várias vezes. Tentei olhar a minha volta, mas tudo estava fora de foco. Quando parou percebi que a noite estava de volta. Ouvi barulho de passos e saí da Sala Precisa com o objeto na mão.

Da varanda na ponta do corredor vi muitos alunos caminhando em direção do castelo. Era a noite anterior, quando chegamos. Eu estava entre aqueles alunos! Instintivamente me sentei no chão. Se eu olhasse lá de baixo e me visse ali na varanda tomaria um susto achando que havia uma sósia minha em Hogwarts.

No entanto aquela era a oportunidade que eu esperara. Literalmente eu tinha todo o tempo do mundo nas mãos. Mas a batalha havia sido em Maio, eu estava no dia primeiro de Setembro. Apenas alguns giros não iriam bastar. Eu ia machucar os dedos antes de chegar onde eu queria. Teria que ser com mágica.

Coloquei a corrente que prendia o objeto em volta do meu pescoço ficando com as duas mãos livres. Tirei a varinha do bolso interno da saia.

- Torqueo - pronunciei apontando para o pequeno pino observando a plaquinha e os aros começarem a girar rapidamente.

Fechei os olhos enquanto tudo saía de foco para não ficar tonta de novo. Quando imaginei ser o suficiente afastei a varinha do artefato e me ajoelhei na varanda. O pátio estava escuro e silencioso com alguns tijolos espalhados pelo chão, mas notei que parte da escola estava reconstruída. Eu devia estar perto do dia da batalha, mas ainda não chegara lá.

Passei a girar o pino com a mão para controlar o quanto eu estava voltando. Foram minutos angustiantes porque por mais que eu girasse o cenário pouco mudava. Comecei a ficar com medo de ficar presa no passado sem conseguir alcançar meu objetivo. Aflita peguei a varinha de novo e coloquei a plaquinha e os aros para girar.

Dessa vez, mesmo ficando um pouco tonta, mantive os olhos abertos para conseguir ver o cenário mudando. Os dias se sucederam até aparecer uma noite menos escura do que as outras. Imediatamente interrompi o feitiço e tive que abaixar e me proteger. Estava no meio da Batalha de Hogwarts.

Senti o coração quase parar de bater antes de sair correndo. O tempo que eu havia ganho era precioso demais para ser desperdiçado. Escondi o objeto embaixo das minhas vestes e saí em busca de papai e Tonks. Tinha urgência em encontrar os dois vivos e mantê-los assim.

Com a varinha em punho corri atenta a qualquer sinal dos dois. Passei desesperada por muitas pessoas, mas atenta o suficiente para desviar qualquer feitiço que viesse em mina direção e paralisei quando a avistei.

Não muito longe de mim estavam os cabelos rosa pink que eu tanto amava e tanto senti falta nos últimos meses.

***
E agora? Será que Lupin e Tonks serão salvos? O que vocês acham? Comentem! Votem! Continuem lendo para saber!

Livro 5 - O Último InimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora